O Papel Do Engenheiro Na Sociedade
Trabalho Universitário: O Papel Do Engenheiro Na Sociedade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: LuLira • 1/6/2014 • 1.103 Palavras (5 Páginas) • 595 Visualizações
Introdução
Este trabalho, escrito sob a forma de um diálogo com estudantes de
engenharia, procura dar algumas pistas para a compreensão da ideologia
dominante nos cursos que fazem e das tentativas de reversão elaboradas
por pesquisadores contra-hegemônicos1.
Seu fio condutor é a idéia de que a maioria dos engenheiros2
contribui para perpetuar a sociedade de classes, ainda que não tenha
consciência disso. E de que as ideologias contra-hegemômicas que, a partir
da explicitação da existência de classes antagônicas, é possível apontar
caminhos para uma atuação alternativa dos engenheiros.
O trabalho está estruturado como segue. Primeiramente, delineamos
o que parece ser o papel do engenheiro na sociedade de classes e
apontamos os caminhos que poderiam levar à sua “desnaturalização”. Isto
é, a um entendimento de que o capitalismo não é a “ordem natural das
coisas” e, sim, um modo de produção histórica e socialmente determinado.
Em seguida, ilustramos uma possibilidade de que um outro papel seja
assumido pelos engenheiros a partir de um caso ocorrido numa empresa
britânica (COOLEY, 1987). Para finalizar, apresentamos o conceito
r e v i s t a t e c n o l o g i a e s o c i e d a d e
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de adequação sócio-técnica (AST), que nos parece um instrumento
adequado para possibilitar aos engenheiros uma participação na luta dos
trabalhadores em prol da autogestão no seio da fábrica, e para realizar
pesquisas comprometidas com a construção de um estilo alternativo de
desenvolvimento em sua área de atuação.
O papel do engenheiro numa sociedade de
classes
Para iniciar, perguntamos por que o engenheiro, apesar de viver da venda
da sua força de trabalho, e de não ser proprietário dos meios de produção,
tende a assumir um papel de defensor dos interesses do capital e não do
trabalho?
Diversos autores tentaram responder essa pergunta. Kawamura,
por exemplo, adotando a matriz teórica gramsciana, analisa o papel do
engenheiro na infraestrutura econômico-produtiva da sociedade, enquanto
classe auxiliar dos detentores dos meios de produção. Como seria de
esperar, tem crescido ao longo do tempo a necessidade de capacitar os
engenheiros para o exercício dessa autoridade que garante sua posição
de “administrador do capital” e de “controlador da força de trabalho”
(1981). Em conseqüência, teríamos hoje chegado a uma etapa em que a
acumulação flexível do capital estaria forçando a educação tecnológica a
um balanço entre a dimensão técnica e a dimensão comportamental, aquela
que fornece as habilidades atitudinais necessárias ao exercício daquela
autoridade, francamente enviesado para esta última. Segundo Shiroma
(1998, p.51) nunca foi tão importante na formação e nos requisitos de
“empregabilidade” do engenheiro habilidades (como comunicação, relações
interpessoais, solução de problemas e processos organizacionais) exigidas
pela nova forma – flexível - de organização e gestão do trabalho.
No plano superestrutural, ela atribui ao engenheiro um papel essencial
à perpetuação da ideologia dominante, contribuindo para a “naturalização”
e a reprodução da sociedade de classes. O capitalismo é apresentado no
âmbito dessa ideologia como um modo de produção a-histórico, eterno,
como se a sociedade capitalista não tivesse seu processo de surgimento e
expansão histórica e socialmente referenciados.
o p a p e l d o e n g e n h e i r o . . .
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David Noble (2000), um autor que nos parece central para analisar o
tema proposto, vai mais longe. Depois de afirmar que a ideologia dominante
dissimula as relações sociais nela contidas, observa que a “ideologia do
progresso” promovida pelos integrantes da classe dominante (sejam eles os
donos dos meios de produção, jornalistas, professores universitários, etc.)
é um dos veículos para perpetuação do controle da sociedade pelos que
detêm o poder. Essa ideologia serve também para dificultar uma avaliação
crítica daqueles que trabalham com a tecnologia acerca de seu caráter de
classe.
Os engenheiros internalizam os valores da sociedade de classes,
em geral da pequena burguesia, que estão subjacentes ao seu processo
de formação e à sua profissão: controle, individualismo, dominação dos
trabalhadores, produção voltada (à) reprodução do capital. Além dos
valores da classe dominante, os engenheiros recebem nas universidades e
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