A Gravura e a História da Humanidade
Por: Ayandra Gomes • 28/10/2019 • Artigo • 5.040 Palavras (21 Páginas) • 194 Visualizações
A GRAVURA E A HISTÓRIA DA HUMANIDADE.
Daniela Gomes Moreira¹
RESUMO: O presente trabalho elabora uma linha histórica visando demonstrar a interação entre a evolução humana e a gravura, evidenciando o quanto uma influência a outra e como elas se complementam. O homem sempre apresentou uma necessidade de registrar sua vida e costumes, e muitas vezes fez uso da gravura para passar seus conhecimentos adiante e eternizar seus relatos. Nesse artigo abordaremos essa integração, homem e gravura numa linha de tempo histórica. Discorrendo sobre diferentes técnicas inventadas e aprimoradas no decorrer dos séculos e a forma como o homem se utilizou desse artifício para se comunicar.
PALAVRAS-CHAVE: Linha histórica; homem; gravura; evolução; registrar; interação.
Introdução
A gravura acompanha a história da humanidade fazendo parte dela e contando-a, já no período Paleolítico o homem usava osso com sílex para decorar, no Neolítico produzia cerâmica decorada com conchas de molusco impressas. Os primeiros traçados humanos foram encontrados na África, com cerca de 200 mil anos de idade, pinturas em cavernas, entre as quais se destaca a caverna de Lascaux, no sul da França.
A comunicação visual pré-histórica, o desenvolvimento da escrita, a invenção da imprensa, todas apresentam uma atuação forte da gravura. Era pintando em paredes que o homem pré-histórico contava suas histórias e passava seus conhecimentos adiante, foi gravando em tabuletas cuneiformes que os sumérios começaram a desenvolver a escrita, passamos pela xilografia e outras técnicas de gravura que foram e são muito usadas no mercado impresso até os dias atuais.
Por meio da observação das gravuras feitas no decorrer dos séculos podemos observar a vida humana em seus contextos de acordo com cada época vivida. “Gravar é dar vida às linhas do tempo. Das tramas delicadas do desenho sobre uma superfície bordaram-se com linhas incisivas, ao longo da história, algumas das mais sutis e notáveis obras de arte”. (Fernanda Terra, 2011, p.10).
Linha de tempo histórica.
Carvão, tons quentes amarelos-claros e marrons rubros, produzidos a partir de óxidos de ferro vermelhos e amarelos misturados com gordura, era a matéria prima usada pelos homens pré-históricos para produzir seus desenhos, espalhando com os dedos ou com pinceis feitos de juncos ou espinhos, imagens de animais e sinais geométricos abstratos, produzidos durante cinco mil anos nos quais as pessoas deixaram escrito em cavernas e canais uma crônica de seu conhecimento de fatos e eventos.
Inúmeros petróglifos foram deixados ao redor do mundo, sinais e figuras simples entalhadas ou arranhadas nas rochas, mas com um grau de precisão que nos levam a observar a memória e a observação elevada dos povos daquela época. Essas pictografias evoluíram em dois sentidos: arte figurativa e base da língua escrita.
O artista paleolítico desenvolveu uma tendência à simplificação e estilização. As figuras se tornaram progressivamente abreviadas e eram expressas com um número mínimo de traços. No final do período paleolítico, alguns petróglifos e pictogramas haviam se reduzido a ponto de quase assemelhar-se a letras. (Meggs,Purvis, 2013. p. 20).
A mesopotâmia foi considerada por muitos anos como berço da civilização, e esse abandono da cultura aldeã se deu após a chegada dos sumérios que desenvolveu um sistema de deuses e inventaram a escrita como uma resposta à necessidade de se fazer registro, mais confiável do que a memória humana, sobre: impostos, colheitas, economia, provendo assim uma ordem necessária para a manutenção da estabilidade da cidade-estado.
As tabuletas da cidade de Uruk, são os registros escritos mais antigos que se tem conhecimento, eram feitas de argila, devido à abundância desse material na região, e para a sua utilização segurava-se a tabuleta com a mão esquerda e as pictografias eram riscadas na superfície com um estilete de madeira, começando do canto superior direito, as linhas eram escritas em colunas e essa tabuleta era levada para secar ao sol ou cozida num forno até adquirir a dureza de uma rocha. Por volta de 2800 aC, os escribas inclinaram as pictografias para as laterais e começaram a escrever em linhas horizontais, da esquerda para a direita e de cima para baixo, tornando mais fácil à escrita e deixando-as menos literais.
Com o passar dos anos surgiu à necessidade de autenticação e personalização dos escritos e os sinetes cilíndricos foram desenvolvidos, permanecendo em uso por mais de três mil anos; tratava-se de cilindros que tinham a sua superfície entalhada com imagens e caracteres, que quando eram rolados sobre as tabuletas de argila ainda úmida produziam impressões em alto-relevo e baixo-relevo gravando a marca registrada do proprietário.
Os egípcios também se valeram das invenções sumérias, mas em vez de seguir a linha de abstração do processo cuneiforme eles retiveram o seu sistema figurativo de escrita, chamada de hieroglífica (termo grego para entalhe sagrado) os mais antigos conhecidos datam 3100 aC e a última foi entalhada em 394 d.C. Por sua natureza enigmática foi considerada por séculos como símbolos mágicos para ritos sagrados, mas a partir da descoberta da placa negra, a Pedra de Roseta, com inscrições em duas línguas e três escritas, sendo uma delas a hieroglífica, pode-se desenvolver um sistema de decifração dos símbolos, perdendo assim um pouco do seu simbolismo mágico.
A civilização cretense ficava atrás somente das civilizações egípcias e mesopotâmicas no quesito avanço no antigo mundo ocidental, símbolos figurativos minoicos ou cretenses já estavam em uso em 2800 aC, restam apenas 135 pictografias dessa época. Pictografias estas que foram substituídas pela escrita linear por volta de 1700 aC, antecedendo o alfabeto grego. Uma das relíquias da civilização minoica é o Disco de Festos, desenterrado em 1908, feito em terracota, com 16,5 centímetros de diâmetro, possui formas pictográficas e alfabéticas impressas em ambas as faces em faixas espirais, constituindo um dos mais intrigantes e curiosos artefatos da época. Em 2000, em Creta, já se utilizava carimbos para imprimir na argila úmida, sendo um precursor da tipografia moderna.
Romanos desenvolveram no século VII aC matrizes em metal para a cunhagem de moedas, coincidindo com a história da gravura, uma vez que há necessidade de um entalhe positivo e um negativo, para se produzir as cópias. Já os fenícios dois séculos antes de Cristo criaram o alfabeto e seus pictogramas que funcionavam como ícones evocativos dos objetos do mundo real, deram lugar aos ideogramas que combinavam símbolos gráficos com a evocação de ideias abstratas como o amor, a verdade e o espírito.
Outras civilizações também se beneficiaram da gravura e contribuíram para a sua evolução como os paquistaneses e indianos com artefatos datados de 3300 a 1500 aC descobertos em escavações recentes em Harappa onde foram encontrados selos em terracota e relevos gravados em pedras e metal com traços extremamente finos e delicados revelando uma civilização desenvolvida. A China, antes mesmo da invenção do papel já utilizava tinta e selos para estampar seda, madeira ou tiras de bambu; e foi nas cavernas chinesas do Turquistão que foi descoberto o Sutra de Diamante, datado de 868 aC, é o livro mais antigo gravado em madeira e impresso em papel que se conhece, dedicado à imperatriz da China Wang Chieh.
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