Artaud E O Teatro Da Crueldade
Artigo: Artaud E O Teatro Da Crueldade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: berto • 7/5/2013 • 2.153 Palavras (9 Páginas) • 863 Visualizações
INTRODUÇÃO
O teatro, segundo Artaud, é uma tentativa de substituição da arte pela vida. Toda sua obra foi guiada pelo desejo incessante de reencontrar um ponto de utilização mágica das coisas. A supervalorização do aspecto estético fundado em aparências e a escravização do teatro a uma linguagem fixada culminaram em sua devota busca de um novo teatro.
Essa idéia de novo teatro, para Artaud, implica uma reconstrução. “É preciso que as coisas se arrebentem para se começar tudo de novo” (Artaud, 1993, página 71). Refazer o teatro é resgatar a potência poética das coisas. E essa poesia está na vida. A vida, não aquela “reconhecida pelo exterior dos fatos, mas dessa espécie de centro frágil e turbulento que as formas não alcançam” (Artaud, 1993, página 7). Devemos buscar na realidade do nosso próprio tempo a força, a intensidade dessas “formas” e transportá-las para o teatro. A verdade pura que está na vitalidade do sentimento daquilo que nos faz sentir vivos. O que Artaud quer é precisamente revivificar a noção de teatro e restituir-lhe o vigor perdido.
BIOGRAFIA
Antonin Artaud nasceu em Marselha, no dia 4 de setembro de 1896, e faleceu em Paris, no dia 4 de março de 1948. Foi poeta, ator, roteirista e diretor de teatro.
O sofrimento físico e mental de que padece e que exprime em sua correspondência com Jacques Rivière em 1923, o leva a fazer uso do ópio sob prescrição médica desde os quinze anos de idade. A droga o alivia, mas o obriga a terríveis tratamentos de desintoxicação.
Poesia, escritura, pintura, desenho, viagens e esoterismo são formas diversas de uma mesma busca. Nesta busca, o teatro e, em particular, a profissão de ator, ocupa um espaço privilegiado. A cena é o lugar eleito para a cura da dor e da impotência intelectual e criativa decorrente dela; o lugar para recuperar uma nova identidade. Ser ator é a primeira vocação de Artaud; o teatro se apresenta do início ao fim como espaço terapêutico, a cena é a possibilidade de regenerar o ser.
No ano de 1937 é internado em vários manicômios franceses e após seis anos é transferido para o hospital psiquiátrico de Rodez, onde permanece ainda três anos.
Artaud inicia uma intensa correspondência com Dr. Ferdière, médico-responsável do manicômio. Por essas cartas percebemos uma relação ambígua entre os dois: o médico reconhece o valor do poeta e o incentiva a retomar a atividade literária, mas, julgando a poesia e o comportamento de seu paciente muito delirante, ele o submete a tratamentos de eletro choque que prejudicam sua memória, seu corpo e seu pensamento.
Artaud retorna a Paris em 1946, onde morre dois anos depois. Neste período, além de importante produção literária ele desenha, prepara conferências e realiza a emissão radiofônica “Para acabar com o juízo de Deus”.
O seu trabalho ainda inclui ensaios e roteiros de cinema, pintura e literatura, diversas peças, manifestos sobre o teatro e atuações no cinema.
O TEATRO DA CRUELDADE
Em sua busca de um teatro que despertasse não apenas o interesse, mas que fosse capaz de mexer com os nervos e o coração dos homens, Artaud concebe o Teatro da Crueldade, não apenas como uma revolução cênica, mas como uma reconstrução integral da condição humana.
O termo Crueldade não se refere exclusiva e necessariamente ao horror, sangue e sadismo. Não é material, físico, nem moral. A crueldade que Artaud pretendia instaurar é algo muito mais amplo. A idéia de uma arte efêmera, na qual “cada palavra pronunciada morre e só age no momento em que é pronunciada” (Artaud, 1993, página 72); exige uma renovação a cada dia. Está submissa a necessidade de sempre criar, ao sofrimento de existir, ao esforço, à “ânsia destruidora e o esforço para chegar ao embrião inicial”. Segundo ele, essa é a verdadeira crueldade: a incessante construção e destruição. Para viver é preciso morrer.
A partir dessa crueldade ele enxerga a possibilidade do homem refazer sua própria anatomia. Ele não suportava a idéia de um corpo já pronto, de não poder ele mesmo fazer o seu próprio corpo a sua maneira. Por isso propõe a decomposição de nosso corpo e a recomposição de um sem órgãos, desfazendo-se da criação do divino, desfazendo-se do corpo social, manipulado por uma civilização alienadora que condiciona e limita o indivíduo, o impede de agir consciente e voluntariamente, em cena ou na vida. Ou seja, a idéia é desfazer-se de um corpo que não pertence mais a si mesmo.
Artaud almeja um teatro que ultrapassa a própria idéia de teatro. Pretende transformar o espetáculo em uma vivência que atinja diretamente o espectador e todo seu organismo. E para isso ele vai se utilizar de ações e imagens mimeticamente calculadas, tão exatas quanto possível e relativas aos recursos do corpo, luz, iluminação, som, figurino que induzirão o espectador a uma espécie de transe e repercutirão de forma direta em toda a sensibilidade, em todos os nervos.
Esse transe proposto por Artaud “(...) é dotado de um estatuto rigoroso e de um método científico. (...) Saber de antemão os pontos do corpo que é preciso tocar, é induzir o espectador em transes mágicos”. Ele é o obtido na medida em que “imagens físicas violentas triturem e hipnotizem a sensibilidade do espectador, envolvida no teatro como num turbilhão de forças superiores.” (Artaud, 1993, página 79).
Por isso, o teatro da crueldade é um ritual, valorizando o gestual e o objeto, trocando o lugar de palco e platéia. Em outras de suas obras, como Heliogábalo, O anarquista coroado e Viagem ao país dos Taraumaras, criou uma recíproca desse teatro, uma espécie de semiologia onde as coisas têm significado e formam discursos. A leitura de Viagem ao país dos Taraumaras, e do que escreveu depois sobre o ritual do Peiote, mostra que esse rito do sol negro foi, para ele, a mais autêntica realização do teatro da crueldade.
A ENCENAÇÃO E A METAFÍSICA
Artaud criticava veemente o teatro ocidental, principalmente se tratando do aspecto da encenação, a qual ele considerava escravizada pelo diálogo. “Como é que o teatro ocidental (digo ocidental porque felizmente
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