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Teoria De Jung

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Por:   •  19/3/2015  •  3.688 Palavras (15 Páginas)  •  386 Visualizações

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Carl Gustav Jung foi um dos autores que mais estudou a personalidade humana, interessado e preocupado com as relações do homem com o mundo externo e com a comunicação entre as pessoas. Jung é conhecido como um dos maiores psicólogos do século XX conforme palavras de Hall & Lindzey:

“Durante meio século dedicou-se com grande energia e originalidade de propósito a analisar os processos profundos da personalidade humana. A originalidade e a audácia do pensamento de Jung tem poucos paralelos na historia da ciência atual, nenhum outro homem, pondo de lado Freud, abriu maiores perspectivas naquilo que Jung chamou ’a alma do homem’.” Hall & Lindzey (1973: 131)

Em 1921 Jung trouxe uma contribuição fundamental para o entendimento da tipologia humana, ao escrever um de seus mais importantes trabalhos, o livro “Tipos Psicológicos”, fruto de mais de 20 anos de observação e do exercício da Medicina Psiquiátrica e da Psicologia Prática. Na concepção de Jung,

“Tipo é uma disposição geral que se observa nos indivíduos, caracterizando-os quanto a interesses, referências e habilidades. Por disposição deve-se entender o estado da psique preparada para agir ou reagir numa determinada situação.” Jung (1967: 551). Ainda segundo Jung, “Tipo é um aspecto unilateral do desenvolvimento.” Jung (1971a: 477)

Jung distinguiu duas formas de atitudes/disposição das pessoas em relação ao objeto: a pessoa que prefere focar a sua atenção no mundo externo de fatos e pessoas (extroversão), e/ou no mundo interno de representações e impressões psíquicas (introversão). Cada tipo de disposição representa tão somente uma preferência natural do indivíduo no seu modo de se relacionar com o mundo, semelhante à preferência pelo uso da mão direita ou da mão esquerda.

Para Jung, mostrar disposição significa, “estar disposto para algo determinado, ainda que esse algo seja inconsciente”. Jung (1967: 493)

Enfim, Jung (1967) chamou os tipos gerais de disposição de introvertido e extrovertido e vê diferenças como: “facilmente perceptíveis até por um leigo.... encontráveis em absolutamente todas as camadas da população.”

A distinção que Jung faz entre introvertidos e extrovertidos reside na direção que seus interesses possuem e no movimento da libido, que Jung entende como sendo energia psíquica. Podemos, então, entender extroversão como o enfoque dado ao objeto e introversão como o enfoque dado ao sujeito. Assim, em relação ao tipo introvertido e extrovertido ele revelou: “um encarrega-se da reflexão; o outro, da iniciativa e da ação prática.” Jung (1971b: 47)

Para Jung, “a extroversão e a introversão são duas atitudes naturais, antagônicas entre si, ou movimentos dirigidos, que já foram definidos por Goethe como diástole e diástole. Em sucessão harmônica, deveriam formar o ritmo da vida. Alcançar esse ritmo harmônico supõe uma suprema arte de viver.” Jung (1971b: 51)

Na extroversão, a energia da pessoa flui de maneira natural para o mundo externo de objetos, fatos e pessoas, em que se observa: atenção para a ação, impulsividade (ação antes de pensar), comunicabilidade, sociabilidade e facilidade de expressão oral. Extroversão significa “o fluir da libido de dentro para fora.” Jung (1967:48). O indivíduo extrovertido vai confiante de encontro ao objeto. Esse aspecto favorece sua adaptação às condições externas, normalmente de forma mas fácil do que para o indivíduo introvertido.

Na introversão, o indivíduo direciona a atenção para o seu mundo interno de impressões, emoções e pensamentos. Assim, observa-se uma ação voltada para o interior, hesitabilidade, o pensar antes de agir; postura reservada, retraimento social, retenção das emoções, discrição e facilidade de expressão no campo da escrita. O introvertido ocupa-se dos seus processos internos suscitados pelos fatos externos. Dessa forma o tipo introvertido diferencia-se do extrovertido por sua orientação por fatores subjetivos e não pelo aspecto objetivamente dado. Jung aponta para o fato de que a expressão “fator subjetivo” não deve ter a conotação preconceituosa de algo que foge à realidade.

Segundo Jung nenhum ser humano é exclusivamente introvertido nem extrovertido: “ambas as atitudes existem dentro dele, mas só uma delas foi desenvolvida como função de adaptação; logo podemos supor que a extroversão cochila no fundo do introvertido, como uma larva, e vice -versa.” Jung (1971b: 48)

A respeito da introversão e extroversão, Silveira apontou:

“não só o homem comum pode ser enquadrado numa dessas duas atitudes típicas. Igualmente os filósofos, através de suas concepções do mundo revelam seus tipos psicológicos, bem como os artistas, através de suas interpretações da vida. Jung se intrigava que os mesmos fenômenos psíquicos fossem vistos e compreendidos tão diferentemente por homens de ciência, cada um de seu lado, honestamente convencido de haver descoberto a verdade única.” Silveira (1988: 54)

Jung teve divergências com Adler e Freud, a respeito dos pontos de vistas em que eles divergiam. Para Jung, os pontos de vistas distintos eram resultante do Tipo Psicológico distinto de cada um. Segundo Silveira, “... acontece que cada psicólogo vê a vida psíquica através de seu tipo psicológico. Freud na qualidade de extrovertido, dando prevalência ao objeto. Adler como introvertido, valorizando sobretudo o sujeito.” Silveira (1988: 54)

A análise de tipos de atitudes foi abordada por outros pesquisadores, demonstrando que Jung não estava isolado na idéia dos Tipos Psicológicos. Assim ele anotou:

“Wiliam James já havia notado a existência desses dois tipos entre os pensadores. Classificara-os em “tender-minded” e “tough-minded”. Oswald também propôs para os grandes sábios uma distinção análoga: o tipo clássico e o tipo romântico. Escolhi esses dois nomes entre muitos outros só para mostrar que não me encontro isolado nesta minha idéia dos tipos. Provei, com minhas pesquisas históricas, que um grande número de importantes questões e conflitos na história do espírito repousam na oposição desses dois tipos”. Jung (1971b: 46)

Na visão de Jung, o Tipo Psicológico de um indivíduo é determinado pela introversão ou extroversão, e por quatro funções conscientes que o ego habitualmente emprega, as funções psíquicas.

As funções psíquicas

Para explicar as diferenças dos Tipos Psicológicos, Jung lançou mão do conceito de Função Psíquica ou Função Psicológica. Esta é uma atividade da psique que apresenta uma consistência interna, sendo uma atribuição congênita, que estabelece habilidades, aptidões e tendências no relacionamento do indivíduo com o mundo e consigo mesmo. O modo preferencial de uma pessoa reagir ao mundo deve-se dentre outras razões, à herança genética, às influências familiares e às experiências que o indivíduo teve ao longo de sua vida.

Além dos dois tipos de atitude, a extroversão e introversão, Jung (1971a) verificou que existiam diferenças importantes entre pessoas de um mesmo grupo, ou seja, um introvertido poderia diferir muito de outro introvertido. Para Jung, essas diferenças entre os indivíduos eram causadas pelas diversas maneiras com que as pessoas utilizam suas mentes, ou seja, pelas funções psíquicas e/ou processos mentais preferencialmente utilizados pela pessoa para se relacionar com o mundo externo ou interno.

Jung identificou quatro Funções Psíquicas que a consciência usa para fazer o reconhecimento do mundo exterior e orientar-se. Ele definiu as funções como: Sensação, Pensamento, Sentimento e Intuição - estas, junto com as atitudes de introversão e extroversão, representarão os Tipos Psicológicos. Segundo Jung, existem duas maneiras opostas através das quais percebemos as coisas - Sensação e Intuição - e existem outras duas, que usamos para julgarmos os fatos - Pensamento e Sentimento. As pessoas utilizam diariamente esses quatro processos.

A Sensação e a Intuição são funções irracionais, uma vez que a situação é apreendida diretamente, sem a mediação de um julgamento ou avaliação.

A função sensação é a função dos sentidos, a função do real, a função que traz as informações (percepções) do mundo através dos órgãos do sentidos. Pessoas do tipo Sensação acreditam nos fatos, têm facilidade para lembrar-se deles e dão atenção ao presente. Essas pessoas têm enfoque no real e no concreto, são voltadas para o “aqui - agora” e costumam ser práticas e realistas. Preocupam-se mais em manter as coisas funcionando do que em criar novos caminhos.

O oposto da função sensação é a função Intuição, onde a percepção se dá através do inconsciente e a apreensão do ambiente geralmente acontece por meio de “pressentimentos”, “palpites” ou “inspirações”. Os sonhos premonitórios e as comunicações telepáticas via inconsciente são algumas das propriedades da intuição. A intuição busca os significados, as relações e possibilidades futuras da informação recebida. Pessoas do tipo intuição tendem a ver o todo e não as partes, e, por isso, costumam apresentar dificuldades na percepção de detalhes.

As funções Pensamento e Sentimento são consideradas racionais por terem caráter judicativo e por serem influenciadas pela reflexão, determinando o modo de tomada de decisões. Estas funções são também chamadas de funções de julgamento, responsáveis pelas conclusões acerca dos assuntos de que trata a consciência. Se nas funções perceptivas a palavra é a apreensão, nas funções de julgamento a palavra é apreciação.

A função Pensamento estabelece a conexão lógica e conceitual entre os fatos percebidos. As pessoas que utilizam o Pensamento fazem uma análise lógica e racional dos fatos: julgam, classificam e discriminam uma coisa da outra sem maior interesse pelo seu valor afetivo. Procuram se orientar por leis gerais aplicáveis às situações, sem levar em conta a interferência de valores pessoais. Naturalmente voltadas para a razão, procuram ser imparciais em seus julgamentos.

A função racional que se contrapõe à função Pensamento é a função Sentimento. Quem usa o Sentimento julga o valor intrínseco das coisas, tende a valorizar os sentimentos em suas avaliações, preocupa-se com a harmonia do ambiente e incentiva movimentos sociais. Utilizam-se de valores pessoais (seus ou de outros) na tomada de decisões, mesmo que essas decisões não tenham lógica do ponto de vista da causalidade. Para Nise da Silveira, a pessoa que utiliza a função Sentimento “estabelece julgamentos como o pensamento, mas a sua lógica é toda diferente. É a lógica do coração”. Silveira (1988: 54)

Ao demonstrar as quatro funções, Jung escreveu:

“Sob o conceito de Sensação pretendo abranger todas as percepções através dos órgãos sensoriais; o Pensamento é a função do conhecimento intelectual e da formação lógica de conclusões; por Sentimento entendo uma função que avalia as coisas subjetivamente e por Intuição entendo a percepção por vias inconscientes ... A Sensação constata o que realmente está presente. O Pensamento nos permite conhecer o que significa este presente; o Sentimento, qual o seu valor; a Intuição, finalmente, aponta as possibilidades do “de onde” e do “para onde” que estão contidas neste presente... As quatro funções são algo como os quatro pontos cardeais. Tão arbitrárias e tão indispensáveis quanto estes.” Jung (1971a: 497)

Pode-se dizer, em relação as funções psíquicas, que:

“a Sensação corresponde à totalidade das percepções de fatos externos que nos chegam através dos sentidos; a Sensação nos dirá que alguma coisa é (existe)... o Pensamento, dá o nome a esta coisa e agrega-lhe um conceito... o Sentimento nos informa o valor das coisas, nos diz se elas nos agradam ou não, constituindo uma avaliação e não uma emoção. A quarta e última função está ligada ao conceito do tempo que eqüivale a um passado e a um futuro - conhecemos o passado, mas o futuro dependerá de um palpite que é a Intuição.” Zacharias (1994: 100 )

Dessa forma, uma pessoa do Tipo Pensamento tende a não dar muita importância ao seu sentimento (valores pessoais). Por sua vez, o tipo Sensação tende a não dar crédito às suas intuições. Já o tipo Sentimento, expulsa pensamentos que lhe desagradam e o Intuitivo ignora o que está a sua frente. Portanto, “a Sensação diz que alguma coisa é; o Pensamento exprime o que ela é; o Sentimento expressa-lhe o valor; e a Intuição é o que complementa a visão do mundo pois aventa sobre suas possibilidades.” Casado (1993 : 38)

A dinâmica da personalidade

Ao analisar as quatro funções durante o desenvolvimento psíquico, Jung (1971a) constatou ainda que uma das funções se diferencia e se torna a função dominante ou a principal, enquanto outra função se desenvolverá com menos intensidade, tornando-se a função auxiliar da primeira. As outras duas funções, a terciária e a inferior não se desenvolverão na consciência, permanecendo, assim, inconscientes. Jung chega a admitir que a atividade dessas funções, quando se realiza em graus muito desiguais, possa causar perturbações neuróticas. “Se uma função não é empregada... há o perigo de que escape de todo ao manejo consciente, tornando-se autônoma e mergulhando no inconsciente onde vá provocar ativação anormal.” Silveira (1988: 55)

Conforme palavras de Jung, o inconsciente é o produto da interação entre o inconsciente coletivo e o meio ambiente em que o indivíduo cresce.

“Tudo quanto conheço, mas sobre o qual no momento não estou pensando; de tudo quanto eu tinha consciência mas agora esqueci; tudo quanto os seus sentidos percebem, mas que não é notado pela minha mente consciente; tudo quanto, involuntariamente e sem prestar atenção, sinto, penso, recordo, quero e faço; todas as coisas futuras que estão tomando forma em mim e que algum dia virão à consciência; tudo isso é o conteúdo do inconsciente.” Stevens (1990: 52)

A seguir abordaremos as funções psíquicas demonstradas por Jung.

Função Dominante

Segundo Jung, dentre as quatro funções psíquicas, existe sempre uma preferida pelo sujeito. Em virtude de seu maior uso, esta função torna-se mais desenvolvida e diferenciada. Existe pois, uma tendência de utilizarmos o nosso lado mais apto.

A função dominante surge pelo exercício e pelo desenvolvimento de traços congênitos. Ao longo do tempo, ela se torna superior às outras, o que significa que ela é mais desenvolvida do que as demais, uma vez que se faz um uso maior dela do que as outras, o que determina o aspecto funcional do Tipo Psicológico.

A função dominante também chamada função principal caracteriza o Tipo Psicológico do indivíduo, dando a ele suas características psicológicas particulares. Cada indivíduo utiliza de preferência sua função principal, a fim de obter melhores resultados na luta pela existência, conforme escreveu Jung:

“na luta pela existência e pela adaptação, cada qual emprega instintivamente sua função mais desenvolvida, que se torna, assim, o critério de seu hábito de reação .... Assim como o leão abate seu inimigo ou sua presa com a pata dianteira (e não com a cauda, como faz o crocodilo), também nosso hábito de reação se carateriza normalmente por nossa força, isto é, pelo emprego de nossa função mais confiável e mais eficiente, o que não impede que às vezes, também possamos reagir utilizando nossa fraqueza específica. Tentaremos criar e procurar situações condizentes e evitar outras para, assim, fazermos experiências especificamente nossas e diferentes das dos outros”. Jung (1971a: 493)

Nise da Silveira destacou que a função dominante é a arma mais eficiente que o indivíduo “dispõe para usar na sua orientação e adaptação ao mundo exterior; ela se torna o seu Habitat reacional.” Silveira (1988:56)

Para Sharp (1993), a experiência mostra que é praticamente impossível que alguém desenvolva todas as suas funções psicológicas simultaneamente. A exigência social obriga o homem a aplicar-se, antes e acima de tudo, à diferenciação da função com a qual ele esta mais bem equipado pela natureza, ou que irá lhe assegurar o maior sucesso social. Ele afirmou: “Muito freqüentemente... um homem se identifica mais ou menos completamente com sua função mais favorecida e, portanto, mas desenvolvida. É isto o que dá origem aos vários tipos psicológicos”. Sharp, 1993:73)

Sobre o desenvolvimento da função principal, Marie-Louise von Franz escreveu:

“por volta da idade do Jardim da Infância, já podemos detectar o desenvolvimento da função principal, através da preferência por alguma ocupação ou pela forma de relacionamento da criança com os seus colegas. A unilateralidade vai aumentando com o desenvolvimento cronológico e o meio, por sua vez, colaborando para reforçá-la, verificando portanto, o aumento do desenvolvimento da função superior e a lenta degeneração da inferior.” Von Franz (1990: 36)

Para a autora, existem casos em que esta unilateralidade é abrandada, como com as pessoas que vivem em contato com a natureza - camponeses, caçadores e povos primitivos. Ela apontou que essas pessoas não sobreviveriam se não usassem quase todas as suas funções: um camponês jamais poderá tornar-se tão unilateral quanto um habitante da cidade.

Função Secundária e a Função Terciária

No curso do desenvolvimento aparece uma outra função, chamada de função secundária ou auxiliar, que é distinta da função principal e não oposta a ela. Para Jung, a função secundária é aquela que, no processo de diferenciação, fica relegada a um plano inferior e sua existência é útil para servir à função principal. Os tipos raros, teoricamente “puros” têm pouco desenvolvimento da função secundária

A importância do processo auxiliar na dinâmica tipológica reside em ser apoio à função superior - traz equilíbrio (não igualdade) entre extroversão e introversão e proporciona, também, equilíbrio entre o julgamento e a percepção. Exemplificando, a função auxiliar dos extrovertidos lhes dá acesso à sua vida interior e ao mundo das idéias, enquanto o auxiliar dos introvertidos lhes dá o meio de se adaptar ao mundo das ações e lidar com ele de maneira eficiente.

O bom desenvolvimento do Tipo exige que o auxiliar suplemente o processo dominante em dois aspectos. Ele deve fornecer um grau útil de equilíbrio, não apenas entre a percepção e o julgamento, mas também entre a extroversão e a introversão.

“Para viverem felizes e efetivamente em ambos os mundos, as pessoas necessitam de um auxiliar equilibrado que tornará possível a adaptação em ambas as direções - o mundo à sua volta e seu próprio interior.” Myers & Myers (1997: 43)

Myers & Myers (op. cit.) escreveram uma parábola em que apresentam o processo dominante (função superior) como um general e o processo auxiliar como um ajudante de ordens. No caso dos extrovertidos, o general está sempre exposto - as pessoas fazem suas negociações direto com ele - e o ajudante de ordens fica respeitosamente atrás ou dentro da barraca. O general dos introvertidos está dentro da barraca trabalhando em assuntos de alta prioridade; o ajudante de ordens está do lado de fora evitando as interrupções. Neste caso, o ajudante de ordens é com quem as pessoas se encontram e com quem negociam - apenas quando o negócio é muito importante, as pessoas conseguem encontrar o general em pessoa. Assim, se as pessoas não perceberem que existe um general dentro da barraca, entenderão que é o ajudante de ordens que está no comando (entendendo esta como sua função superior).

A função terciária é uma função com desenvolvimento rudimentar, cuja importância está na complementaridade da dinâmica (consciente/inconsciente) atribuída aos quatro elementos da tipologia. A função terciária é aquela oposta à função auxiliar na escala de preferências.

Função Inferior

A função inferior é a função menos desenvolvida e se contrapõe à função dominante. Exemplificando, alguém que tem a Intuição como função dominante terá a Sensação como sua função inferior. Cabe ressaltar alguns aspectos que caracterizam a função inferior, como sua suscetibilidade e tirania, uma grande carga de emoção, um grau acentuado de autonomia (por não estar subordinada à autoridade da consciência), uma grande concentração vital e, portanto, um campo de enorme potencial.

Para Von Franz,

“a função inferior representa a parte desprezada da personalidade - ridícula, lenta e inadaptada - que constrói a conexão com o inconsciente e que retém, portanto, a chave secreta da totalidade inconsciente. Enfim, ela é a ponte para o inconsciente e sempre dirigida para o mundo simbólico... a função inferior faz a ponte para o inconsciente.” Von Franz (1990: 19)

Segundo Von Franz, o comportamento da função inferior é refletido nos contos de fadas, nos quais em geral aparece como o terceiro filho de um rei e a quarta figura do conjunto, e tem, de acordo com os mitos, qualidades superficiais diferentes: algumas vezes é o mais jovem, outras é um pouco retardado ou ainda um tolo completo.

Segundo Jung (1971a), à medida que a libido é dirigida, em sua maior parte, para a função principal, a função inferior evolui regressivamente tornando-se incompatível com a função principal. Via de regra, a função dominante é consciente; a função menos diferenciada - a função inferior - permanece nos domínios do inconsciente de forma bruta, primitiva e arcaica. Lá existe “uma ferida aberta, por onde qualquer coisa pode entrar.” Jung ( 1971a: 17)

Na visão de Whitmont

“nossas funções inadequadas são a porta de entrada pela qual as dificuldades, problemas e sofrimentos nos alcançam. Quando o ego se encontra em um estado de excessiva identificação com a função superior, as funções inadequadas podem ter um efeito sabotador sobre a personalidade consciente.” Whitmont (1995: 130)

Jung (1971b) demonstrou o processo de enantiodromia, termo utilizado por Heráclito que significa “correr em direção contrária”, advertindo que um dia tudo reverte ao seu contrário. Para Jung, Heráclito descobriu a mais fantástica de todas as leis da psicologia: “a função reguladora dos contrários... Só escapa da lei da enadiodromia quem é capaz de diferenciar-se do inconsciente... A enandiodromia é o estar dilacerado nos pares contrários.” Jung (1971b: 65)

Segundo Jung, a função inferior tende a aparecer abruptamente quando uma pessoa se encontra sob pressão e/ou doente, por exemplo:

“acontecimentos positivos ou negativos podem trazer a tona a função contrária inferior. Sobrevindo isso, manifesta-se a hipersensiblidade, sintoma da existência de uma inferioridade. Assim estabelecem-se as bases psicológicas da desunião e da incompreensão, não só entre duas pessoas, como também da cisão dentro de si mesmo... a natureza da função inferior é caraterizada pela autonomia; é independente, ela nos acomete, fascina e enleia, a ponto de deixarmos de ser donos de nós mesmos e não nos distinguirmos mais exatamente dos outros.” Jung (1971b: 50)

Quando uma pessoa funciona unilateralmente em excesso, a função dominante retira muita energia psíquica da função inferior e esta cai no inconsciente, tornando-se primitiva e perturbada. Mas a função inferior pode, eventualmente, ganhar energia, emergindo no consciente de forma infantil e arcaica, trazendo o desequilíbrio e a neurose. Como exemplo, podemos citar o caso de uma pessoa do tipo sentimento, polida e preocupada com as pessoas, que de repente pode tornar-se áspera e extremamente crítica.

É importante compreender que a função inferior não significa que o indivíduo não possua aquela função, mas significa que a função ocorre sem a participação consciente e, quando negligenciada em demasia, pode interferir diretamente no funcionamento consciente.

Para Jung, o conceito de dinâmica psíquica baseia-se no equilíbrio de opostos. Ele afirma que a função inferior deve ser reconhecida, para que não seja reprimida no inconsciente e venha a irromper no consciente de forma danosa e destrutiva.

Jung apontou que as atividades das quatro funções, quando se realizam em graus muito desiguais, podem causar perturbações neuróticas. Se uma função não é empregada, diz ele, há o perigo de que escape de todo do manejo consciente, tornando-se autônoma e mergulhando no inconsciente, onde irá provocar uma ativação anormal. Isso diz respeito especialmente à quarta função (ou função inferior).

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