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O Que Realmente Importa

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Por:   •  8/8/2013  •  724 Palavras (3 Páginas)  •  620 Visualizações

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Trecho de O que Realmente Importa?, de Anderson Cavalcante

Com que olhar você pode ler este livro?

Todos nós temos um jeito particular de enxergar o mundo. Nossas crenças e experiências influenciam nossa percepção, toda vez que olhamos para algo ou alguém. Por isso, é muito comum pessoas diferentes terem interpretações completamente diversas sobre a mesma imagem ou situação.

Outro dia fiz uma descoberta interessante enquanto lia sobre a vida de São Boaventura, um bispo do século XII que, após ter sido curado por São Francisco de Assis, a quem admiro muito, ingressou na ordem franciscana e passou a se dedicar a fazer o bem. São Boaventura formulou pensamentos extraordinários sobre a natureza humana. Um deles nunca foi tão atual.

Para ele, existem três formas de olhar o mundo, três olhares diferentes que definem o alcance de nossa percepção. O primeiro olhar é o olhar da carne, um olho físico, estrutural, capaz de enxergar a matéria pura e simplesmente. É um olhar igual para todo mundo, mas limitado, pois enxerga apenas o aparente: é o "ver por ver".

O segundo olhar é o olhar da razão, mais refinado do que o olho da carne, pois permite que, ao olharmos para alguém ou algo, sejamos capazes de analisar racionalmente essa visão, pensar sobre ela. Esse é o olho da ciência, para o qual tudo precisa ser provado: é o "ver para crer".

E há o terceiro olhar, que é o olhar da contemplação. Esse é um olhar todo especial, o olhar que, segundo São Boaventura, está em comunhão com a grandeza da natureza: é o "ver além". Quando olho para alguém ou algo com esse olhar, não estou me detendo apenas no que é nem em como funciona. Quando olho com esse olhar, estou sentindo.

Minha percepção me traz uma clareza maior e sentimentos que me tocam de forma profunda, porque não vejo apenas, entro em comunhão com aquilo e sinto também. Quando olho para você com esse olhar, você é muito mais do que eu posso perceber, enxergar ou entender; você é o que eu posso sentir.

Pensando sobre isso, lembrei-me de uma conversa que tive com o padre Fábio de Melo. Ele me falava de outro conceito que tem tudo a ver com essa ideia do olhar da contemplação. Falávamos de misericórdia, e ele me explicava que esse é um conceito teológico que tem um significado extremamente profundo. Misericórdia significa "coração em que ainda cabe outro". Um coração que ainda não está cheio e, portanto, comporta a possibilidade de sentir pelo outro.

Reflita um pouco e perceba que a misericórdia acontece no seu interior toda vez que você é capaz de "ser o outro", de se envolver no que o outro está sentindo ou pensando, sem preconceitos ou julgamentos prévios. O exercício da misericórdia, portanto, está ao alcance de todos nós, basta que se tenha a disposição de "ver além", de estar de coração aberto para receber o outro dentro da gente, com suas alegrias e dores, acertos e erros. Mas só contempla aquele que saiu de si, que permitiu que a realidade diante de seus olhos lhe invadisse a alma.

Certas coisas vemos melhor com os olhos fechados. Aqui vai meu pedido. Espero que no decorrer desta leitura você use o olhar da contemplação. Deixe de lado seus pressupostos e preconceitos. Mergulhe na leitura desarmado

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