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Texto Figueiroua

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Por:   •  3/10/2014  •  2.036 Palavras (9 Páginas)  •  236 Visualizações

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Habitação coletiva e a evolução da quadra (1)

Mário Figueroa

O ideário moderno e a reflexão sobre habitação coletiva estão profundamente relacionados aos problemas decorrentes da densidade populacional urbana e do crescimento das grandes cidades durante o século XX. Nesse contexto as novas hipóteses de habitação e sua relação com o espaço urbano representam para o modernismo o núcleo inicial de investigações e experimentações desenvolvidas em âmbito disciplinar da arquitetura para uma possibilidade real de transformação em grande escala do ambiente urbano.

A partir do desdobramento dos conceitos germinais do texto de Christian de Portzamparc, A terceira era da cidade (Ville age III) (2), este ensaio trata especificamente do papel da habitação coletiva na formação das distintas idéias de cidade a partir da segunda metade do século XIX até o final do século XX, compondo um quadro analítico com oito distintas estratégias projetuais que permitem uma reflexão sobre as diversas formas de inserção, complementação e construção da habitação coletiva na cidade moderna explicitando a evolução e a transformação da arquitetura urbana dentro deste período.

O esforço concentra-se em constituir um raciocínio crítico do processo projetual estabelecendo distinções conceituais sobre as estratégias da habitação coletiva e sua relação com a trajetória do desenvolvimento das cidades através de uma visão ampla do elemento urbano que por essência é o mais coletivo de todos. Interessa enfatizar nestas condições o constante confronto entre habitação e espaço habitável, o qual tem transformado a paisagem, a sociedade, a cultura, os hábitos e o desenho das cidades.

Quadra da cidade tradicional

Figura 1 – Quadra da cidade tradicional

Devemos entender como cidade tradicional um organismo urbano gerado através de um longo processo histórico. Neste contexto, tanto o traçado viário como a habitação coletiva são elementos que não podem ser concebidos separadamente, como o positivo e o negativo de um mesmo sistema. Não existem, portanto espaços indefinidos nesta relação restrita aos domínios do publico e do privado.

A quadra da cidade tradicional se caracteriza por ser claramente delimitada e homogênea. Uma massa compacta que apresenta uma relação desproporcional entre uma grande quantidade de espaço construído em contraposição a escassos e fragmentados espaços livres habitualmente destinados apenas para a ventilação das habitações. A arquitetura, restrita a fachada, se expressa neste momento apenas de forma bidimensional.

As transformações de Haussmann em Paris (1852-69) podem exemplificar este tipo de quadra “residual”, resultante do traçado viário, e não como módulo de composição urbana. Paralelamente o projeto dos edifícios era controlado (gabarito de altura, composição das fachadas, matérias e elementos construtivos) para regularizar o tecido urbano e proporcionar uma extraordinária força de conjunto. A habitação coletiva compunha a diversidade programática da quadra através de sua sobreposição em distintos pavimentos o que gerava habitualmente edifícios multifuncionais.

Quadra do Plano Cerdá

Figura 2 – Quadra do Plano Cerdá

O Plano de expansão para Barcelona de Ildefonso Cerdá (1959-64) desenha uma grelha ortogonal, com quadras de 113m x 113m e vias de 20m de largura, de tal maneira que cada conjunto de nove quadras e vias correspondentes se inscrevem dentro de um quadrado de 400m de lado. A quadricula estende-se até os núcleos urbanos vizinhos e envolve a cidade medieval. Apesar de aparentar a imposição de uma nova ordem, indiferente ao contexto, o ajuste das bordas é feito com extrema habilidade tendo como suporte avenidas diagonais que surgem a partir de conexões pré-existentes. O corte diagonal nas arestas da quadra transforma o simples cruzamento de vias em lugar, gera também desta forma maior amplitude visual dos edifícios de esquina. Se dúvida nenhuma o melhor exemplo de habitação coletiva inserida neste contexto é a Casa Milà de Antoni Gaudí (1906-12).

O Plano previa quadra com ocupação perimetral em dois ou no máximo três lados. Os edifícios não ultrapassariam mais do que dois terços da superfície do quarteirão. Os espaços internos resultantes se abririam para a cidade oferecendo equipamentos públicos e generosas áreas arborizadas. O importante é enfatizar que neste momento a quadra passa de uma condição de residual para se tornar suporte de uma composição urbana que a tem como espaço da cidade. Dá-se um passo adiante da relação edifício-rua como definidor da quadra, ou seja, o perímetro da quadra deixa de ser o limite do espaço público.

Do desejo original de Cerda permaneceu apenas o traçado viário, as quadras foram maciçamente ocupadas no perímetro junto ao alinhamento da calçada retomando um caráter que a reaproximou da quadra tradicional. Originalmente as quadras foram concebidas em média com 67.000m³ de área construída, atualmente após 150 anos de adensamento progressivo temos em média 295.000m³ de área construída por quadra.

Quadra com ocupação perimetral

Figura 3 – Quadra com ocupação perimetral

Duas cidades desenvolveram experiências extremamente significativas desta tipologia: Amsterdã e Viena. No Plano de expansão de H. P. Berlage para Amsterdam Zuid (1915) as quadras ainda são resultado do sistema viário, porém contribuem como instrumentos de ordenação dos edifícios perante uma nova hierarquia de vias e espaços urbanos através de construção diferenciada das esquinas, diferenciação das bordas edificadas conforme as características da rua delimitadoras e principalmente pela evolução do miolo da quadra. Inicialmente destinado exclusivamente para jardins internos das unidades residenciais térreas, o espaço interno evolui a partir da redução dos jardins privados e inserção de ruas e pátios internos destinados ao uso semipúblico.

No caso de Viena a opção não é pela expansão, mas sim, por aproveitar vazios urbanos pré-existentes para inserir habitação coletiva operária através de grandes edifícios residenciais contínuos, chamados de “hoff”. Possuíam equipamentos urbanos associados a generosos espaços ajardinados internos de caráter semipúblicos. As grandes dimensões obrigavam a se sobrepor sobre o traçado urbano

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