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A arte de Debret

Pesquisas Acadêmicas: A arte de Debret. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  20/11/2013  •  Pesquisas Acadêmicas  •  4.096 Palavras (17 Páginas)  •  455 Visualizações

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RESUMO: A presente comunicação de pesquisa tem como objetivo ressaltar a importância dos registros pictóricos do artista francês Jean-Baptiste Debret durante sua estadia no Brasil nos anos de 1816 a 1831. Debret se identifica com o estilo neoclássico do mestre Jacques- Louis David e ambos tornam-se artistas prediletos da corte de Napoleão Bonaparte, a partir de então, sua obra passa a enaltecer ainda mais as campanhas militares. Com a queda de Napoleão e a vinda da “Missão artística francesa” para o Brasil, Debret é contratado como pintor da Academia Real de Belas-Artes e como tal desenvolve estudos pictóricos que revelam o cotidiano do Brasil oitocentista, iluminado pelo sol dos trópicos. Será por meio da análise da aquarela Dia d’entrudo (1823) que iniciaremos nossa discussão sobre a cena de Carnaval, excepcionalmente retratada por Debret; onde o artista nos revela a exuberância das cores, das indumentárias e da criatividade.

Palavras-Chave: Jean-Baptiste Debret, limões de cheiro, indumentárias.

O artista Jean-Baptiste Debret nos deixou obras riquíssimas para o estudo do Brasil no século XIX e através de seus expressivos traços podemos estudar diversos aspectos da construção da identidade brasileira.

Nascido na famosa Paris do século XVIII, Debret cresceu em uma família composta por artistas: filho de Jacques Debret (um estudioso de arte e história natural) e sobrinho-neto de François Boucher (grande representante do Rococó), Debret também era primo do grande mestre do Neoclássico, Jacques-Louis David, com quem tivera aulas na Escola de Belas Artes de Paris. Seu irmão mais novo François Debret, futuramente tornou-se arquiteto e membro do Instituto de França e Jean-Baptiste Debret (nosso objeto de estudo), além de pintor fora também gravador, desenhista, professor, cenógrafo e decorador.

Juntamente com seu mestre David, disseminou o estilo Neoclássico ao enaltecer aspectos da cultura da antiguidade grega predominantes neste estilo e trouxe para suas telas cenas histórias, políticas e mitológicas. Criado nos cânones do Iluminismo, os quais seguiam os conceitos de igualdade, liberdade e direitos do homem, Debret vivenciou a Revolução Francesa e integrou o grupo dos Jacobinos ao lado de David 1; a partir de 1805 começou a fazer parte do seleto grupo de pintores de Napoleão Bonaparte, o que favoreceu sua participação nos salões e exposições.

A queda de Napoleão em 1815 e a partida do mestre David para a Bélgica, somadas a perda de seu único filho e a separação de sua esposa, abalaram a vida de Debret. Diante de tudo isto, ele buscou um novo alento na viagem que faria aos trópicos como um dos membros da “Missão Artística Francesa”.

Liderada por Joachim Lebreton, a “Missão” composta por aproximadamente quarenta pessoas, dentre artesãos, pintores, gravadores, arquitetos, assistentes e seus familiares, reuniu os artistas napoleônicos que se encontravam desprestigiados devido ao contexto histórico europeu. Debret, Nicolas-Antoine Taunay, Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny, Auguste Marie Taunay, Charles Simon Pradier, entre outros se aventuraram pelos mares que os trariam ao Brasil.

A proposta era de se criar uma Academia de Ciências, Artes e Ofícios no novo Reino português nas Américas e levar a “civilidade” para a futura corte de D. João VI. É válido lembrar que, segundo Norbert Elias, a burguesia francesa era o modelo de refinamento comportamental e erudito que informava os referenciais opostos ao que eles entendiam como “barbárie” dos “povos primitivos”. Após a assinatura do tratado de paz entre Portugal e França em 1816, curiosamente, D. João recebeu em seu “novo” reino os artistas que registraram os feitos antológicos do ex-inimigo Napoleão, afinal este havia forçado a transferência da corte portuguesa par o Brasil.

Debret aportou nos trópicos em 1816, com uma formação artística bem sólida adquirida na Europa e aos seus quarenta e oito anos de idade se deparou com um Brasil embrionário. Após a morte de D. Maria I e a aclamação do rei D. João VI, o artista pintou algumas telas encomendadas pela corte, tais como: a chegada da futura imperatriz D. Leopoldina e seu casamento com Pedro I; a coroação de Pedro I em 1822. Esta obra merece particular destaque porque nela o pintor expressou a imagem de nação moderna, representada por meio de uma composição figurativa que oferecia visibilidade para a liderança exercida por D. Pedro: ele surgia onipotente na tela cercado por vários tipos humanos tomados como “inferiores”, ou seja, índios, brancos, negros, mulatos – representação objetiva dos propósitos civilizadores e das benesses decorrentes da presença da corte portuguesa na colônia. Esta obra se diferenciava muito da arte barroca predominante até então no universo pictórico do Brasil Colonial, no qual as figuras do alto clero e temática sacra eram privilegiadas, em especial, as visões do inferno e do paraíso que aterrorizavam os fiéis signatários do Catolicismo.

O desenvolvimento do Neoclassicismo revelou novas vogas europeias neste território, mas interagiu com o cenário e a população que habitava os trópicos. Debret havia percebido quão destoante era a ambiência vivenciada pela comitiva portuguesa se comparada com o luxo da corte de Napoleão e com a partilha de espaços urbanos entre brancos e negros; eles ocupavam as ruas, desenvolviam atividades diversificadas cujo interesse implicava a execução de tarefas para os seus senhores e também para eles próprios.

A escravidão contrariava seus princípios de liberdade e igualdade, mas, a despeito da violência intrínseca aos direitos do homem, ela propiciava a convivência entre varias etnias que chamavam a atenção do pintor, pois os negros estavam em todos os lugares da cidade. Além disso, o céu límpido e o sol radiante do Rio de Janeiro lhe permitia outras experimentações no âmbito de seu ofício porque a intensa luminosidade oferecia aos registros da paisagem uma vibração, praticamente impossível na atmosfera europeia.

As cenas do cotidiano passaram a figurar em quase tudo o que era esboçado ou retratado por Debret que durante sua estadia no Brasil (quinze anos), não só retratou todo o Rio de Janeiro, mas também, boa parte do sul do país, lugares que percorreu durante suas viagens e comitivas.

Em termos técnicos as dificuldades encontradas por aqui eram imensas, a tinta era um artigo muito escasso e de má qualidade no Rio de Janeiro, além de seu alto preço; o clima também não favorecia muito a pintura a óleo, pois é uma tinta de secagem lenta (a qual proporcionava aos artistas a facilidade de correção e de alteração,

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