Uma História Crítica Do Fotojornalismo Ocidental
Seminário: Uma História Crítica Do Fotojornalismo Ocidental. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Jeff12345678 • 16/1/2015 • Seminário • 1.565 Palavras (7 Páginas) • 363 Visualizações
O presente livro resulta da ampliação e restruturação de um capítulo da nossa tese de
doutoramento (1997) e pretende contribuir para eliminar uma lacuna no panorama editorial
português na área das Ciências da Comunicação: a inexistência de livros sobre a história do
fotojornalismo, apesar de este assunto ser crucial para a compreensão do actual momento
fotojornalístico.
Neste trabalho, propomo-nos encarar as fotografias jornalísticas como artefactos de
génese pessoal, social, cultural, ideológica e tecnológica. É um ponto de vista que parcialmente
alarga o modelo com que Michael Schudson (1988) procurava explicar por que é que as notícias são
como são e parcialmente se opõe à visão schudsodiana, uma vez que esse autor afirmou
taxativamente que as notícias são cultura, não ideologia (Schudson, 1995, 31).
Por outro lado, estruturámos a nossa visão da história do fotojornalismo em função
de momentos determinantes para a evolução da actividade. A esses momentos demos, à falta de
melhor, o nome de "revoluções" e é com base neles que subdividimos o presente trabalho em
capítulos. Em acréscimo, falamos também da evolução histórica do fotojornalismo em Portugal,
capítulo para cuja elaboração muito contribuiu o livro Uma história de Fotografia, de António Sena,
e referimos alguns dos trabalhos mais recentes no que respeita à investigação científica sobre
fotojornalismo.
Estudar a evolução histórica do fotojornalismo é uma opção complexa. Nascida num
ambiente positivista, a fotografia já foi encarada quase unicamente como o registo visual da
verdade, tendo nessa condição sido adoptada pela imprensa. Com o passar do tempo, foram-se
integrando determinadas práticas, tendo-se rotinizado e convencionalizado o ofício, um fenómeno
agudizado pela irrupção do profissionalismo fotojornalístico. Chegaram, então, os géneros
fotojornalísticos, nomeadamente os géneros realistas, e de um reino da verdade passou-se ao reinado
do credível — como muito bem se pode ler na obra Give Us a Little Smile, Baby, de Harry Coleman, já no final do século passado se manipulavam as imagens em função de objectivos que em nada
tinham a ver com a verdade, mas, de facto, unicamente com o credível. Ainda assim, na linha da
não-manipulação, nasce o fotodocumentalismo, que, em pouco tempo, à vontade do registo vai
sobrepor a beleza da arte. Chega-se então à ideia de fotógrafo autor e artista, criador, original.
Deste ponto, rapidamente se incorporou no fotojornalismo, em consonância com a visão da época, a
ideia da construção social da realidade, processo que em parte se nutre na acção dos media. Mas
esta foi também a linha de partida para a interpretação fotojornalística do real, até porque as
percepções que dele se têm são dissonantes da realidade em si e, neste sentido, são sempre uma
espécie de ficção. Legitimam-se, assim, os criadores-fotógrafos, que olham para si mesmos como
participantes num jogo que há muito deixou de ser um mero jogo de espelhos, para desembocar no
jogo bem mais elaborado e complexo dos mundos de signos e de códigos, de linguagem e de cultura,
de ideologia e de mitos, de história e tradições, de contradições e convenções.
Nesse âmbito, interessou-nos, neste livro, focalizar o aparecimento e a manutenção
de rotinas produtivas e convenções profissionais fotojornalísticas, um assunto muito bem
aprofundado na obra Seeing the Newspaper, de Kevin G. Barnhurst. No campo oposto, fizemos
uma incursão pelos fotógrafos-autores, aqueles que procuram traçar percursos fotográficos pessoais
ou redireccionar a evolução da fotografia. As obras de Margarita Ledo Andión, particularmente
Foto-Xoc e Xornalismo de Crise e Documentalismo Fotográfico Contemporáneo, constituiram,
neste ponto, uma pista preciosa.
É de referir que o traçado histórico-evolutivo do fotojornalismo que constitui o
presente livro corresponde apenas a uma visão pessoal dessa evolução, pois não há uma história da
fotografia, mas várias, apesar de os diversos compêndios sobre história da fotografia tenderem a
reproduzir as mesmas imagens e a realçar os mesmos fotógrafos. Neste campo, a própria selecção
de fotógrafos que fizemos, embora tanto quanto possível abrangente, não impede que muitos
contributos históricos para o fotojornalismo se mantenham na sombra — a selecção de informações
e personalidades, a este nível, será sempre problemática. De qualquer modo, não foi nossa intenção, com este livro, fazer história, mas tão só corresponder aos propósitos já definidos, tentando
sobretudo provar a influência das pessoas, dos meios sociais, das ideologias, das culturas, das
histórias e das tecnologias na evolução do fotojornalismo, de onde o relevo dado a vários fotógrafos
de diferentes épocas, embora sem preocupações de exaustividade. Foi também nosso objectivo
contribuir para a reunião de exemplos de temas, actuações e abordagens fotográficas que permitam
ao
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