O Adolescente E A Sexualidade
Exames: O Adolescente E A Sexualidade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 20101981 • 7/4/2014 • 2.357 Palavras (10 Páginas) • 410 Visualizações
O Adolescente e a Sexualidade
Amparo Caridade
"Crise" no adolescente e no mundo.
A maior parte dos teóricos descreve a adolescência como sendo uma etapa de crise. Crise de identidade, crise relacional, familiar, crise de auto-estima, de falta de sentido para a vida. A referência maior é a de que esse é um estágio atravessado por conflitos, dúvidas, inquietações e mal-estar. Concebo a crise, como algo que é próprio do sujeito, quando nele se operam intensas transformações. Nesse sentido, a crise da adolescência é expressiva do crescimento que nela se dá; crescimento marcado por desorganizações físicas, hormonais, psíquicas, emocionais e por conseqüentes reorganizações. Toda crise nos coloca diante de emergências, enfrentamentos, superações, desafios. Em culturas orientais, o termo significa `oportunidade e perigo', veiculando idéias de promessas e receios, que são típicos do que é vivido em um estado emergencial de mudança.
Há crises que ocorrem mais proximamente ao sujeito, outras parecem estar na ordem das coisas e do mundo, ou seja, aparentemente elas se dão na externalidade do indivíduo. Na realidade, não se pode separar o sujeito da cultura. Há uma profunda interação entre ambos. Mundo e condição humana completam-se, no entender de H.Arendt, 1993. A cultura impõe suas marcas inclusive nos corpos dos sujeitos. O corpo "é um agente da cultura, ]...] um texto da cultura" (Bordo, 1997); é "sede de signos sociais" (Rodrigues, 1986). Por mais que os teóricos digam do adolescente como um ser em crise, teremos sempre de compreendê-lo, situando-o- em seu tempo, em sua cultura.
A sexualidade vivida pelo adolescente ganha a feição do contexto cultural em que ele se insere. A sexualidade é plasmada pela linguagem e pelos valores vigentes nessa época. Não há uma determinação biológica que mantenha um definitivo acerca do sexual. Nada está definitivamente estabelecido. Costa diz: "Tudo está permanentemente sujeito a revisão, pois cada sociedade inventa a sexualidade que pode inventar"(in Catonné, 1994). Levanto aqui duas interrogações que tentarei explicitar no decorrer do texto.
1. Que tipo de cultura está subsidiando o ser adolescente na contemporaneidade?
2. Que tipo de sexualidade ele está inventando para situar-se em sua época?
Em Sociedade do Espetáculo, Guy Debord (1997) analisa o tipo de sociedade em que vivemos: uma sociedade em que a vida é pobre e na qual os indivíduos são obrigados a contemplar e consumir passivamente imagens de tudo o que lhes falta na vida real. A vida se torna assim uma imensa acumulação de espetáculos. Na medida em que assiste passivamente aos espetáculos, o indivíduo aliena-se, não vive, consome imagens e ilusão ... "Quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo" (idem). A mídia tornou-se imperiosa e impositiva pelo gigantismo da imagem. Já não é preciso ler, pensar, refletir, basta ver.
Isso é por excelência alienante, porque nos faz deslizar da condição de seres pensantes a meros expectadores. A lógica da Sociedade do Espetáculo é: "O que aparece é bom, o que é bom aparece". Disso, Debord deduz que "o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana - isto é, social - como simples aparência". O autor lamenta que tenhamos deslizado historicamente do SER para o TER e agora, simplesmente para o PARECER. É nesse contexto do aparente, do revelado, do espetacular, que a sexualidade é mostrada e vendida também como mercadoria, compondo nossa cesta básica de ilusões.
É no contexto da Cultura do Narcisismo, fragmentada em mínimos eus, terra do "salve-se quem puder", que o adolescente desenvolve sua sexualidade. Imerso nessa realidade, a ela pode responder, fazendo uso do outro como mero instrumento de satisfação narcísica, objeto descartável após a cota de prazer desejada. O sentido da alteridade vai perdendo força na medida em que a atenção é mantida em relação ao corpo. O afeto, menos valorizado que o desempenho, vai sendo posto à margem. É desse contexto narcísico de satisfação, que emergem a intolerância, a violência, a desconfiança para com o outro. Sem dúvida, esse não é um contexto saudável, psíquica e socialmente, para estréias amorosas e sexuais dos jovens.
O adolescente contemporâneo vive sua sexualidade em meio às referências que invadem seu imaginário. Ele é ator integrante do espetacular de nossa cultura. Como tal, é continuamente convocado a consumir imagens mais que a refletir, a elaborar, ou a pensar. Com isso é empurrado a permanecer na periferia de si mesmo, e nesse embotamento reflexivo, é difícil construir projetos pessoais, que lhe possibilitem reconhecer-se como alguém de valor. Sem projetos, fica sem motivo para valorizar a si mesmo e a vida. Na auto-desvalorização, ele banaliza também o outro. A prática clínica vem identificando um incremento dessa banalização do eu e da vida, através dos sintomas que trata. É cada vez maior a presença de depressões, fobias, pânico e tentativas de suicídio, que vêm apresentando-se em camadas cada vez mais jovens da população. Ao meu ver, isso é expressivo de um mal estar, de uma auto-desvalorização, de uma menos valia e da falta de sentido e de valor para a vida. Não é de admirar a frieza com que brincam de Roleta Russa, ou fazem sexo sem preservativo. Não é apenas a vida em seu fio trágico, é a vida em seu pouco valer.
Em "O Mal-Estar da Pós-Modernidade", Bauman,1998, diz: "Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais". Embora Bauman não tenha referido-se à questão das DSTs ou da aids, sua reflexão nos faz pensar, que o homem pós-moderno busca sua provisão de prazer e felicidade num contexto de mínima segurança. A aids é a marca da insegurança que ronda a ração de prazer que nos é possível conquistar. Esse é o contexto pós-moderno da vivência do sexo: liberdade e insegurança.
A sexualidade do adolescente
Descobrir a vida é tarefa muito excitante. Sou tentada a recorrer à imagem de um beija-flor, para dizer que o adolescente é alguém que experimenta sua sexualidade na rapidez, na leveza e na diversidade. Tenho
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