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Resenha Quanto Vale Ou é Por Quilo

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Por:   •  28/9/2014  •  1.316 Palavras (6 Páginas)  •  1.166 Visualizações

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Nesse filme o diretor Sérgio Bianchi, tenta nos mostrar de forma chocante a realidade atual em que os indivíduos de baixo poder aquisitivo se situam na sociedade.

A idéia principal do filme é apontar que a dura realidade que essas pessoas vivem sirva para acordar os que vivem num mundo mágico e que ainda não sabem, ou finjem que não sabem, que ela existe e estará presente cada vez mais na vida deles, e que é impossível não se constranger e tomar uma atitude por menor que seja em relação à essa situação.

Bianchi faz um paralelo com a escravidão de antigamente e a marginalização presente nos dias de hoje e nos mostra que de certa forma, mesmo que a escravidão tenha sido abolida, alguns indivíduos ainda vivem mesmo depois de tantos anos, igual ou pior aquela situação, sendo tratados como mercadorias e não como gente.

O papel das Ongs é questionado e verifica-se que esse terceiro setor pode ser administrado por quem esta mais interessado em administrar uma indústria do que propriamente uma Ong, porem, devido a sua aceitação maior por todos, é mais convincente e mais lucrativo utilizar-se desse nome.

O exagero está presente em grande parte do filme. Isso se explica devido à intenção do autor em chocar o espectador e faze-lo refletir sobre o que ele poderá fazer para que aquilo não chegue naquele ponto. As cenas são repentinamente cortadas para outras para que possamos imaginar como seria certa situação há 200 anos atrás, e traçarmos uma linha de comparação e concluir o que realmente mudou daquele tempo pra cá. Isso acaba atrapalhando a narrativa e consequentemente, dificulta a compreensão do espectador num primeiro momento.

O filme ainda apresenta dois finais, permitindo ao espectador refletir sobre o desfecho da historia em que todos nos estamos vivenciando. Isso poderá confundir o espectador, visto que ficara uma lacuna a qual ele devera escolher o desfecho, pondo-o em conflito se ele realmente vivencia aquela sociedade.

Quanto vale ou é por quilo? é um filme de 2004 do diretor paranaense Sérgio Luís Bianchi, cuja trajetória passa por estudos de cinema em Curitiba e posteriormente em São Paulo, onde se formou na Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1972, tendo sido aluno de grandes nomes do cinema nacional como Paulo Emílio Sales Gomes e Jean Claude-Bernadete.

Em 1979, Bianchi estreou seu primeiro filme longa-metragem comercial: “Maldita Coincidência”. Ganhou vários prêmios nacionais e internacionais de melhor diretor, melhor filme e melhor roteiro em festivais de cinema na Itália, México, Argentina, RJ, PR, SP, Brasília, Gramados e outros. Romance (1988), Causa secreta (1994) e Cronicamente Inviável (1999) foram seus trabalhos mais premiados. Foi ganhador do prêmio de melhor direção no Festival de Gramado e do Grande Prêmio do Festival de Cinema da Cidade do México em 1985 com o filme: Mato eles?

“Quanto Vale ou é por quilo?” é uma livre adaptação do conto “Pai contra mãe” de Machado de Assis, publicado no volume “Relíquias de Casa Velha” em 1906, entremeado com pequenas crônicas de Nireu Cavalcanti sobre a escravidão extraídas dos Autos do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Revela as mazelas e contradições de um país em permanente crise de valores.

O filme faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que formam uma solidariedade de fachada. Trata de duas temporalidades distintas: uma que aborda o século XVIII, trazendo a história de um capitão-do-mato captura uma escrava fugitiva, que está grávida e, após entregá-la ao seu dono, a escrava aborta o filho que espera, assim como várias outras pequenas histórias que transitam pela dinâmica escravista. Um corte cronológico leva o espectador aos dias atuais, onde uma ONG implanta o projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda, que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada e Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver.

Dessa forma o filme desenha um painel de duas épocas aparentemente distintas, mas no fundo, semelhantes na manutenção de uma perversa dinâmica sócio-econômica, embalada pela corrupção impune, pela violência e pela apartação social.

É um trabalho perturbador, “um soco no estômago” que se inicia com a narrativa de Milton Gonçalves sobre os métodos "correcionais" aplicados aos escravos, como se fosse natural torturar um ser humano; como se aquilo fosse justificável. A narração de Milton evoca a narração de Paulo José no premiado curta “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado. Há uma frieza e neutralidade em sua voz que chega a ser assustadora.

“O que vale é ter liberdade para consumir, essa é a verdadeira funcionalidade da democracia”. A frase proferida pelo ator Lázaro Ramos – em “Quanto vale ou é por quilo?”

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