O Poder Global E A Nova Geopolitica
Exames: O Poder Global E A Nova Geopolitica. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: uiltonasilva • 26/4/2014 • 8.577 Palavras (35 Páginas) • 391 Visualizações
O poder global e a nova
geopolítica das nações1
1
A análise da conjuntura internacional contemporânea e o estudo das
transformações mundiais da segunda metade do século XX nos levaram
a uma longa viagem no tempo, até as origens do “sistema mundial
moderno”2, com o objetivo de compreender suas tendências de longo
prazo. Partimos das “guerras de conquista” (Contamine, 1992) e da
“revolução comercial” (Pirenne, 1982; Lopez, 1976; Spufford, 2002; Le
Goff, 2004) que ocorrem na Europa nos séculos XII e XIII para chegar
a “transição para o capitalismo”, de Karl Marx (1988: Cap. 24), e ao
“longo século
XVI ” (1450-1650) de Fernand Braudel (1987b), Immanuel
Wallerstein (1974) e Giovanni Arrighi (1994), quando se formam os Estados
e as economias nacionais
e se inicia a vitoriosa expansão mundial
dos europeus (Abernethy, 2000; Ferro, 1994). Como é sabido, na Europa
– ao contrário dos impérios asiáticos –, a desintegração
do Império
Romano e, depois, do Império de Carlos Magno provocou uma fragmentação
do poder territorial e um desaparecimento
quase completo
da moeda e da economia de mercado entre os séculos IX e XI (Elias,
1993). Mas a desintegração política e a atrofia econômica se reverteram
nos séculos XII e XIII (Abu-Lughod, 1993), quando começaram
os processos
de centralização do poder territorial e de mercantilização
da economia
(Braudel, 1996b), que culminaram com a formação dos
1 Fuente: Fiori (2007b: 13-40). Agradeço a leitura atenta deste texto e os comentários
rigorosos de Jorge Otávio Fiori, Maria da Conceição Tavares, Franklin
Serrano, Carlos Medeiros, Paulo Eduardo Arantes, Claudia Vater, Andrés Ferrari
e Eduardo Crespo. Sempre que possível, procurei incorporar suas sugestões, mas
em alguns pontos, se mantiveram nossas divergências. E também aos meus alunos
de pós-graduação do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), com os quais debato essas idéias há cerca de vinte anos.
2 Essa expressão ficou clássica com a obra de Immanuel Wallerstein (1974). Neste
prefácio, entretanto, ela é utilizada para referir-se apenas ao período cronológico
de que fala Wallerstein, entre os séculos XVI e XXI, sem ter as mesmas conotações
teóricas do autor.
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CyE
Año I
Nº 2
Primer
Semestre
2009
O Poder global e a nova geo pol ítica das nações
“Estados-economias nacionais” (Fiori, 2004) europeus3. Essa “pré-história”
do “sistema mundial moderno”
oferece um ponto de observação
privilegiado das relações iniciais
entre o poder, o dinheiro e a riqueza
que se tornaram a especificidade e a grande força propulsora do “milagre
europeu”. O estudo dessa “pré-história”, entretanto, nos levou a algumas
conclusões
que diferem – às vezes – dos autores de onde partimos.
Em sua história da formação da “economia-mundo européia”,
Braudel estabelece uma distinção fundamental entre os conceitos
de “economia de mercado” e de “capitalismo” (Braudel, 1987a;
1996b: 403). Mais do que isso, ele defende a tese de que o capitalismo é
o “antimercado”, porque o mercado é o lugar das trocas e dos ganhos
“normais” e o capitalismo, o lugar da acumulação dos “grandes lucros”
e dos “grandes predadores”4. Mas, apesar disso, em sua história
da “economia-mundo
mediterrânea” Braudel privilegia a evolução das
trocas individuais e dos mercados e transmite a idéia de uma transição
gradual – dentro do “jogo das trocas” – para o mundo das “altas engrenagens”
do capital
e do capitalismo. Marx, por sua vez, ao falar da
“acumulação primitiva”,
salienta a importância do “poder do Estado e
da força concentrada e organizada da sociedade para acelerar o processo
de transformação do regime feudal de produção, no regime capitalista”
(Marx, 1988). Mas, ao mesmo tempo, ele afirma que a “biografia
moderna do capital
começa com o comércio e o mercado mundiais”. E
isso se explica porque, de fato, a “violência do poder” aparece em seu
raciocínio
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