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Por:   •  26/9/2014  •  2.255 Palavras (10 Páginas)  •  229 Visualizações

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O filme de Carla Camurati retrata a vida, em sua intimidade, de Carlota Joaquina, a princesa espanhola que com dez anos de idade fora ofertada ao infante D. João VI de Portugal. A diretora através de uma narrativa cômica enfatiza os escândalos que marcaram a vida de Carlota Joaquina e de toda a corte portuguesa. A história se passa em um período muito conturbado, em que a Europa estava cercada pelas tropas napoleônicas que tentava impor o embargo econômico à Inglaterra sua maior rival. Portugal seria o próximo alvo de Napoleão. Entretanto, como desde muito tempo o reino lusitano dependia economicamente da Inglaterra e, estava assim, irremediavelmente submisso aos interesses britânicos, D. João logo após assumir a regência de Portugal, ficara em uma encruzilhada: se aliar à França que já tinha dominado a Espanha ou continuar sob o julgo Inglês que lhe daria cobertura em uma fuga às pressas para o Brasil. D. João optou, por comodidade, pela segunda opção.

O filme é narrado, estranhamente, por um Escocês que relata a história de Carlota Joaquina após achar uma garrafa no mar. Esta trazia um trecho de um livro sobre Salvador Dali, falando que nunca havia ido ao Brasil devido às histórias que contavam a existência de borboletas gigantes que atacavam os homens nos trópicos. O narrador escocês relata a maioria das situações

constrangedoras por que passara o ainda infante D. João VI. A maior delas aconteceu ainda em sua noite de núpcias. Foi nesse dia que D. João começou a conhecer a índole de sua esposa, devido a pouca idade, apenas 10 anos, a princesa deu-lhe uma dentada na orelha quando este procurava abraça-la. Passando à fase adulta Carlota demonstra ser uma amante dos prazeres e, em uma discussão com D. João que se recusava a enfrentar as tropas de Napoleão que era o que Carlota Joaquina representando o sangue quente espanhol queria. Ela em um lance de fúria diante da recusa de João em acatar seus desejos, o chama de João fujão e revela que apenas a primogênita era realmente a sua filha e que esperava que os outros puxassem as características dos pais.

É nesse ponto, que chamaria a discussão para um aspecto importante, embora devo destacar que a proposta do filme é a sátira e, portanto, tende-se a exagerar os fatos de maneira a igualar os seres humanos em sua fraqueza (Aristóteles, Poética). Contudo, o enredo se detém sobre um período histórico, nesse sentido, a tentativa de se separar a ficção da realidade se faz importante. Não discutirei os exageros porque isso é próprio da comédia e estes estão bem representados na figura de D. João VI que, embora, fosse conivente com os adultérios de sua esposa, não foi um “banana” como o filme retrata, e

algumas cenas mesmo destacam a argúcia política do fundador do banco do Brasil.

Os aspectos que pretendo destacar no filme são, respeitando a proposta da diretora, as omissões históricas relativa à vida de Carlota Joaquina. Em 1805, Carlota Joaquina e alguns comparsas entre eles viscondes e marqueses conspiraram para a deposição de D. João VI. Este acontecimento caba por ser negligenciado, apesar do recorte temporal do filme ter como proposta narrar a vida de Carlota Joaquina desde seus primeiros anos até o suicídio. O que, do ponto de vista, da integridade histórica não se justifica, mesmo levando em conta o estilo cômico do roteiro, pois seria uma ação a ser explorada pela proposta satírica do filme. Há, porém, espaço para uma ressalva: o cinema, por suas próprias características, é uma obra de síntese em que, muitas vezes, a adaptação de obras literárias se torna deveras complicada, levando se em consideração os problemas orçamentários que Carla Camurati teve e o momento de crise que todo o cinema brasileiro passava no período da realização da obra, sem créditos governamentais, desinteresse dos investidores e a péssima distribuição das produções brasileiras. Todos esses fatores fazem do produto final motivo para muitas admirações, em que a criatividade e o jogo de cintura da cineasta estão a toda prova.

No entanto, outro

ponto a destacar, seguindo essa linha de raciocínio, seria a questão da província Platina e o papel decisivo dos diplomatas ingleses no caso. O filme na tentativa de síntese acaba por distorcer a realidade dos fatos históricos mais uma vez, os ingleses tiveram dois posicionamentos distintos em relação à questão do Rio da Prata. O primeiro de ajudar dissimuladamente Carlota Joaquina na questão Platina e o segundo de desaprovar, publicamente, na figura de Lord Strangford pressionando D. João VI a intervir contrariamente no episódio. No filme há uma cena em que é o próprio embaixador inglês que dá as dicas a Carlota Joaquina como fazer para se tornar a Rainha da Província Platina. Entretanto é sabido que Strangford pressionou D. João VI para que esse, demonstrando grande habilidade conseguisse evitar as ações de sua esposa. Isso no filme é retratado na cena em que Carlota não consegue vender suas jóias parar mandar o dinheiro relativo a organização de um exército que lhe proclamasse a Rainha do Rio da Prata, portanto, a participação de Strangford no caso é distorcida.

Na trama cinematográfica não fica especificado o papel de D. João no caso das jóias, esse como é relatado nos documentos (José Prezas, um dos ajudantes da Princesa na questão Platina e que nada recebeu em troca dos serviços prestados ao chegar à Espanha escreveu Os

escândalos de Carlota Joaquina e Juliano Rubio que fez uma biografia sobre Carlota Joaquina) históricos proíbe o maior comprador de jóias, o único que teria dinheiro para pagar o valor das jóias de sua esposa, de comprá-las. É notório que uma das propostas do filme é desmistificar os grandes personagens históricos, e esse é, sem dúvida, o grande mérito da diretora e, conseqüentemente, o do filme. É, nesse sentido, que o Príncipe Regente se torna alvo preferido das pilhérias que conduzem o enredo, no entanto, diferentemente, do caráter de D. João que as cenas nos impõe, e que nos passa a idéia de um rei comilão, medroso e sem nenhum tato político, D. João VI, com base em um consenso historiográfico teve uma participação muito mais efetiva na conduta política de seu reino, principalmente, ao que diz respeito, no fato da Província Platina, ele, mesmo pressionado pelos ingleses que queria dominar todo o mercado das Américas conseguiu defender os interesses lusitanos. O filme relata a sua recusa em ajudar financeiramente Carlota Joaquina a se proclamar a Rainha do Rio Prata, no entanto, as cenas nos dão a idéia de que se trata apenas de um ato de avareza do Príncipe Regente. No livro de Clemente de Oliveira, “Os tumores de Bragança”, é relatado que a princesa não conseguindo

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