Oliveira Najmam
Monografias: Oliveira Najmam. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: manele • 25/3/2014 • 4.893 Palavras (20 Páginas) • 247 Visualizações
OS PRIMEIROS PASSOS DO SAMBA COM A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA: DA CASA EDISON À DIVERSIFICAÇÃO DAS GRAVADORAS
THE FIRST STEPS OF SAMBA WITH THE PHONOGRAPHIC INDUSTRY: FROM CASA EDISON TO THE DIVERSIFICATION OF RECORD
Gabriel Valladares GIESTA •
Resumo: O presente artigo parte de um estudo de caso sobre o samba e as gravadoras nas primeiras décadas do século XX no Rio de Janeiro, tendo como objetivo refletir sobre o conceito de indústria cultural. Neste caso, tem como foco a relação entre indústria cultural e cultura popular, principalmente no que tange à indústria fonográfica. Sendo assim, busca-se trabalhar uma construção teórica e conceitual no fazer historiográfico a partir do diálogo com o objeto de pesquisa em questão, neste caso, os sambas gravados no Rio de Janeiro das décadas de 1910, 1920 e 1930. Palavras-chave: Indústria fonográfica – Indústria cultural – Samba – Cultura popular.
Abstract: This article presents a case study on Samba and record labels in the first decades of the Twentieth Century at Rio de Janeiro, aiming to discuss the concept of culture industry. In this case, this article focuses on the relation between the culture industry and popular culture, mainly concerning the phonographic industry. Thus, it seeks out to work on a theoretical and conceptual construction in the historiographical craft dialoguing with the research object in question, in this case, the samba songs recorded at Rio de Janeiro in the 1910s, 1920s and 1930s. Keywords: Phonographic industry – Culture industry – Samba – Popular culture.
Parte da historiografia tradicional sobre a Primeira República tem resumido o
período como um momento de “embranquecimento” do Brasil, quando as manifestações
culturais com identidades associadas a matrizes e referências afro-brasileiras teriam sido
perseguidas e deletadas pelas autoridades. No entanto, pesquisas atuais demonstram que
as políticas e posturas que perseguiram estas manifestações não foram totalmente
hegemônicas, mesmo atuando em uma relação de poder desigual. Da mesma forma,
também não foram capazes de impedir que músicas e expressões culturais com marcas
afro-brasileiras circulassem na sociedade carioca de então, sendo afirmadas, defendidas
• Mestre em História – Doutorando – Programa de Pós-graduação em História Comparada – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – UFRJ – Universidade Federal Fluminense, Largo de São Francisco 1, CEP: 20051-070, Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Professor de História – Secretaria de Estado de Educação – RJ e Secretaria Municipal de Educação e Cultura – Prefeitura de Itaboraí. E-mail: gabrielgiesta@msn.com .
Página | 36 Revista História e Cultura, Franca-SP, v.2, n.2, p.35-54, 2013. ISSN: 2238-6270.
e transformando-se, em diálogo com diferentes culturas e grupos da época (GOMES e
ABREU, 2009).
A nascente indústria fonográfica do país - representada principalmente pela Casa
Edison, nos primeiros anos da República, e por outras gravadoras, com o passar do
tempo - foi um importante meio pelo qual músicos populares puderam negociar e
encontrar espaço de difusão para suas canções, dentre elas o samba, com todas as
características das expressões culturais citadas acima. Diversas foram as músicas
registradas e veiculadas por esta indústria fonográfica, muitas delas tratando de temas
relativos a afro-religiosidades, culturas e identidades negras.
A presença do samba (e da música popular em geral) nas gravadoras surge,
então, como espaço privilegiado para analisarmos os conflitos em torno da cultura
popular. Aqui, parte-se do princípio conceitual de Hall sobre Hegemonia Cultural.
Segundo o autor, esta “nunca é uma questão de vitória ou dominação pura (...); sempre
tem a ver com a mudança no equilíbrio de poder nas relações da cultura; trata-se sempre
de mudar as disposições e configurações do poder cultural e não se retirar dele” (HALL,
2006, p. 320). Assim sendo, a indústria fonográfica configurou-se enquanto veículo de
expressão da música popular, no qual identidades culturais estiveram em disputa,
estando o samba inserido nestes conflitos em torno da cultura.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar o fato de que, ao se tratar de indústria
fonográfica, não se está lidando com a simples reprodução das canções assim como elas
eram produzidas pelos músicos populares em momentos de espontaneidade. Ou seja, as
gravadoras foram (e são) um meio de reprodução e divulgação das canções, em que as
músicas passam por um processo de seleção, negociação e adaptação para então serem
comercializadas. Muitos indivíduos inseridos no contexto histórico aqui trabalhado já
apontavam para esta questão. Repórteres do próprio Jornal do Brasil, em matéria sobre
o carnaval carioca, datada de 4 de fevereiro de 1932, demonstram suas percepções em
relação à diferença entre a música gravada e a realizada na prática social: “O público
que conhece a música do ‘malandro’ pelo disco ainda não calculou talvez o sabor que
tem a melodia na boca do próprio ‘malandro’. O efeito é muito maior e a sugestão é
muito intensa.” (apud CABRAL, 2011, p. 72).
Um ano depois, o jornalista Francisco
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