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A Catarse De Truffaut Em Sua Arte: As Aventuras De Antoine Doinel

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Por:   •  15/3/2015  •  1.504 Palavras (7 Páginas)  •  453 Visualizações

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Apaixonado pela sétima arte desde a infância, François Truffaut, antes de se tornar cineasta, teve uma sólida carreira como crítico de cinema da revista francesa Cahiers du Cinéma. Após ter sido preso por desertar da carreira militar, quem conseguiu sua admissão na revista foi André Bazin¹, que se tornou uma espécie de pai para Truffaut. Seu primeiro longa-metragem deu início à saga da vida de seu alter-ego: Antoine Doinel. Tal saga, que recebe o nome de As Aventuras de Antoine Doinel, acompanhou por vinte anos os passos desse sujeito ímpar, sempre imortalizado pelo mesmo ator, Jean-Pierre Léaud.

O primeiro filme, Os Incompreendidos (Les quatre cents coups, 1959), foi dedicado à Bazin². Nele, somos apresentados a Antoine. Uma criança de 13/14 anos que cresce em um lar conturbado, onde recebe mais atenção do padrasto que da mãe adúltera. São evidentes as semelhanças com a vida de Truffaut, um adolescente rebelde e aspirante a delinquente que fugia da escola para assistir a filmes.

Truffaut depositava, em sua rebeldia, a indignação por não ter tido uma infância padrão. Mas quando percebeu que poderia fazê-lo em sua arte, não hesitou. Em Os Incompreendidos, ao retratar sua própria vida, ele passou por uma espécie de catarse que deu sentido a tudo o que ele viveu, sofreu, sentiu e, principalmente, deu sentido ao que ele se tornou. O filme explica a gênese de quem é o prodígio François Truffaut.

Dora Bay, em seu artigo Arte & Sociedade (2006), analisa a visão de Freud sobre a arte, dizendo que para ele, “a arte teria o poder de liberar o artista de suas fantasias, permitindo-lhe exorcizar os fantasmas interiores, canalizando-os para a obra, num processo catártico e terapêutico”. Essa visão está claramente associada à façanha de Truffaut em sua estreia.

Na cena final³ de Os Incompreendidos, vê-se Antoine na praia, após fugir do Centro de Observação de Jovens Delinquentes. A cena é congelada e ele olha para o espectador com uma expressão de incerteza. Nesse momento, vemos que Antoine está ciente de que não tem para onde ir. Essa é uma interpretação. Outra seria que esse é um sinal de abertura para a obra. Pois assim como disse Brito Junior (2007), por muitas vezes as obras trazem uma mensagem estética, que veicula uma vasta quantidade de possibilidades interpretativas. Tais obras são chamadas por Umberto Eco de “obras abertas”, pois estão sujeitas a múltiplos significados.

Diante da recepção positiva do filme (ele ganhou o prêmio de Melhor Diretor e foi indicado ao prêmio de Melhor Filme no Festival de Cannes daquele ano, recebeu a indicação de Melhor Roteiro no Oscar e as indicações nas categorias de Melhor Filme e Ator Revelação no BAFTA), Truffaut, ao ser convidado para representar a França no filme O Amor aos Vinte Anos, viu uma oportunidade de dar continuidade à vida de Antoine Doinel. Afinal, ele havia cativado o público. O Amor aos Vinte Anos trata-se de um filme divido em cinco partes, cada uma narrando o amor de jovens de diferentes países.

Nele, estão contidas as seguintes partes: Itália (Renzo Rossellini), Japão (Shintaro Ishihara), Alemanha (Marcel Ophüls), Polônia (Andrzej Wajda) e França (François Truffaut), a média-metragem intitulada Antoine e Colette (Antoine et Colette, 1962).

Neste momento, Antoine tem 17 anos. Após ter fugido do Centro, foi capturado e colocado em outro centro sob vigilância ainda maior. Porém, um psicólogo se interessou pelo seu caso e ele foi solto em condicional. Em virtude de seu amor pela música, ele começa a trabalhar em uma gravadora. Ele se interessa por Colette, uma jovem que conheceu em um concerto. Durante todo o filme tenta convencê-la a ficar com ele, mas só consegue conquistar a amizade de seus pais¹.

O terceiro filme da saga é Beijos Proibidos (Baisers Volés, 1968). Antoine havia se tornado soldado. O filme começa com ele sendo dispensado do exército por ter estado ausente em todas as missões. Nesse momento, Truffaut revela que Doinel é o mesmo irresponsável de sempre. Com indicação do pai de Christine (uma jovem que ele havia conhecido antes de se alistar), ele conseguiu um trabalho de guarda noturno em um hotel. Porém, após um escândalo ocorrido no local, foi demitido e o detetive particular que foi responsável pela demissão o chamou para trabalhar em seu escritório. A vida de Antoine nesse filme mescla em roubar beijos de Christine¹ – por quem está apaixonado – e flertar com as mulheres que investiga, inclusive a mulher do patrão que ele investigava por caso extraconjugal.

Todos os eventos acontecem rapidamente sem um tratamento profundo. É como se o público não precisasse entender mais nada além do que está sendo mostrado. Justamente pela proximidade – e intimidade – com a obra e por ter se habituado à própria vida de Doinel.

O filme sucessor foi Domicílio Conjugal (Domicile Conjugal, 1970). Nesse, Antoine já está casado com Christine e trabalha – além de ser um aspirante a escritor – tingindo flores para uma floricultura. Novamente amigo da família da pessoa por quem está apaixonado, Antoine assume em uma fala:

- Não me apaixono por uma moça, mas por toda a família. O pai, a mãe... Gosto muito de garotas com pais gentis. Adoro a família dos outros.

Essa fala evidentemente é uma alusão à infância não apenas de Doinel como também de Truffaut, que eram desprovidas de uma família desestruturada.

Ao decorrer do filme, Christine engravida e Antoine se torna pai². Para melhor sustentar a família, ele consegue emprego em uma companhia hidráulica americana que está situada Paris. Lá, ele conhece Kyoko. A troca de olhares com a japonesa desencadeou em um caso extraconjugal. Certo dia, Christine descobre a traição, o surpreende vestida de japonesa¹ e eles se separam. Antoine tenta uma relação com Kyoko e, sem sucesso, ele e a ex-mulher se reconciliam, mas não por muito tempo.

O último filme, a obra que fecha a saga, tem como título O Amor em

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