Arthur bispo do rosário
Por: raony3212 • 11/11/2015 • Projeto de pesquisa • 1.357 Palavras (6 Páginas) • 223 Visualizações
ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO: PSICOPATOLOGIA E PROCESSO CRIATIVO
Raony Robson Ruiz (PIBIC/CNPq-UEM), Nerli Nonato Ribeiro Mori (Orientador), e-mail: nnrmori@uem.br e Gisele de Miranda Iggnacio (Coorientadora), e-mail: gisele.tecituras@gmail.com
Universidade Estadual de Maringá/ Departamento de Teoria e Prática da Educação / Maringá, PR.
Área e subárea do conhecimento conforme tabela do CNPq/CAPES
8.00.00.00-2 Lingüística, Letras e Artes
8.03.00.00-6 Artes
8.03.01.00-2 Fundamentos e Crítica das Artes
Palavras-chave: Arthur Bispo do Rosário. Arte. Psicopatologia.
Resumo:
Este projeto visa investigar, de modo geral, o processo de criação artístico de uma pessoa com problemas de saúde mental e, de modo mais específico, como o artista Arthur Bispo do Rosário pensava e criava suas obras. Esse artista sofria de esquizofrenia paranoide e ficou internado durante cinquenta anos de sua vida em um manicômio. Buscamos respostas para as seguintes questões: Se a saúde mental poderia determinar a criação da obra de arte? Como o problema de saúde mental pode ter influenciado as obras de arte produzidas por Arthur Bispo do Rosário? Para respondê-las foram realizadas leituras sobre a vida de Bispo antes do internamento, os tratamentos por ele recebidos e como isso influenciou sua obra. Fundamentamos essa discussão com o pensamento acerca da doença mental realizado por Foucault e na teoria de divisão de hemisférios utilizada por Betty Edwards para o ensino de Arte. A realização do projeto contribuiu significativamente para a nossa formação enquanto acadêmico da área de artes visuais, bem como para a divulgação da obra de uma pessoa que transcendeu sua condição de interno e produziu uma poética surpreendente.
Introdução
Para a realização deste trabalho, em um primeiro momento, foram realizadas leituras sobre a vida e obra do artista plástico Arthur Bispo do Rosário, mostrando contradições existentes sobre sua vida. Quem foi Bispo do Rosário? Uma pessoa que perdeu controle de sua mente e se tornou escravo desta, ou que usou de sua mente para criar um lugar, uma missão para se refugiar das dificuldades de sua vida “real”? Buscando responder estas perguntas e norteados por Merleau Ponty (2004), fazemos um contraponto com Cézanne que também sofria com os distúrbios psíquicos.
Analisamos também a psicopatologia pelos estudos realizados por Foucault sobre o tema e, para fomentar a discussão, utilizamos o estudo feito por Edwards (1984), a respeito da divisão dos hemisférios cerebrais para analisar o processo criativo do artista.
Materiais e métodos
Merleau Ponty (2004), aponta que Cézanne desde pequeno sofria com distúrbios psíquicos onde tinha ataques de raiva e depressão, fazendo com que ao passar do tempo este se isolasse da sociedade evitando o contato social, seu isolamento aos homens o fez buscar refugio na natureza onde encontrou uma fuga do mundo. Ponty aponta que o próprio Cézanne começou a pensar sobre seu processo criativo “envelhecendo, indaga se a novidade de sua pintura não provinha de um distúrbio visual, se toda a sua vida não se fundamentou em um acidente do corpo”(MERLEAU-PONTY, 2004 p.113).
O autor buscou analisar como a psicopatologia do artista pode ter influenciado em suas obras, problematizou esta ideia com conceitos da psicanalise, e sua conclusão é de que não há como provar que sua vida determinou a criação de suas obras, mas também não podemos dizer que não teve nenhum tipo de interferência, Cézanne tinha uma doença, não tinha como escolher ser doente ou não, mas ele tinha o poder de escolha sobre o que fazer com está doença. A vida não determina a obra, mas pode ser a motivação para tal, Cézanne não precisava ter sido artista por ter tido sua patologia, mas ao decidir por isso criou essas obras, porque estás obras necessitavam desta vida. Sob nosso ponto de vista, há proximidade nas histórias de vida de Bispo e Cézanne. Bispo também não precisava ter escolhido seguir as vozes de sua cabeça e usar do bordado como meio de trabalho, mas ao fazê-lo e ao tentar expressar isto através dos seus bordados e artesanatos criou suas obras, que só foram possíveis de ser criadas pela vida que o artista levou, nas palavras de Merleau-Ponty (2004), a obra a fazer exigia esta vida.
Foucault (1984), discute a doença mental e pontua:
A doença não é somente perda da consciência entorpecimento de tal função, obnubilação de tal faculdade. No seu corte abstrato, a psicologia do século XIX incitava esta descrição puramente negativa da doença; e a semiologia as aptidões desaparecidas; a enumerar, nas amnésias, as lembranças esquecidas, a pormenorizar nos desdobramentos de personalidades as sínteses tornadas impossíveis. De fato, a doença apaga, mas sublinha; abole de um lado, mas é para exaltar do outro; a essência da doença não está somente no vazio criado, mas também na plenitude positiva das atividades de substituição que vêm preenchê-lo. (FOUCAULT, 1984 p.24).
Sob essa perspectiva, psicopatologia deixa de ser apenas um processo de perda, para também exaltar determinadas funções. Para Foucault (1984) a doença mental começa a deteriorar as características mais complexas da personalidade como a ideia de espaço e tempo, podendo comparar, segundo o autor, as suas ações com a de uma criança. Em estágios mais avançados perdendo todas a sua racionalidade agindo puramente por instintos. Edwards (1984), discorre sobre a divisão de hemisférios cerebrais explicando que o esquerdo é predominantemente racional, verbal e o direito intuitivo, não verbal. A autora explica: “Como já disse, os cientistas presumem que os dois hemisférios ‘ligam-se’ alternadamente — e quando um está ‘ligado’ o outro se ‘desliga’ — ou permanecem ambos ligados, sendo que um deles controla a ação (ou comportamento externo)” (EDWARDS, 1984, p. 56). Segundo a autora durante o processo de criar há transferência do hemisfério esquerdo para o direito.
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