La classe operaria va in paradiso
Resenha: La classe operaria va in paradiso. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: tmarsil • 17/11/2013 • Resenha • 7.410 Palavras (30 Páginas) • 360 Visualizações
A CLASSE OPERÁRIA VAI AO PARAÍSO
Nome original: La classe operaria va in paradiso
Produção: Itália
Ano: 1971
Idiomas: Italiano
Diretor: Elio Petri
Roteiro: Elio Petri, Ugo Pirro
Elenco: Gian Maria Volonté, Mariangela Melato, Gino Pernice, Salvo Randone, Luigi Diberti
Gênero: drama
Fonte: “The Internet Movie Database” – http://www.imdb.com/
O título deste artigo não contém nenhuma alusão à eleição de Lulla para presidente. Mesmo porque, em tal eleição, a classe operária brasileira não chegou ao poder, não teve contemplado nenhum item do seu programa histórico de reivindicações e muito menos chegou ao paraíso. O título do artigo contém talvez um trocadilho infame, por conta de poder aludir à recente ida deste escriba-proletário ao bairro paulistano do Paraíso, onde o Centro Cultural São Paulo projetou um ciclo de filmes italianos (a rigor, bancário não é proletário, mas conceda-se a licença poética). Dentre os filmes deste ciclo estava “A classe operária vai ao paraíso”, de Elio Petri, realizado em 1971, o qual será objeto do presente comentário.
O personagem principal do filme, assim como Lulla, também é um Luís, o italiano Ludovico Massa, apelidado de Lulu. Assim como Lulla, um metalúrgico, e como ele, também vítima de um acidente de trabalho, no qual perde um dedo. Mas as semelhanças entre os dois param por aí. Lulu protagoniza apenas e tão somente um pequeno episódio de luta sindical. Mas esse episódio vem a ser uma preciosa fonte de ensinamentos sobre o papel da classe operária na história universal da luta de classes.
A princípio, Lulu parece ser o menos indicado para protagonizar qualquer episódio de luta sindical. Ele é o operário-padrão, o stakanovista, que se submete voluntariamente a um ritmo desumano de produção, na tentativa de ganhar um valor extra no salário referente a uma premiação por peça. O movimento sindical local está justamente em luta contra esse sistema de produção por peça, que representa um retrocesso em relação à remuneração por tempo de trabalho. Mas Lulu ignora a luta. Pior que isso, presta-se a servir de parâmetro para calibrar a produtividade dos colegas, quando os engenheiros de produção passam a exigir que os demais produzam tantas peças/tempo quanto ele.
Com isso, Lulu atrai a hostilidade de todos, não só dos colegas e dos militantes sindicais, mas também da mulher com quem vive e até de si mesmo, como veremos. Temos aqui um exame clínico da condição do operário sob o capitalismo. O operário-padrão, sem consciência de classe, acredita que o trabalho duro pode lhe dar os meios para melhorar de vida. Por acreditar nisso, persegue caninamente as metas traçadas pelos patrões. Mas o dinheiro nunca é o bastante para satisfazer a todas as necessidades. O desgaste físico e mental impede que o trabalhador obtenha alguma fruição até mesmo dos objetos de consumo aos quais tem acesso.
De nada serve uma casa mobiliada, de nada serve a televisão, que apenas apascenta o cérebro, sem alimentá-lo com nada útil. Aliás, se tivesse algum interesse em cultura, Lulu não teria tempo nem forças para dedicar-se à atividade de apreciar qualquer forma de arte ou literatura. Nem sequer a satisfação sexual ele consegue devido à devastação física do trabalho. Ou seja, em todos os sentidos, o trabalhador é um ser mutilado, um homem pela metade, um rebotalho esmagado e triturado diariamente pela rotina massacrante. Lulu gira em círculos com sua raiva, frustração, desânimo, sem saber como encontrar a solução para a existência auto-destrutiva em que vive.
A solução somente será descoberta ao custo de muita luta e sofrimento. Trata-se de uma solução que vai além da problemática de um único indivíduo, mas envolve a totalidade dos seres humanos submetidos ao capitalismo. Didaticamente, somos apresentados ao longo do filme aos quatro momentos da alienação descritos na análise clássica de Marx:
1. O homem se aliena dos resultados do seu trabalho, dos objetos sob a forma de mercadoria, da materialidade circundante em geral. O operário Lulu Massa se encontra em sua casa cercado de objetos sem utilidade e sem valor, que depois de adquiridos não podem ser consumidos nem sequer revendidos, que dirigem a sua vida e dos quais não pode sequer usufruir. O status de vida pequeno-burguesa ambicionado por sua companheira sacrifica até a convivência no ambiente do lar, tornado infernal por brigas constantes. Na civilização burguesa é mais importante conservar os objetos do que satisfazer os seres humanos.
2. O homem se auto-aliena no processo de trabalho. O processo de trabalho não é a realização, mas a negação do homem. Aqui ele se sente objeto e não sujeito. O homem se torna um apêndice das máquinas. O operário-modelo Lulu escraviza-se ao ritmo repetitivo das máquinas, esforçando-se para cumprir cotas de produção e superar os demais operários. Ele haure motivação inserindo conotação sexual aos seus gestos. Trabalha repetindo para si mentalmente o refrão: “uma peça, um rabo, uma peça, um rabo, uma peça, um rabo”, desviando para a atividade de trabalho o desejo sexual por uma colega de trabalho.
O trabalho é uma atividade torturante que não tem significado em si, mas é necessário como meio de sobrevivência. O homem se desumaniza quando trabalha, pois torna-se máquina, animal de carga. O trabalho é sua tortura e não sua realização. O trabalhador se sente humano quando está fora do trabalho e não dentro dele. E no entanto, este “sentir-se humano” é um mero intervalo escapista no qual não são permitidas outras atividades criativas, nem sequer o sexo, pois o intervalo se destina apenas a repor as forças do animal-trabalhador para a jornada seguinte.
3. O homem se aliena em relação à finalidade do seu trabalho. O resultado do dia de trabalho de um operário é uma porção de objetos que lhe são estranhos, indiferentes. O operário é considerado louco porque não consegue ver o sentido humano daquilo que faz, o que torna o seu trabalho desumano. O velho Militina, ex-operário internado no manicômio, explica a Lulu que a sua loucura foi diagnosticada quando inquiriu
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