UM AMBIENTE ESCOLAR FAVORÁVEL COMO FATOR DETERMINANTE PARA UM BOM DESEMPENHO DOS ALUNOS
Por: Alessandra L. Teixeira • 23/9/2015 • Relatório de pesquisa • 1.951 Palavras (8 Páginas) • 413 Visualizações
UM AMBIENTE ESCOLAR FAVORÁVEL COMO FATOR DETERMINANTE PARA UM BOM DESEMPENHO DOS ALUNOS: OBSERVAÇÕES DE UMA BOLSISTA DO PIBID/INGLÊS DA FURG
Alessandra de Lima Teixeira
alessandralteixeira@gmail.com
1 CONTEXTO DO RELATO
O relato a seguir é baseado em minha experiência como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, o PIBID, no subprojeto Inglês/FURG, com o qual estou vinculada desde maio de 2014. Nesse primeiro contato com a sala de aula, numa posição de observadora, pude notar as diversas cores e nuances que compõem uma escola de um diferente ponto de vista. Acompanhando a rotina de duas turmas de alunos do ensino fundamental de duas escolas públicas, algumas memórias vieram à tona. Algumas são um pouco tristes e remetem a um passado escolar de desamparo. Em alguns momentos da minha infância, necessitei de apoio pedagógico e psicológico – os quais não eram oferecidos pela escola. E nesse reencontro com a mesma, pude notar que houve pouco ou nenhum avanço no que se refere a esse apoio. Infelizmente, tive contato com dois jovens que estão claramente necessitando de acompanhamento e as escolas nada podem fazer para ajudá-los. (Os nomes dos alunos foram preservados neste relato). Com esses acontecimentos, eu me pergunto: até onde o professor pode intervir quando percebe que seu aluno está passando por dificuldades?
2 DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES
Foi na sala de aula que Laura, uma adolescente de 13 anos, estudante da E.E.E.M. Professor Carlos Lorea Pinto, explodiu em lágrimas e gritos. Acusava a todos de não a entenderem, de não compreenderem os problemas pelos quais estava passando. O professor, que precisava continuar sua aula, tentou conversar com a menina, perguntando o porquê desse turbilhão de sentimentos. Durante esse rápido momento, Laura só balbuciava palavras em meio aos soluços e gritos manhosos. De repente, num impulso, ela sai da sala e fica agachada no corredor com a cabeça apoiada nos joelhos. Com pena da criança, fiz um sinal para que o professor continuasse o conteúdo e saí atrás da menina. Com calma, começamos a conversar e a história de Laura começou a ganhar cores. Durante nossa conversa, Laura tremia, pois estava apenas com uma camiseta e estava frio naquela tarde. Tirei o meu casaco e coloquei nos ombros dela, para que se sentisse mais confortável para contar sua história Até aquele dia, Laura, para mim, ainda não tinha se destacado na turma, pois era sempre muito calada com os colegas e tímida para responder ao professor. Então, mais calma, ela começou a explicar quais eram os problemas que estava enfrentando. Dizia que sentia muita falta da mãe, a qual não sabia se estava viva ou morta. Reclamava dos maus tratos da madrasta e da omissão do pai. Contou que havia passado uma temporada longe dos familiares, com uma pessoa que a acolheu para tentar ajudá-la, mas que isso não foi importante, pois a mesma não acreditava na bondade dessa pessoa. Contou que a mãe tem AIDS e imediatamente me questionei se Laura também era soropositivo..Essa resposta apareceu mais tarde quando muito preocupada com o abandono pelo qual Laura estava passando, procurei outra professora da escola. Essa professora verificou a situação de Laura e a encaminhou para uma outra pessoa, segundo a qual teria o papel de orientar os alunos que estão passando por algum tipo de problema. Após alguns dias, tive a confirmação da professora de que Laura também era soropositivo e que passaria a ser acompanhada por essa orientadora. Após a conversa que tive com Laura – que antes era sempre muito calada e introvertida – notei que ela passou a chamar a atenção com atitudes mais intempestivas e impulsivas com seus colegas. Mas com o professor e comigo, ela passou a ter um comportamento muito mais afetivo – tão afetivo que passou a chamar o professor de “pai”. E a mim, passou a receber com um abraço fraterno. Laura também começou a exigir mais atenção ao realizar suas tarefas, pois queria fazer tudo “direitinho”, segundo suas palavras, pois se sentia mais acolhida na sala de aula. Percebi que naquela escola, quando um aluno precisa de ajuda, ele recebe uma orientação de um profissional designado para essa função, o que é bastante positivo em se tratando de uma escola estadual. Não pude acompanhar o caso mais de perto, pois logo em seguida, tive que mudar de escola. E durante esse episódio, comecei a questionar sobre minha função como bolsista e futura professora.
Na segunda escola vem a breve história de outro jovem. Digo breve porque acredito que este relato está inacabado devido a minha observação continuar em andamento com este menino. Pedro, um adolescente de 14 anos, estudante da E.M.E.F. França Pinto, ao contrário de Laura, é um aluno que rapidamente se destaca na sala de aula: é o tipo bagunceiro. Andando para lá e para cá na sala, Pedro foi apontado como aluno problemático já no meu primeiro dia de aula com aquela turma. Nesse dia, sentei junto com a professora, na frente. Observei que Pedro se aproximava de nós, conversava algumas coisas e depois saía do mesmo jeito que chegou: meio sem rumo. Até que em um momento, o menino começa a tirar os casacos e blusões que estava vestindo e fica só de camiseta. Argumentamos que estava frio, era uma manhã com temperatura próxima dos 10ºC. Mas Pedro, aparentemente, não estava se importando com o frio. Quando vi aquele menino de camiseta de manga curta, pensei comigo: “Esses jovens, sempre correndo e com calor”. Mas tinha algo que ele queria nos mostrar com aquele gesto e isso não fora percebido nem por mim, nem pela professora de imediato. Pedro se aproximou de nós novamente, com um certo ar de revolta por não termos notado o que ele queria nos mostrar e ergue os dois braços em nossa direção: incrédula, percebi que havia marcas de automutilação na altura de ambos os punhos. Perguntamos o que aquilo significava e ele afirmou: “eu me corto e é muito difícil parar de fazer isso”. Porém, ele não demonstrava tristeza, ao contrário, escondia a dor pela qual estava passando e escancarava um sorriso, ao mesmo tempo em que usava um tom de deboche para contar o que ele tanto queria. No final da aula, perguntei a minha professora supervisora qual o tipo de assistência que a escola oferecia nesses casos, e infelizmente, obtive a triste resposta: nenhuma. Após esse episódio, comecei a observar mais atentamente o comportamento de Pedro e pude perceber que ele mudou sensivelmente. Ele passou a sentar na classe que fica junto a da professora e tornou-se menos bagunceiro, porém, ficou mais calado. Ele faz todas as tarefas, pelo menos as de língua inglesa, e copia os exercícios direto do livro da professora, pois reclamou que não enxerga o quadro muito bem. Após ter compartilhado um pouquinho dos seus sentimentos e perceber que, tanto a professora, quanto eu, não o reprimimos, Pedro, aparentemente, tem mostrado um comportamento menos tenso e mais relaxado. Atualmente, ele sempre puxa algum assunto conosco e não ofende mais seus colegas como fazia antes.
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