AS FESTAS DE APARELHAGENS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO E ACEITAÇÃO DA IDENTIDADE SOB A ÓTICA DAS ARTES VISUAIS
Por: klebbersom • 15/10/2018 • Artigo • 5.234 Palavras (21 Páginas) • 196 Visualizações
AS FESTAS DE APARELHAGENS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO E ACEITAÇÃO DA IDENTIDADE SOB A ÓTICA DAS ARTES VISUAIS
CLÉBSON, José de Sousa[1]
SULZBACH, Ândrea (Profª. Orientadora)[2]
RESUMO
Este trabalho aborda as discussões acerca das festas de aparelhagens e sua contribuição para a construção e aceitação da identidade sob a ótica das artes visuais. O objetivo geral é de mostrar em que momento acontece à educação nesses ambientes na perspectiva das performances estéticas das festas de aparelhagens, e os objetivos específicos são valorizar a cultura das festas de aparelhagens como parte do contexto social e cultural, e discutir o processo educativo nesses ambientes na perspectiva estética visual, além de mostrar o valor estético cultural das festas de aparelhagens na construção da identidade do sujeito. A contribuição da presente pesquisa é mostrar que existe a educação nesses ambientes e que o processo multiculturalista é nítido nesses ambientes festivos. Os autores utilizados foram os mais recentes, como, Antonio Maurício Dias (2009), Carlos Rodrigues Brandão (2005), Antônio Flávio Moreira e Vera Maria Candau (2008), na discussão sobre o tema em questão e a metodologia adotada foi à pesquisa bibliográfica, onde cada autor discute o circuito cultural e coloca essa como cultura popular que cresce a cada ano.
Palavras chave: Educação. Aparelhagem. Estética. Identidade. Multiculturalismo.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo vem abordar as discussões acerca das festas de aparelhagens diante do cenário cultural paraense, levantando questionamentos sobre o momento que acontece a educação nesses ambientes na perspectiva das performances estéticas das festas de aparelhagens, visto que essa discussão vem sendo colocada em pauta por alguns autores contemporâneos. Dessa forma, justifica-se que nas festas de aparelhagens o sujeito cria sua performance visual baseada nos efeitos sonoros, na estética visual da aparelhagem e até mesmo sobre a influência social, sem reconhecer essa cultura que cresce banalizada por muitos e influenciada por outros, como parte da identidade. Ele precisa valorizar e se reconhecer como parte dela, uma vez que essa vivência e atração faz parte de seu contexto social e cultural. A educação acontece como parte central do processo porque é através dela que ele percebe que a cultura vem crescendo de forma exacerbada e com isso a estética visual revela uma imensidão de conceitos e propostas que são criadas no momento da escolha. A busca pela estética perfeita varia de acordo com o público na qual a atração se destina, e tudo isso acontece pela analise festivas no decorrer dos eventos.
Portanto, a presente pesquisa vem discutir sobre a valorização da cultura das festas de aparelhagens como parte do contexto social e cultural, falando sobre o processo educativo nesses ambientes na perspectiva estética visual, além de mostrar o valor estético cultural dessas festas na construção da identidade do sujeito, pois no começo elas aconteciam nas gafieiras das periferias e mais tarde nas conhecidas “sedes”, a lógica nesse contexto era se apropriar da tecnologia de som estrangeira, pois os vinis e toca-discos eram importados. No período da ditadura militar acreditava-se que o avanço tecnológico salvaria a Amazônia. Como se a tecnologia viesse do centro para salvar a periferia, contudo ocorreu o contrário. A periferia se apropria dessa tecnologia e faz outra coisa com ela. Claro que é uma forma de sobrevivência, mas também uma forma de arte. Com isso, é de suma importância que se trabalhe e se discuta esse processo educativo para que o sujeito reconheça essa cultura como parte de sua identidade.
No contexto de educação O texto “Educação? Educações: aprender com o índio” de Carlos Rodrigues Brandão nos leva refletir sobre a pluralidade do termo “educação”. Segundo Brandão (2005, p. 7) “Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar”.
A educação diz respeito às práticas sociais de distintos grupos, à diversidade de experiências e saberes. Nesse sentido ele usa o termo “Educações” para definir o conjunto de experiências que constituem o nosso dia a dia, nos permitindo lidar com o ensino e o aprendizado.
Brandão (2005) nos mostra ainda que não existe apenas um único modelo, um único local determinado para seu acontecimento e ainda, um único responsável para transmiti-la. O saber é adquirido através de diferentes vivências e situações de trocas entre pessoas em todos os contextos sociais coletivos, tais como, os ambientes familiares, religiosos, culturais e de lazer. Desse modo surgiu a ideia de falar sobre as festas de aparelhagens e de que forma acontece a educação nesses ambientes visto que estes já se solidificam como referência marcante na cultura paraense.
2 APARELHAGENS: EDUCAÇÃO, CONSTRUÇÃO E ACEITAÇÃO.
As aparelhagens surgiram nos anos 1950. Elas começaram em carrinhos de mão com uns toca-discos ligados a um alto-falante, distantes do espetáculo cheio de som e fúria de hoje. Naquela época, o “projetor de som” levava o singelo apelido de “boca de ferro”. Depois de três músicas, era preciso trocar a agulha, porque os discos de cera de carnaúba a cegavam. No início do movimento só tocavam músicas daquele tempo, ou seja, boleros, voltadas para um público mais maduras, o que hoje conhecemos como “bailes da saudade”. Essas festas ficaram mais agitadas com a entrada do merengue, calipso, cumbias que deixou os passos dos dançarinos mais soltos. A ele somaram-se, depois, o forró, o brega, e outros gêneros.
Vale ressaltar que não é só a música, mas também as estruturas monumentais de som — que piscam, rodopiam e soltam fogo — têm uma história de mais de seis décadas, deixando transparecer uma nova estética que vem se tornando o diferencial em cada aparelhagem que surge no estado. É a criatividade em tornar a sua aparelhagem mais original e atraente aos olhos dos seguidores. Com isso nos deparamos com verdadeiros espetáculos sonoros, visuais e estéticos. Muitos pensam no Norte do Brasil como um lugar provinciano, mas essas festas de subúrbio eram um espaço muito cosmopolita.
A aparelhagem sempre fez parte da nossa cultura e tinha um visual completamente diferente. As pessoas mais velhas estão morrendo e é importante que seja trabalhado esta história para que essa não vire só um papo de bar e se perca e que o individuo cresça sabendo que essa é uma cultura e deve ser reconhecida como tal, para que a partir disso se construa e se reconheça como parte dela. Na discussão acerca das festas de aparelhagens e o processo de educação os jovens não estão preocupados em manter as aparências de uns anos atrás, mas em demostrar suas felicidades diante dos fenômenos festivos.
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