Uso de residuos na argamassa

O USO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL PARA A PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das cidades e, como consequência disso, o crescimento do setor da construção civil, vem trazendo também um aumento significativo dos resíduos sólidos ocasionados pelas obras, seja quando a construção termina ou quando há desperdícios de materiais.

Segundo a resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº 307, de 05 de Julho de 2002:

 “os resíduos da construção civil são: os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras da construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica, etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha.”

Para Lima (2003) “essa problemática vem despertando cada vez mais a atenção de estudiosos no sentido de valorizar o aproveitamento dos rejeitos da construção civil de uma forma geral”. Uma forma de reaproveitamento pouco ainda discutida, mas que com estudos mais aprofundados seria de grande valia para os produtores, construtores, clientes e principalmente para o meio ambiente, seria a reutilização de parte destes resíduos, para a fabricação de argamassas de assentamento e revestimento.

A REUTILIZAÇÃO DOS AGREGADOS NA ARGAMASSA

Agregado reciclado é definido segundo a resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº 307, de 05 de Julho de 2002 como “material granular proveniente do beneficiamento de resíduos da construção que apresentem características técnicas para aplicação em obras de edificação, infraestrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia”.

Lima (1999, apud LIMA, 2003) ressalta que “acredita-se que agregados reciclados com altos teores deste material na sua composição possam contribuir para o melhor da resistência a compressão de concretos ou argamassas recicladas, principalmente em idades mais avançadas”.

Tozzy (2009) explica que “Agregados são comunmente chamados de pedras britas ou brita, mas podem ser definidos como insumos que, adicionados à massa de cimento e água, formam o concreto propriamente dito”. Sobre as vantagens do agregado adicioando a mistura Tozzy cita: “apresentam resistência às cargas solicitadas, diminuição de variações de volume e redução do custo de fabricação”.

Segundo a NBR 7200 a argamassa é definida como “mistura homogênea do agregado miúdo, aglomerante e água, contendo ou não aditivos ou adições com propriedades de aderência e endurencimento”.

Levy e Helene (1997) produziram oito diferentes amostras de argamassas visando analisar a influência das propriedades das argamassas provenientes de entulho reciclado moído. Constataram que materiais cerâmicos reciclados e finamente moídos são tecnicamente apropriados para utilização em argamassas e influem nas suas principais propriedades. A presença do material cerâmico produz argamassas mais compactas (aumento da massa unitária). Já a maior presença de sobras de argamassas endurecidas pode levar a argamassas com menores consumos de cimento em relação às argamassas mais ricas em resíduos cerâmicos. Constataram ainda que há uma redução de 30%, em média, na utilização de cimento para as argamassas produzidas com material reciclado, porém essas mesmas argamassas apresentam uma redução na capacidade de retenção de água.

Lima (2005) estudou o aproveitamento de resíduos de construção na fabricação de agamassas. Primeiramente foram selecionados os entulhos de construção e separado os materiais indesejáveis como plásticos, vidros, ferros, madeira, etc. Após a seleção o material é triturado para obter a granulometria desejada.Para determinação a resistencia a compressão foi utilizado o traço 1:2:8 (cimento:cal:agregado) com agregado miúdo reciclado em substituição ao agregado miúdo natural nos teores 0%, 10%, 25%, 50%, 75% e 100% .A tabela a seguir refere-se a granulometria do agregado natural e também do agregado reciclado:

Tabela 1: Agregado miúdo e características.

Características	Agregado miúdo natural	Agregado miúdo reciclado
Dimensão Máxima	4,8 mm	4,8 mm
Módulo de Finura	2,02	2, 45
Massa Específica	2,63 kg/dm³	2,50 kg/dm³
Massa Unitária	1,66 kg/dm³	1,23 kg/dm³
Inchamento de Areia	28%	29%
Umidade Crítica	4%	8%

Com os estudos apresentados por Lima (2005) ainda pode-se afirmar que à medida que aumenta a quantidade de agregados reciclados aumenta também a demanda de água, pois sua absorção é maior. Observa-se ainda que a argamassa com agregado miúdo natural tem uma absorção de aproximadamente 10%, enquanto que a argamassa com agregado miúdo reciclado esta absorção é da ordem de 20%. Isto ocorre porque com a utilização do agregado recilado é necessário uma maior porcentagem de água para se alcançar a consistência padrão. Abaixo segue gráfico referente a porcentagem de água necessária para atingir a consistencia padrão em função do agregado reciclado.

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Porcentagem de água na argamassa em relação a quantidade de agregado reciclado. – Fonte: Lima (2005)

A maior capacidade de retenção de água do agregado reciclado também influenciou na resistência de aderência a tração, visto que a argamassa com agregado reciclado apresentou maior resistência quando comparado à argamassa com agregado natural.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Lima (2005) observou que a resistência a compressão das argamassas decresçe quando se substitui parcialmente o agregado natural pelo reciclado, até a porcentagem volumétrico de 50%. Quando se usa 75% e 100% ocorre ligeira recuperação de resistência, porém a mesma é sempre inferior quando comparada a argamassa com agregado natural. A resistência à compressão na idade de cura de 28 e 90 dias é praticamente irrelevante para os agregados reciclados.         A tabela a seguir apresenta a resistência a compressão simples da argamassa no traço 1:2:8 (cimento:cal:areia) aos 7 e 28 dias.