O predomínio da ciência na cultura ocidental
Resenha: O predomínio da ciência na cultura ocidental. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: mocitaiba • 6/10/2014 • Resenha • 1.635 Palavras (7 Páginas) • 287 Visualizações
A preeminência da ciência na cultura ocidental é manifesta. Quem
quer que estude a sociedade moderna deve reconhecer a importância
de compreender como a ciência conduz sua tarefa de inventar,
testar e finalmente aceitar ou rejeitar teorias. Uma cultura que se
orgulha de sua capacidade de auto-exame crítico deve ter em alta conta,
na sua agenda intelectual, o estudo sistemático dos processos de mudança
e invenção de teoria na ciência. Seja pelo propósito prático de
controlar a direção e o progresso da ciência, seja pelo propósito intelectual
de determinar a natureza e o escopo do conhecimento humano,
há excelentes razões para se tentar examinar a dinâmica da ciência.
Ocorre, no entanto, que de fato não possuímos um quadro geral
bem confirmado de como a ciência funciona, nem uma teoria da ciência
que mereça assentimento geral. Tivemos, certa vez, uma posição filosófica
bem desenvolvida e historicamente influente, a saber, o positivismo
ou empirismo lógico, que agora se encontra efetivamente refutada.
Temos algumas recentes teorias da ciência que, embora despertem
grande interesse, quase nunca têm sido de algum modo testadas. E temos
hipóteses específicas sobre vários aspectos cognitivos da ciência,
que são amplamente discutidas mas completamente indecididas. Se alguma
posição existente realmente proporciona uma compreensão viável
de como a ciência opera, nós estamos longe de poder identificá-la.
No início dos anos 60, algumas novas teorias da ciência foram
desenvolvidas como alternativas ao positivismo; trata-se dos trabalhos
de N.R. Hanson, Paul Feyerabend, Stephen Toulmin e, acima de tudo,
Thomas Kuhn. Essas contribuições, ainda que problemáticas em suas
teses positivas, puseram termo efetivamente à hegemonia do positivismo
ao revelarem que suas doutrinas centrais (tais como a cumulatividade
da ciência, a redutibilidade da linguagem teórica à observacional)
conflitam radicalmente com a prática real da ciência. Kuhn destacou-se,
pelo menos retrospectivamente, como a figura dominante dos anos 60.
Na reação a Kuhn, entrou em cena nos anos 70 uma nova geração de
teóricos: I. Lakatos, L. Laudan, G. Holton, M. Hesse, J. Sneed, E.
McMullin, I.B. Cohén, W. Stegmüller, D. Shapere e N. Koertge. Todos
esses autores desenvolveram modelos de mudança e progresso científico
que, segundo eles, estavam baseados no, e apoiados pelo, estudo empírico
das obras da ciência real, por oposição aos ideais lógicos ou filosóficos
de garantia epistêmica enfatizados pela tradição positivista. Por
todos eles, a filosofia da ciência foi caracterizada como uma disciplina
enraizada em, e responsável por, sua história.
Contudo, nenhuma dessas teorias "pós-positivistas" foi testada
de uma maneira que não fosse a mais perfunctória e superficial. Nada
semelhante aos padrões de teste que esses próprios autores sustentam
dentro da ciência foi alguma vez satisfeito por qualquer uma de suas
teorias sobre a ciência. Aqueles de nós que reclamam uma modesta destreza
em lógica da inferência empírica mostram-se notavelmente indiferentes
quanto a submeter as próprias teorias ao escrutínio empírico,
embora nossas próprias filosofias da ciência sugiram que sem tal escrutínio
poderíamos estar construindo castelos no ar.
A nosso ver, está na hora de corrigir tal situação. Devoções à importância
do teste empírico devem dar lugar às particularidades do próprio
processo de testar. As notas promissórias emitidas nos anos 60 e 70
estão hoje vencidas. Ou nós decidimos agora como testar esses modelos
e procedemos ao teste, ou devemos abandonar qualquer pretensão de
possuirmos a mais tênue garantia para acreditar que a ciência é do modo
como nós a supomos. Os chavões a propósito do naturalismo em epistemologia
devem agora dar lugar a algo real, ou então devemos confessar
qual e exatamente a alternativa de estatuto epistêmico (extra-empírico)
que tencionamos para nossa teorização sobre a ciência. Este ensaio
é um encaminhamento preliminar na primeira direção.
Obviamente, o primeiro passo no sentido de trazer a evidência
empírica para sustentar teorias da ciência é identificar as conjecturas
existentes e específicas sobre os processos de mudança científica a serem
testadas. Encontramos essas conjecturas nas obras de autores como
Kuhn, Lakatos, Laudan e Feyerabend. De modo alternativo, poderíamos
tentar testar esses modelos "holisticamente", através de uma avaliação
comparativa deles em sua
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