A ativação de portos em centros urbanos
Tese: A ativação de portos em centros urbanos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 10/4/2014 • Tese • 1.937 Palavras (8 Páginas) • 676 Visualizações
Voltando às origens
A revitalização de áreas portuárias nos centros urbanos (1)
Vicente del Rio
Figura 1 – Centro de cidade no EUA; resultado típico dos projetos de renovação urbana nos anos 60Figura 2 – Detalhe do passeio junto aos diques e os armazéns portuários reciclados em Puerto Madero, Buenos Aires [In Abitare 342, julho/agosto 1995]Figura 3 – Inspirada na volumetria dos antigos armazens, dois novos prédios comerciais na área leste de Puerto Madero. Arquitetos: Manteola, Sánchez Gomez, Santos, Solsona & Sallaberry [In Summa + #42, abril/maio 2000]Figura 4 – O mega-projeto de 1988 para Cannary Wharf, London Docklands. Urbanismo: Skidmore,Owins & Merrill [In Ghirardo, D. 1996]Figura 5 – Projeto conceitual de Ricardo Bofill para a faixa de domínio da via expressa, uma das diversas idéias do final dos anos 80 [In Process # 97, 1991]Figura 6 – Área do South Street Seaport, Nova Iorque, mostrando, após a via expressa suspensa, a área de eventos e o shopping-center Pier 17, inspirado na arquitetura portuária. Arquiteto: Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 7 – O novo centro de exposições em Darling Harbor, área recuperada do porto de Sidney, Australia. Arquiteto Philip Cox [In The Architectural Review # 1106, abril 1989]Figura 8 – O Museu Guggenheim, tornado ícone internacional de Bilbao, Espanha; fundamental na revitalização da área portuária e central. Arquiteto: Frank Gehry<br />Foto Nelson Kon Figura 9 – O movimento portuário e as embarcações históricas como atrativos; no conjunto recuperado de Albert Dock, Liverpool, Inglaterra [In Pozueta, J. 1996]Figura 10 – Vista da renovação do Port Vell, Barcelona: shopping com cinemas, marina e passeio em deck retrátil para passagem dos barcos [In Pozueta, J. 1996]Figura 11 – Maquete do projeto da área central renovada e o conjunto modernista do centro cívico de Boston, EUA. Projeto de I.M.Pei [In Process # 97, 1991]Figura 12 – Em Boston, entre o centro cívico e o waterfront, o conjunto histórico do Quincy Market e Faneuil Hall foi reciclado em centro comercial e gastronômico. Arquiteto Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 13 – Em Boston, entre o centro cívico e o waterfront, o conjunto histórico do Quincy Market e Faneuil Hall foi reciclado em centro comercial e gastronômico. Arquiteto Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 14 – A grande escala do complexo de uso misto em Rowes Wharf, Boston, não impede o acesso à água, onde estão restaurantes, piers públicos e slips para barcos particulares. Arquitetos: Skidmore,Owins & Merrill [In Process # 97, 1991]Figura 15 – Plano geral para a área central e portuária de Baltimore, EUA, onde se vê, no canto superior direito o Charles Center e o sistema de passarelas conectando-o com o Inner Harbor de Baltimore, EUAFigura 16 – Perspectiva geral de 1989, mostrando o existente e o projetado para o ano 2000, na área central e no Inner Harbor de BaltimoreFigura 17 – O Harbor Place, festival mall do Inner Harbor, Baltimore: duas edificações idênticas com conjuntos de lojas, gastronomia e atrações turísticas, e uma área aberta para eventos entre elas. Arquiteto Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 18 – Aquário Nacional de Baltimore, uma das principais "ancoras" da revitalização do Inner Harbor. Arquitetos: Cambridge Seven. <br />Foto V. del Rio Figura 19 – Área revitalizada de Fells Point, Baltimore, mostrando as edificações novas integradas às antigas e o pier público para barcos de passeio e parada do water-taxi. Projeto urbano: Vicente del Rio [In Breen & Rigby, 1994]
Figura 1 – Centro de cidade no EUA; resultado típico dos projetos de renovação urbana nos anos 60 1/19
Figura 1 – Centro de cidade no EUA; resultado típico dos projetos de renovação urbana nos anos 60Figura 2 – Detalhe do passeio junto aos diques e os armazéns portuários reciclados em Puerto Madero, Buenos Aires [In Abitare 342, julho/agosto 1995]Figura 3 – Inspirada na volumetria dos antigos armazens, dois novos prédios comerciais na área leste de Puerto Madero. Arquitetos: Manteola, Sánchez Gomez, Santos, Solsona & Sallaberry [In Summa + #42, abril/maio 2000]Figura 4 – O mega-projeto de 1988 para Cannary Wharf, London Docklands. Urbanismo: Skidmore,Owins & Merrill [In Ghirardo, D. 1996]Figura 5 – Projeto conceitual de Ricardo Bofill para a faixa de domínio da via expressa, uma das diversas idéias do final dos anos 80 [In Process # 97, 1991]Figura 6 – Área do South Street Seaport, Nova Iorque, mostrando, após a via expressa suspensa, a área de eventos e o shopping-center Pier 17, inspirado na arquitetura portuária. Arquiteto: Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 7 – O novo centro de exposições em Darling Harbor, área recuperada do porto de Sidney, Australia. Arquiteto Philip Cox [In The Architectural Review # 1106, abril 1989]Figura 8 – O Museu Guggenheim, tornado ícone internacional de Bilbao, Espanha; fundamental na revitalização da área portuária e central. Arquiteto: Frank Gehry<br />Foto Nelson Kon Figura 9 – O movimento portuário e as embarcações históricas como atrativos; no conjunto recuperado de Albert Dock, Liverpool, Inglaterra [In Pozueta, J. 1996]Figura 10 – Vista da renovação do Port Vell, Barcelona: shopping com cinemas, marina e passeio em deck retrátil para passagem dos barcos [In Pozueta, J. 1996]Figura 11 – Maquete do projeto da área central renovada e o conjunto modernista do centro cívico de Boston, EUA. Projeto de I.M.Pei [In Process # 97, 1991]Figura 12 – Em Boston, entre o centro cívico e o waterfront, o conjunto histórico do Quincy Market e Faneuil Hall foi reciclado em centro comercial e gastronômico. Arquiteto Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 13 – Em Boston, entre o centro cívico e o waterfront, o conjunto histórico do Quincy Market e Faneuil Hall foi reciclado em centro comercial e gastronômico. Arquiteto Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 14 – A grande escala do complexo de uso misto em Rowes Wharf, Boston, não impede o acesso à água, onde estão restaurantes, piers públicos e slips para barcos particulares. Arquitetos: Skidmore,Owins & Merrill [In Process # 97, 1991]Figura 15 – Plano geral para a área central e portuária de Baltimore, EUA, onde se vê, no canto superior direito o Charles Center e o sistema de passarelas conectando-o com o Inner Harbor de Baltimore, EUAFigura 16 – Perspectiva geral de 1989, mostrando o existente e o projetado para o ano 2000, na área central e no Inner Harbor de BaltimoreFigura 17 – O Harbor Place, festival mall do Inner Harbor, Baltimore: duas edificações idênticas com conjuntos de lojas, gastronomia e atrações turísticas, e uma área aberta para eventos entre elas. Arquiteto Benjamin Thompson [In Process # 89, 1990]Figura 18 – Aquário Nacional de Baltimore, uma das principais "ancoras" da revitalização do Inner Harbor. Arquitetos: Cambridge Seven. <br />Foto V. del Rio Figura 19 – Área revitalizada de Fells Point, Baltimore, mostrando as edificações novas integradas às antigas e o pier público para barcos de passeio e parada do water-taxi. Projeto urbano: Vicente del Rio [In Breen & Rigby, 1994]
Nas últimas décadas, metrópoles do mundo inteiro têm despertado para o novo paradigma do desenvolvimento sustentável, onde a nova fronteira é a própria cidade interior, ou seja, a concentração de investimentos e esforços para a ocupação dos vazios, a reutilização do patrimônio instalado, a requalificação de espaços e a intensificação e mistura dos usos. Neste contexto, o papel da reutilização das áreas portuárias centrais e de suas frentes marítimas é fundamental: num processo de revitalização, intervenções pontuais de qualidade e inseridas a um planejamento estratégico, tendem a gerar impactos positivos e crescentes sobre o seu entorno – o centro – e a cidade como um todo. Esse processo, bem conduzido e com um correto faseamento, leva à maximização dos investimentos e ao sucesso nos campos econômico, cultural, habitacional, turístico, recreacional, entre tantos outros que se complementam. Experiências internacionais bem sucedidas, movidas por problemáticas semelhantes, com destaque para os casos de Boston e Baltimore, nos E.U.A., nos ajudam a debater algumas questões importantes para o caso da área portuária do Rio de Janeiro.
Da renovação à revitalização: o novo modelo para as áreas centrais
Após a II Guerra Mundial e até o último cartel do século XX, as metrópoles do mundo inteiro viveram um intenso crescimento econômico de matriz fordista – produção e consumo massificado – onde o ideal positivista e a lógica racional-tecnicista do modernismo orientavam políticas urbanas equivocadas, numa renovação indiscriminada da cidade existente. Projetos arrasa-quarteirão substituíam a riqueza físico-espacial e a pluralidade socio-cultural das áreas centrais tradicionais, já desvalorizadas e esvaziadas de suas funções originais, com ambientes frios, monofuncionais e simplistas, e uma arquitetura distanciada de lastros históricos e dos valores da população (figura 1).
Com a crise do petróleo, o esgotamento do modelo econômico fordista, a falência do Estado e a emergência do mercado globalizado, o novo capitalismo neo-liberal não poderia ignorar, por um lado, o potencial do patrimônio instalado, a acessibilidade e o simbolismo das áreas centrais e, pelo outro, os vazios, as descontinuidades e os limites internos ao crescimento e à expansão da economia. Junto com a expansão da consciência popular, a consolidação dos movimentos comunitários e ambientalistas, e inserido no paradigma do desenvolvimento sustentável, este novo contexto levou as metrópoles do primeiro mundo a perseguir o renascimento de seus centros, através da reutilização das áreas centrais, da recuperação de suas arquiteturas e da valorização cultural de suas ambiências.
Por um lado, o modelo de revitalização urbana do urbanismo contemporâneo rompe com as práticas precedentes e distancia-se tanto dos projetos traumáticos de renovação quanto das atitudes exageradamente conservacionistas, ao mesmo tempo em que os incorpora e excede, em prol do renascimento econômico, social e cultural das áreas centrais. Pelo outro, ele permite a gestão da cidade segundo uma lógica neo-liberal, cuja prática urbanística passa a ser fragmentada e dispersa, de acordo com as oportunidades, as vantagens competitivas e as respostas de um mercado consumidor cada vez mais globalizado, embora de expressões localizadas como, por exemplo, na instituição de espacialidades propícias para novos pólos financeiros e imobiliários transnacionais, ou de intenso turismo cultural-recreativo.
Se nem sempre o modelo da revitalização encontra-se vinculado à existência de um plano no sentido tradicional, ele é dependente de um processo contínuo de planejamento estratégico e de ações integradas. Também é assim mesmo na prática norte-americana do planejamento fragmentado, dos opportunity projects, pois a colaboração entre o poder público (viabilizadores), o poder privado (investidores) e as comunidades (moradores e usuários) garante a identificação de planos e programas que possam maximizar e compatibilizar os esforços e os investimentos, e nortear a implementação integrada de ações e projetos a curto, médio e longo prazos. Os resultados positivos das intervenções, por sua vez, realimentam o processo atraindo novos investidores, moradores e consumidores, gerando, por sua vez, novos projetos.
É importante também fazer notar que nos EUA, as prefeituras destinam a implementação destes planos e projetos especiais, em áreas geograficamente demarcadas, à gestão de uma empresa ou agência de desenvolvimento de capital misto, especialmente montada, num modelo recomendado nos anos 50 pelo governo federal, que assim destinava programas especiais de financimento para a recuperação de áreas degradadas. (2) Contando com a prefeitura como co-investidora, elas atuam como empresas do mercado, não oneram o custo do serviço público e possuem grande independência e agilidade para perseguir suas estratégias de desenvolvimento. Quase como agentes imobiliários, essas agências podem comprar e alienar terrenos, urbanizá-los, negociar alterações de legislação, promover projetos especiais e pacotes de incentivos diversos. São exemplos destas agências a Boston Redevelopment Authority e a Charles Center – Inner Harbor Management, de Baltimore, e, mais próxima a nós, a Corporación de Antiguo Puerto Madero S.A., administradora do empreendimento de Buenos Aires que, iniciado em 1990, já é um enorme sucesso que se reflete nas áreas vizinhas (figuras 2 e 3).
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