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O Deputado, Charles Durand

Por:   •  6/5/2018  •  Trabalho acadêmico  •  8.980 Palavras (36 Páginas)  •  226 Visualizações

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- Deputado, Charles Durand. O senhor solicitou essa sessão para falar a respeito da alimentação. Por favor, apresente a questão.

-  Muito obrigado e boa noite, senhor presidente da câmara. Hoje eu gostaria de levantar uma questão muito importante que é considerada TABU a muito tempo em nossa sociedade, que é o consumo de carne.

A sala não era muito grande. Uma reunião simples, contudo, importante para Charles. Dentro da sala redonda haviam seis poltronas, essas seis viradas para uma mesa, onde se sentava o presidente da câmara. Charles Durand, um deputado honesto com o desejo de fazer o bem era o foco dessa sessão. Charles estava sentado na poltrona dois ao lado esquerdo. Suas mãos tremiam, mas seus olhos demonstravam estar concentrado.

Charles olhou para o primeiro da esquerda, balançou a cabeça e fez um simples cumprimento. – Deputado Mateus. – Olhou para a sua direita e fez o mesmo gesto. – Deputada Joana. Charles cumprimentou um por um, então depois que cumprimentou o deputado da sexta poltrona, se virou para a mesa e cumprimentou o presidente. – Senhor Presidente

- A centena de anos, senhor presidente, que nosso estilo de vida, na questão alimentícia, mudou drasticamente. Antes de nossos avós, antes dos avós de nossos avós, talvez, a carne animal foi proibida para consumo. Os animais se tornaram sagrados, tanto em questão religiosa, como biológica. Precisamos dos animais para que a natureza funcione perfeitamente, e isso, é algo que pode ser visto sem muito esforço, contudo, senhor presidente. Nunca paramos de comer carne.

Os deputados olharam uns para os outros. Já sabiam o que viria a seguir.

- Quando fui eleito, senhor presidente, eu prometi ao povo esclarecer coisas a eles, coisas que acontecem e são ignoradas, ou omitidas.

- O senhor quer saber de onde vem a carne, Charles?

- Não, senhor presidente, essa resposta, todos nós sabemos, contudo, a pergunta importante, é saber, como elas chegam aos nossos mercados.

- A quanto tempo você é, um deputado eleito, deputado Durand?

Charles não respondeu.

- Um pouco menos de três meses. – Respondeu Otavian, o deputado sentado na poltrona número cinco.

- Não é essa a questão deputado Otavian. Por anos, os cidadães comem carne, alguns sabem coisas, outros não. Muitos nem sabem que tipo de carne é essa que estão comendo, outros teorizam. Existem diversos blog’s na internet sobre o que poderia ser essa carne, então eu pergunto a todos os deputados. Por qual razão o povo não pode saber o que estão comendo?

- Todos sabem o que estão comendo, deputado Durand. Deputado, você come carne?

Charles balançou a cabeça positivamente

- Sabe que tipo de carne está comendo, deputado?

- Sei, senhor presidente.

- Saber essa informação não é o suficiente?

- Para mim, sim, mas não para o povo, e, se o povo quer saber, eu irei atrás. Por isso me colocaram aqui.

- Deputado Durand. Que carne comemos? – Perguntou a deputada Joana. – A carne que comemos é artificial?

Charles balançou a cabeça negativamente.

- Carne contrabandeada de animal?

- Não, senhora deputada.

- Então, deputado Durand. Que tipo de carne estamos comemos?

Os deputados focaram seus olhares no rosto de Charles.

- Nos alimentamos de carne humana, deputada Joana!

- Você come carne humana desde sua nascença deputado. Seu pai também, seu avô, o pai do seu avô e talvez o avô de seu avô. Que diferença isso faz agora?

- Eu sei, a senhora sabe, e o presidente também sabe, mas o povo, não são todos que sabem.

- Eles não sabem Durand, pois eles não querem saber esse tipo de coisa.

- Acho que estão errado, deputado Otavian. – Durand passou os dedos entre os grossos fios de cabelo em sua cabeça, como se aquele movimento o acalmasse. – As pessoas fazem protestos, queimam carros, fazem greves, lutam por seus direitos. Alguns, querem o fim da carne, outros querem saber que carne é essa que comem, e alguns nem se importam tanto assim, mas todos querem algo em comum. Sabe o procedimento para essas carnes chegarem aos pontos de venda. Esse tipo de informação, ninguém tem, apenas teorias. As únicas pessoas que sabem sobre isso, estão nessa sala, com exceção de minha pessoa.

Os deputados olharam uns para os outros.

- A maioria aqui, na verdade, não sabe, e não temos muito interesse em saber. – Respondeu Deputado Mateus.

- Quem nesta sala sabe o procedimento a respeito das carnes?

Nenhum político levantou a mão. Charles ficou estático

- Acho que essa sessão pode ser finalizada, certo?

- Mais algo, deputado Charles?

Era visível o quanto os deputados não queriam falar sobre o assunto. Para Charles, seria impossível conseguir alguma informação ali. Charles suspirou e disse que poderia concluir, agradeceu pelo tempo de todos presentes e pediu para se retirar.

O mundo havia mudado muito em cerca de cento e cinquenta anos. Guerras aconteceram, decisões foram tomadas, países se uniram e se separaram. O ano era dois mil cento e sessenta, e o tema principal da década era o problema com a carne, embora já se houvesse substituído a carne animal a quase cem anos. Por que faria diferença agora? Qual a razão de tantas manifestações na rua, qual a razão de Charles Durand fazer uma pequena reunião com cinco deputados e o líder da câmara para uma reunião? Um site.

Todos os dias deferentes tipos de sites nascem e morrem sem ser percebidos, mas não esse. “Averdade.com” era o site que havia ganhado um absurdo destaque em poucos meses devido a seus curiosos assuntos. O site falava de seres de outros planetas, deuses, continentes e civilizações escondidas, mas era apenas teorias singelas, ninguém ligava, contudo, eis que surge a matéria:

“Você sabe o que está comendo?”

Um texto de cerca de 1500 palavras que “revelava a verdade” para o povo. Dizia que a carne que todos comiam era carne humana, mas qual era o problema nisso?

A maioria do povo sabia que comia carne humana. Isso é um fato. Os humanos a anos se alimentam deles mesmos, mas, de onde vem essa carne? De onde surge a seleção de carne?

O texto dizia que as pessoas eram sequestradas nas ruas e levadas para uma fazenda de abate, onde eram brutalmente assassinados e estripados, para ser embalados e vendidos nas mercearias a preço de trocado. Fotos de moral duvidosa tornava o conteúdo verídico para um leigo.

Mas qual era a verdade? Esse era o trabalho de Charles Durand. Descobrir como funcionava tudo isso.

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