Peça da Seca
Por: daniel_calibam • 6/4/2016 • Trabalho acadêmico • 862 Palavras (4 Páginas) • 247 Visualizações
CENA I
(Entra Sereno, rapaz novo,porém, já marcado pelo tempo. Ele olha sem pressa para todos os lados, constata a situação calamitosa em que o lugar está passando devido a seca. Se ajoelha, pega um pouco do pó da estrada com as mãos, olha pro céu e diz:)
SERENO – Pruque isso meu Pai? Que diacho de vida é essa que o Sinhô ta fazendo nóis passá? Osertão esturricou com a seca. Não tem mais capim no chão pro gado. Os açude tudo secou. Num se planta mais nada. Num se cresce mais nada. Até os mandacaru tão xoxinho... Será que a gente fez arguma coisa que ofendeu o Sinhô? Eu num acredito não meu Deus. A gente faz tudo tão certinho... Vai a missa, faz as procissão pra são José, procura viver tudinho ali, dentro dos conforme. Não! Num é culpa nossa não. Num é culpa minha não... A culpa é dessa seca mardita. Dessa seca que só pode ter vindo por obra e graça do cão dos inferno! È... O Sinhô me ardesculpa de tá falano assim, mas é que tem horas que um homem perde o rumo, a razão... Rosinha ta lá em casa esperando que eu leve arguma cosia. Os menino tão tudo cum fome e eu meu Pai, eu num sei o que fazer!! (Para e fica algum tempo olhando pro chão, em desespero contido. Então se levanta decidido.) Eu num posso ficar aqui me lamentando enquanto minha família passa necessidade. Vou fazer o que já devia ter feito a muito tempo! (Sai de cena decidido.)
CENA II
(Entra Rosinha, acompanhada de dois meninos menores, um casal, ela está em adiantado estado de gravidez. Está lavando roupa, os meninos a ajudam.)
ROSINHA – Que moleza é essa Bento? Tu ainda nem torceu a roupa. Olha pra sua irmã, já ta pondo pra secar.
BENTO – Ah mãe, eu já disse que num sei fazer essas coisas. Eu queria agora era tá trabalhando junto com meu pai, na lida.
ZEFINHA – Deixe de bestage Bento. Tu bem sabe que num pode ta na lida. É muito novo. E além do mais nosso pai num ta mais aqui.
ROSINHA – É verdade minha filha. Ele ta bem longe... (Fica pensativa)
BENTO – Ta vendo o que é que ocê foi fazer Zefinha? Num fala do pai na frente da mãe que ela fica assim ó, toda jururu.
ZEFINHA – Ô mãe, me desculpa. Num fica assim não. O pai deve de ta bem. Deve ta trabalhando lá em São Paulo, ganhando muito dinheiro e breve, breve ta de vorta.
ROSINHA – Se Deus quiser, minha filha. Se Deus quiser...
BENTO – Ele há de querer mãe. Ta pra existir um cabra macho melhor que o meu pai! Ele num tem medo de trabalho não. O que aparecer ele pega. Foi assim que ele me ensinou.
ZEFINHA – E além do mais ele já ta vortando. Tem oito meses que ele foi embora naquele pau-de-arara. Já deve ter dado tempo dele ter se arrumado por lá e agora já ta se preparando pra vortar.
BENTO – É! É isso mesmo.
ROSINHA – Mas o que mais me deixa aflita, é essa falta de notícia... Se ele ao menos mandasse uma carta, um bilhete, qualquer coisa... As vezes eu penso que pode ter acontecido alguma tragédia com o pai de vocês.
ZEFINHA – Virgem Maria, mãe! O que é isso? Como a senhora pode pensar uma coisa dessas.
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