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A noção de autoria e uma idéia nociva de pertencimento influenciando a leitura e a produção na cultura pop moderna

Por:   •  29/3/2019  •  Projeto de pesquisa  •  3.417 Palavras (14 Páginas)  •  248 Visualizações

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A noção de autoria e uma idéia nociva de pertencimento influenciando a leitura e a produção na cultura pop moderna

Projeto de pesquisa do Programa de Educação Tutorial apresentado ao Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Autor: Raphael Aguiar

Orientadora: Liana Biar

Fevereiro de 2019

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A noção de autoria e uma idéia nociva de pertencimento influenciando a leitura e a produção na cultura pop moderna

Autor: Raphael Aguiar

Orientadora: Liana Biar

RESUMO

Este trabalho vem sendo realizado dentro do âmbito do Programa de Educação Tutorial (PET) do departamento de Letras da PUC-Rio. Através dele, pretendo criar uma reflexão acerca da noção fluida de pertencimento que vem sendo formada por parte do público consumidor de cultura pop, gerando tensões, impedindo o surgimento de novas leituras e sendo capaz ainda de influenciar a forma como ela é produzida.  Através das reflexões acerca da autoria, propostas por Rolland Barthes em “A Morte do Autor”, será feita uma análise narrativa do filme “Jogador Nª1”, dirigido por Steven Spielberg, ressaltando dentro do enredo pontos que possam exemplificar tais complexidades.

Palavras-chave: Cinema, Autoria, Cultura, Pertencimento, Memória, Fandom, Redes sociais. 

INTRODUÇÃO

“Assim se revela o ser total da escrita: um texto é feito de escritas múltiplas, saídas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar em que essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se tem dito até aqui, é o leitor”

  • Roland Barthes -1968

Qual o propósito de um filme? Ou melhor, qual é o sentido de qualquer forma de arte? A questão de se a arte atualmente ainda tem propósito – e é capaz de aproximar o público de seu criador – ou é só uma concha de repertórios vazia, esperando ser referenciada e exposta na prateleira, é uma constante dentro do cinema moderno.  

O cineasta Steven Spielberg, autor de produções consideradas obras-primas ainda no começo de sua carreria, tendo sempre em comum a problemática construção da conexão obra-público. Segundo o próprio cineasta, sem esse vínculo entre os personagens e a plateia, “um filme não funciona e, mais importante, o filme perde o seu propósito” (KENDRICK, 2014. Pág.17)

Em “O que é um autor?”, Foucault escreve um ensaio na busca por compreender a relação do texto com o autor partindo do questionamento de como um texto aponta para seu autor, sendo ele uma entidade anterior e exterior ao próprio texto. Assim, o filósofo examina o funcionamento do nome próprio através do conceito denominado por ele como “nome de autor”, explorando os efeitos que ele produz quando é atribuído a um texto ou conjunto de textos. Para o filósofo, esse “nome de autor” afeta a prática do discurso e serve como princípio de classificação e agrupamento.

Tomando aqui o próprio Spielberg como um exemplo, podemos apontar certas particularidades intrínsecas na identificação de suas obras, o próprio nome do cineasta originou o adjetivo Spielbergian, sendo este um termo utilizado com frequência em resenhas e críticas especializadas com o objetivo de ressaltar aspectos em um filme que remetam as obras de Spielberg.

Uma dispersão de textos, quando referida a um mesmo “nome de autor”, passa a funcionar como unidade, como uma só obra. Como consequência, o fato de atribuir um “nome de autor” a um texto afeta sua forma de circulação (sua validade, sua legitimidade, seu valor relativo). Para Foucault, o “nome de autor” permite individualizar uma prática discursiva e afeta seu modo como ela é lida e recebida por quem a consome. (1992. Pág 14-16)

 Aplicaremos no decorrer desse artigo o conceito de “nome de autor” de uma forma mais macro, partindo do pressuposto que não somente obras literárias, mas algumas outras práticas discursivas, consideradas como obras, podem ser atribuídas a um “nome de autor”. Sendo assim esse mesmo princípio pode ser aplicado ao discurso audiovisual, como obras cinematográficas.

Ressalto que ao abordar produtos oriundos da cultura pop, optei por ingorar a vertente que rotula o pop como uma estética da mercadoria. Em outras palavras, quero lançar luz ao fato de que, embora possa ser evidente que os produtos e as formas culturais em circulação na cultura pop estejam profundamente enraizados pela configuração mercantil, não devem ser ingnoradas abordagens de pesquisa dentro deste segmento cultural que foquem na forma como o publíco destinatário se reapropria destes mesmos produtos midiáticos.  

  1. UMA BREVE DEFINIÇÃO DO POP

Não é de hoje que se usa com freqüência o termo pop para classificar produtos, fenômenos e artistas atrelados a formas de produção e consumo que segue uma lógica de mercado, lógica essa que obviamente é bastante mutavél (GOODWIN, 1992).  

A cultura pop estabelece formas de consumo que permeiam e potencializam sua circulação através da criação de um certo senso de comunidade, pertencimento ou compartilhamento de afinidades performado pela produção midiática.  

É importante definir aqui que, inspirados nas abordagens dos Estudos Culturais, podemos considerar os consumidores da cultura pop não só como agentes produtores de cultura, mas também como intérpretes desta. A questão do sujeito dentro do contexto pop estabelecida por Douglas Kellner em “A Cultura de Midia” (2001). aponta para a definição de que o público interpreta, negocia, se apropria de artefatos e textos culturais, compreendendo-os dentro da sua experiência de vida. (2001. Pág. 42)

 A questão revelada é a de que produtos da cultura pop ajudam a articular normas de diferenciação dentro dos contextos contemporâneos. Distinções de raça, gênero, faixa etária, entre outros, acabam sendo forjados em função das premissas do capitalismo industrial. Esta linha de raciocínio nos leva a chamada “cultura de midia”.

Kellner chama a atenção para os interesses e jogos de posicionamento e poder que fazem com que produtos midiáticos habitem a “cultura da mídia” e como os discursos que unem objetos e disposições midiáticas. Para o autor, há uma cultura veiculada pela mídia cujas “imagens, sons e espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo de lazer, modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade.” (KELLNER, 2001. Pág 49)

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