Resenha do Artigo A abordagem etnográfica na investigação científica de Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de. A abordagem etnográfica na investigação científica. In: MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de.; CASTRO, Paula Almeida de. Etnografia e educação: conceitos e usos. p. 49-72.

O estudo ora analisado aborda o trabalho de Carmem Lúcia Guimarães de Mattos originalmente elaborado para o Curso de Etnografia ministrado pela autora na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense em 1990 e posteriormente anexado, como um capítulo do livro: Etnografia e Educação: Conceitos e Usos. Logo, a autora faz uma análise das contribuições da etnografia como uma ferramenta metodológica no campo das pesquisa de natureza qualitativa e aponta que a etnografia se preocupa com uma análise dialética da cultura ao vislumbrar os atores sociais como um ser ativo na construção e reconstrução social, neste sentido, se preocupa em visualizar as relações e interações significativas do grupo pesquisado.

A pesquisadora faz um paralelo entre etnografia e etnologia como ferramenta para pesquisa qualitativa e apresenta inicialmente as convergências e posteriormente as divergências. A convergência da etnografia e etnologia se encontra no interesse comparativo e a ligação histórica de ambos onde a etnografia surge inspirada na etnologia. Contudo, a etnografia é uma ferramenta metodológica da antropologia que descreve outros povos (sua língua, religião, raça, manifestações imateriais etc.), já a etnografia diverge quanto a natureza holística do estudo, pois se preocupa em problematizar mais profundamente a vida dos indivíduos estudados.

Assim sendo, Mattos aponta que a etnografia traz grandes contribuições para as investigações científicas de natureza qualitativa, principalmente para os estudos nas áreas das desigualdades sociais, relações de classes sociais e interações sociais pois se preocupa com a natureza dos significados e significações sociais. Assim, a etnografia é um processo guiado sobretudo pela natureza questionadora do pesquisador, por isso as técnicas e procedimentos não segue um padrão rígido, ou seja, os instrumentos de coleta e análise de dados utilizados em uma pesquisa etnográfica são adaptadas a partir do trabalho de campo da pesquisa.

A autora apresenta, através de uma explicação clara a natureza ativa dos sujeitos na construção social, isto é, o indivíduo, ao interagir com o meio no qual vive o transforma e transforma a si mesmo criando ações sociais existentes apenas naquele meio e válido apenas por aqueles grupos sociais, um “pequeno mundo”. Ao inserir na rotina do grupo social estudado, o pesquisador monitorará e documentará as ações sociais a ponto de reconhecer os valores simbólicos das ações sociais daquele grupo específico, por isso a necessidade de permanecer um longo tempo inserido naquele determinado grupo.

Nesta linha de raciocínio, a interação torna-se uma peça fundamental para a investigação, pois é uma relação recíproca sendo através da interação social que reconhecemos o outro e seus valores, crenças e atitudes que a elas se aplicam. É importante ressaltar a importância de garantir que um determinado fenômeno estudado não seja isolado dos demais fatores correlacionados a ele, em outras palavras, para manter uma pesquisa saudável é necessário estudar o fenômeno social e suas interrelações, daí a importância de uma pesquisa qualitativa com uma abordagem etnográfica.