Subjetividade: O Olhar Da Psicodinâmica Do Trabalho
Artigo: Subjetividade: O Olhar Da Psicodinâmica Do Trabalho. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: almeidajosianee • 26/3/2014 • 2.564 Palavras (11 Páginas) • 329 Visualizações
Trabalho e subjetividade: o olhar da
Psicodinâmica do Trabalho
Selma Lancman1 e Seiji Uchida2
O presente artigo discute alguns aspectos teóricos da relação entre subjetividade e organização
do trabalho. Para tanto, nos pautamos nos principais alicerces teóricos da abordagem
dejouriana: a psicanálise, a hermenêutica e a teoria da ação. Buscamos subsidiar o leitor que
queira se utilizar da clínica do trabalho em suas ações de intervenção e pesquisa a avançar
teoricamente e a se familiarizar com o debate atual desenvolvido pela Psicodinâmica do
Trabalho.
Palavras-chave: Saúde Mental e Trabalho, Subjetividade, Psicodinâmica do Trabalho.
emos como objetivo discutir a importância da subjetividade hoje e o modo como
apreendê-la nas organizações do trabalho a partir de uma abordagem atualmente
conhecida como Psicodinâmica do Trabalho. Isso significa privilegiar uma determinada ótica,
ou seja, aquela que articula sofrimento e saúde no trabalho.
Antes de tratarmos da questão propriamente dita, gostaríamos de contextualizar o
problema sobre o qual estamos nos propondo a refletir.
Taylor (1995), quando propôs a Organização Científica do Trabalho (OCT) e sua
tripla divisão (divisão do modo operatório, divisão entre órgãos de concepção intelectual e
execução e divisão dos homens), aparentemente buscou eliminar a subjetividade do trabalho
por meio do controle dos corpos dos trabalhadores cindidos de suas mentes.
Na realidade, ao observarmos sua concepção de organização como um todo, ele
reafirma a importância da subjetividade. A direção e os planejadores – para produzir e impor
as diretrizes da empresa, sua política, sua estratégia e seus objetivos – necessitam pensar,
decidir, planejar, avaliar, assim por diante. Dejours e Abdoucheli (1994) afirmam que numa
organização hierarquizada do tipo piramidal quanto mais se sobe na estrutura da empresa,
mais se abrem as possibilidades para a expressão e imposição dos desejos de quem ocupa os
postos de chefia. Nesse sentido, somente a alta direção poderia manifestar mais plenamente
os seus anseios, pensamentos e desejos. A subjetividade dos trabalhadores é reafirmada pela
necessidade de seu controle para que aquilo que foi traçado seja rigorosamente cumprido.
Dito de outro modo, sua importância é reconhecida pelo avesso, ou seja, para evitar ao
máximo a possibilidade dos trabalhadores criarem obstáculos e desvios na produção. Logo,
quanto mais se desce na hierarquia da empresa, menor vai ser a possibilidade de expressão de
seus pensamentos e desejos na condução das atividades.
Desde então a subjetividade dos trabalhadores é vista, no mínimo, com desconfiança
enquanto a dos dirigentes é valorizada. Logo, não se trata na realidade de perguntar se a
subjetividade é fundamental ou não hoje, uma vez que ela está sempre presente, mas qual é o
lugar que ocupa e que importância tem no contexto atual.
1 Professora do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina Universidade
de São Paulo.
2 Professor da Escola de Administração de Empresa de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas.
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Trabalho e subjetividade: o olhar da Psicodinâmica do Trabalho
Por exemplo, desde que a ergonomia francesa, na década de 80, fez a distinção entre
o trabalho prescrito e o trabalho real, o modo como os trabalhadores lidam com a distância
entre eles passa a ser uma questão essencial a ser tratada. Dejours desenvolve os conceitos
de inteligência prática e sabedoria prática para dar conta dessa “face oculta do trabalho”
(Dejours, 1993b, p. 47). Falar em inteligência e saber prático vai muito além do saber-fazer
prático, dos conhecimentos informais e de experiências vividas. O que os diferencia é que a
inteligência e a sabedoria prática se enraízam no corpo, é desde a vivência corporal do
trabalho que estas vão sendo gestadas. Implicam também uma prática ardilosa, um modo
astucioso de lidar com os problemas e enigmas do trabalho. Finalmente, são utilizadas em
todas as tarefas e atividades para compreender aquilo que resiste às prescrições e saberes
atuais e para engendrar estratégias criativas, inovadoras e engenhosas.
Com a crise dos anos 70, Harvey defende a tese de que vivemos um momento de
transição do fordismo-keynnesiano (hegemonia do capital industrial) para o da acumulação
flexível do capital:
[a acumulação flexível do capital] é marcada por um confronto direto com a rigidez do
fordismo (...) se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de
trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores
de produção inteiramente novos, novas
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