O Monge E O Executivo

Quando Gil Vicente põe no seu teatro um problema,esse problema é exterior às personagens, e supõe, não um drama num sujeito, mas um jogo de tipos. Assim, o problema do destino eterno, posto nos Autos das barcas: os tipos permanecem aí fiéis a si próprios, e as respostas dos estímulos, sempre iguais, mesmo perante o rio da morteque os detém como uma barreira pertubando a regularidade e a sequ~encia do seu andamento. Então se vê como a sua condição de tipos os tornainsuceptíveis de uma reação individual, não estereotipada, variável, não habitual, em face de uma situação nova.Para eles o problema que essa situação põe nem sequer existe; porque só pretendem subsistir conservando mesmo para lá da morte a sua maneira de ser típica: o Fidalgo quer levar a cadeira, o Judeu o bode, o Frade a manceba, etc.Nenhum deles pensa deixar o que é. O arrependimento, que é, no fundo, uma crise e uma mutação da ppersonalidade, não existe aqui, onde apenas aflora a decepção de quem vê os cálculos errados.”

É uma obra importante para ler antes do estudo de qualquer peça de Gil Vicente

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