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Reflexões Sobre O Cotidiano Na Sala De Aula

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Por:   •  7/10/2014  •  1.990 Palavras (8 Páginas)  •  433 Visualizações

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Administrar o cotidiano na sala de aula tornou-se um grande problema para

professores e alunos. Indisciplina, dispersão, inconveniência, confusões, dificuldades de todo tipo perturbam a realização das propostas ou das tarefas pedagógicas. O sentimento é de perda de tempo, caos espacial e descuido com objetos escolares, falta de sentido das tarefas e relações entre pessoas marcadas pela indiferença ou pela negatividade. O sentimento é de incompetência, insuficiência e desânimo. Penso que uma das razões para isso é que ainda estamos marcados pela imagem de uma escola ideal, sonho de realização de todos nós, em que alunos, dóceis e gratos aos seus professores, vão lá para aprender a serem felizes. Graças a isso, os professores podem dedicar-se preferencialmente ao ensino das matérias e à avaliação do que foi aprendido pelos alunos. Pensamos que tudo isso foi talvez possível um dia e ainda se realiza hoje em algumas escolas. Porém, para tanto, o preço a ser pago pelos alunos é o de conviver e aprender na escola de um modo condicionado: se não obedecem às regras, se não aprendem o mínimo, se não aceitam a cultura da escola, então são excluídos e reprovados.

E se a escola tornar-se incondicional, necessária para todas as crianças? Ou seja, essa imposição é impossível em uma escola compulsória, que se quer para todas as crianças e que não pode mais selecionar e garantir a permanência usando a exclusão e a repetência como estratégias de controle de sua qualidade. No entanto, como garantir o acesso à escola e um percurso nos anos de escolarização básica de modo contínuo e, se possível, significativo? Sabemos que, se o acesso escolar está cada vez mais garantido, o cotidiano em sala de aula mostra o quanto ainda estamos distantes das outras expectativas (percurso até o final, convivência e aprendizagem significativas).

Nossa hipótese é de que dar ao cotidiano na sala de aula o mesmo tratamento disciplinar que temos dado ou devemos dar ao ensino e à aprendizagem de línguas, matemática, ciências e artes pode ser um caminho para a boa realização dessa escola, agora para todos. Para isso, é necessário desenvolvermos competências e habilidades relacionadas às categorias e aos modos de ser do real em sua expressão diária. Por essa razão, pretendemos neste artigo refletir sobre a importância do desenvolvimento de um conjunto de habilidades sobre três pares fundamentais para uma vida cotidiana escolar bem-sucedida: espaço e tempo, objetos e tarefas, bem como nós mesmos e as outras pessoas.

No espaço e no tempo, estão os objetos com os quais realizamos as tarefas escolares e o meio onde convivemos e vivemos, quaisquer que sejam as formas e os sentidos dessas realizações. Para lidar bem com o espaço, temos que desenvolver habilidades, ou seja, coordenar nossas ações de modo significativo e funcionalmente bem-sucedido. Tais ações podem ser as seguintes: guardar, encontrar, devolver, dispor, localizar, esquecer. Onde guardar os objetos (coisas, pensamentos, palavras, desenhos, sentimentos)? Como se organizar no espaço dos cadernos, das carteiras, das mochilas, de nosso corpo e pensamento, de nossa sala de aula ou escola? Onde encontrá-los e devolvê-los depois de usados? Como e por que dispor o espaço de distintas maneiras, direções ou sentidos? Como tratá-lo como “caixas” pequenas ou grandes que contêm os objetos e, ao mesmo tempo, como campo aberto, livre, reversível, infinito e disponível para todas as possibilidades? Como “esquecer” o que está fora do espaço durante um certo acontecimento e ocupar-se, de modo concentrado e paciente, com aquilo que interessa no momento? Como tratar o espaço como o que está entre as coisas e, portanto, como um vazio que as separa e as localiza dentro, fora, perto, distante, em cima, embaixo?

Para lidar bem com o tempo, temos que desenvolver habilidades, hoje mais do que nunca fundamentais: agendar, estimar, antecipar, selecionar ou dar prioridade, lembrar. As ações graças às quais realizamos tarefas duram um tempo e sucedem-se em uma certa ordem, isto é, compõem narrativas. Porém, para sermos bem-sucedidos nesses acontecimentos, temos que reservar, dispor, organizar um tempo para eles. Tempo que necessita ser calculado, querido. Se o espaço é reversível, se nele podemos ir e vir de muitos modos, o tempo é irreversível, expressa um fluxo contínuo, sem volta ou devolução. Como decidir e antecipar coisas que valem a pena? Como não desperdiçar o tempo? Como se organizar e se relacionar com o tempo das máquinas, da cidade, das tarefas com prazo marcado? Se o tempo não volta, como selecionar ou dar prioridade ao que merece ser feito? Como não esquecer, isto é, lembrar, atualizar as coisas que foram feitas ou que devem ser feitas? Como se organizar, respeitando a presença eterna e contínua do tempo, mas dividindo-o como se pudesse ser tratado em termos de hoje, amanhã ou ontem? Como usar o tempo das máquinas (do relógio, por exemplo) ou da natureza para regular nossas ações? Como realizar a vida como projetos, produtos ou bens que, por queremos depois, definem e organizam nosso aqui e agora?

As habilidades relacionadas ao espaço e ao tempo, antes mencionadas, complementam-se indissociavelmente com as habilidades que se referem às tarefas ou às ações que realizamos com objetos. Livro, caderno, lápis, quadro-negro, giz, computador, vídeo, calculadora, jogos, pincel, tinta, bola, mochila, banheiro, cadeira, mesa, sala, pátio são objetos escolares. Com eles praticamos a leitura, a escrita, o desenho, as contas, a pintura, a música, o esporte, lavamos as mãos, bebemos, urinamos, brigamos, rimos, vivemos nossa vida, aprendemos na escola, convivemos com nossos colegas e nos relacionamos com nossos professores. Os objetos são as tecnologias desenvolvidas pela ciência e oferecidas pelas empresas ao mercado educacional. Cuidar, preservar, classificar, recuperar, escolher, utilizar, limpar, abrir, fechar, guardar são habilidades fundamentais, pois presidem as relações entre objetos, tarefas e pessoas. Depois de usados, tornados obsoletos ou insuficientes, o que fazemos com esses objetos? Temos sido pouco reflexivos e irresponsáveis com os recursos e os objetos escolares. Não vemos sentido nas tarefas escolares que realizamos por seu intermédio. A atitude do professor para com os objetos escolares é fundamental, pois ele é uma referência para os alunos. Como ser cuidadoso, habilidoso e gentil com os objetos escolares? Não basta poder usar os objetos ou recursos pedagógicos, é necessário querer e saber usá-los bem. Como reivindicar objetos de melhor qualidade e em quantidade suficiente para a realização das tarefas?

Os objetos escolares são alguns dos meios ou recursos

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