Economia da Cultura Comum
Por: ana paula do val • 2/5/2016 • Trabalho acadêmico • 3.938 Palavras (16 Páginas) • 316 Visualizações
ECONOMIA DA CULTURA COMUM
RESUMO: Este texto analisa a relação entre desenvolvimento local e economia da cultura em suas dimensões: sociológica e antropológica. Para tanto, o artigo se pautará por uma iniciativa juvenil do extremo sul da cidade de São Paulo, que é a criação de uma linha de crédito cultural dentro da estrutura de um banco comunitário, uma moeda cultural de troca de serviços e uma agência popular de fomento cultural. Permitindo, assim, a criação de arranjos locais que imprimem uma outra lógica de democratização dos meios de produção cultural para grupos que estão às margens da produção hegemônica. Por fim, estes arranjos acabam por impactar os territórios onde se inserem promovendo desenvolvimento local.
PALAVRAS-CHAVE: economia da cultura; moedas sociais, cultura periférica; movimentos culturais; políticas culturais.
A cultura comum, ou ordinária, como definiu Raymond Williams, é de todos. Assim
as econo ” (WILLIANS 1958). A afirmação acima contrapõe a evolução do conceito de cultura em seu processo histórico definido pelos cânones das belas artes. O resultado de tal processo são políticas x õ í conjunto
diversificado de demandas profissionais, institucionais, políticas e economicas, tend
” (BOTELHO 2001). M í públicas para esta definição de cultura apontada por Williams? Talvez a resposta esteja, segundo Isaura Botelho, na dimensão antropológica, em que a cultura é compreendida como modo de vida, que se produz pela interação social, modos de pensar e sentir, na construção de
valores, no manejo de identidades e sociabilidades (BOTELHO, 2001).
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Universidade de São Paulo e especialista em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris-8. Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Fundação Armando Álvares Penteado e em Artes Plásticas pela Stadelshule - Schule Belletristik de Frankfurt. É pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação GPOPAI-USP (e.mail: anapauladoval@usp.br).
Ana Paula do Val1
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Nos últimos anos foram criados alguns programas que tentam se desvencilhar do discurso para, na prática, realizar políticas de democratização dos meios da produção cultural nas várias dimensões da cultura. O Programa Cultura Viva2 (federal) e o Programa VAI3 (município SP) são exemplos de políticas culturais que estão focadas não somente em produtos culturais, mas nos processos culturais, na valorização da diversidade cultural, articulação em redes, no impacto local e na sustentabilidade. São programas que contrapõem toda a tradição de se fazer política cultural em gestões anteriores. Entretanto, a dimensão econômica da cultura, seja ela submetida à dimensão antropológica ou sociológica, padece de diversos problemas quando se fala em sustentabilidade das ações culturais. No campo antropológico o assunto é mais grave ainda, pois políticas isoladas não atingem o plano cotidiano.
Contudo, a pesquisadora Isaura Botelho sugere dois tipos de investimentos para fomentar a cultura na dimensão antropológica. O primeiro, que se refere a “u cu c das pessoas diretamente interessadas, unindo, pelos lac
cu- c çõ ” (BOTELHO, 2001). O segundo
investimento diz respeito ao poder de mobilização cultural com outros setores do governo, como articuladora de programas conjuntos em uma perspectiva global de governo, que dependerá da força política junto ao poder Executivo (BOTELHO, 2001).
O primeiro investimento sugerido pela autora converge com as dinâmicas de produção cultural que vêm se estabelecendo em diversos contextos, seja nos pontos de cultura, seja nas comunidades tradicionais ou nas periferias das metrópoles. Atualmente, é possível encontrar uma série de grupos, coletivos e outras associações que estão engajados em promover a democratização dos meios de produção cultural, a preservação, difusão e manutenção de suas identidades, o desenvolvimento local e, sobretudo, a sustentabilidade destas ações. Neste
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í õ (www.cultura.gov.br/culturaviva). 3 O programa VAI (Secretaria de Cultura da Prefeitu S )
x abrigar experiencias de produc , circulac
í . Projetos podem uagem, oriundos da malha urbana expandida da cidade. Sua forca reside na capilaridade das iniciativas, comprovando a urgente demanda
por oportunidade entre os jovens (www. programavai.blogspot.com.br).
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sentido, as iniciativas juvenis se mostram mais pujantes, pois estão abertas ao diálogo intergeracional, às novas tecnologias, a novas experiências ou outras alternativas econômicas e preferem se arriscar mais para preservarem a autonomia, o protagonismo e suas identidades. Alguns projetos do Programa VAI, que atende um perfil juvenil das periferias4 do município (cerca de 180 projetos são contemplados anualmente), surpreendem pelo enorme impacto que geram nas regiões onde são implantados.
Neste sentido, vale ressaltar uma ação que vem acontecendo no extremo da zona sul da cidade São Paulo, na região de Campo Limpo, onde pulsa uma iniciativa juvenil de fomento à cultura de extrema importância para se entender novas possibilidades de desenvolvimento local atreladas à economia da cultura. Esta iniciativa é a implantação de uma agência de fomento à cultura popular, a Agência Popular Solano Trindade.
No entanto, para entender como a cultura passou a mobilizar uma ação tão expressiva na região é necessário buscar as suas origens nas ações dos movimentos sociais, sobretudo os liderados por mulheres, que começaram a se organizar na década de 60 para lutar pelo direito à cidade nas periferias, como acesso a água, energia elétrica, saneamento básico, equipamentos públicos, transporte, educação, saúde e moradia na região. Com o envolvimento das mulheres nas lutas políticas, sociais e comunitárias, em 1987, foi fundada a União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências (UPM), no bairro Maria Sampaio lutar pela emancipação da mulher e pela igualdade nas relações
c ” (Site da UPM). A associação se organizou para possibilitar um espaço de articulação e
desenvolvimento comunitário para a região, desempenhando o papel de pressão política como sociedade civil para melhorias locais, passando a vocalizar um importante papel no processo de representação de movimentos organizados e não legalizados, e na mobilização e fomento à
4 O conceito de periferia neste artigo, se referencia pelos conceitos da urbanista Raquel Rolnik O conceito de periferia foi forjado de uma leitura da cidade surgida de um desenvolvimento urbano que se deu a partir dos anos 1980. Esse modelo de desenvolvimento privou as faixas de menor renda de condicõ urbanidade e de inserc . E í
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