Os Conceitos chaves da museologia
Por: Fernanda Helena • 8/5/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 3.144 Palavras (13 Páginas) • 328 Visualizações
MUSEU
s.m. (do grego mouseion, templo das musas). Equivalente ing.: museum; fr.: musée; al.: Museum; it.: museum; port.: museu.
A terminologia “museu” pode designar tanto a instituição como ao estabelecimento ou lugar geralmente concebido para proceder a seleção, estudo e apresentação de testemunhos materiais e imateirais do indivíduo e seu meio ambiente. A forma e funções deste têm variado sensivelmente ao passar dos séculos. Seu conteúdo se diversificou assim como sua missão, forma de funcionamento e sua administração.
1. A maioria dos países estabelecem definições de museu através de textos legislativos ou por intermédio de suas organizações nacionais. A definição profissional de museu mais difundida continua sendo até hoje a dita em 2007 nos Estatutos do Conselho Internacional de Museus (ICOM): “o museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial da humanidade e de seu meio-ambiente, com fins educacionais e de lazer”. Tal definição substitui àquela que serviu de referência ao mesmo Conselho durante mais de trinta anos: “o museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público que realiza investigações relativas aos testemunhos materiais do homem e de seu meio-ambiente, os adquire, conserva, comunica e especialmente os exibe com fins de estudo, educação e lazer” (Estatutos de 1974).
As diferenças entre as duas definições, a priori pouco significativas (uma referência agregada ao patrimônio imaterial e algumas mudanças estruturais), testemunham parcialmente a diminuição da importância concedida à função da investigação no seio do museu e do ICOM. Desde suas origens, a definição de 1974 é objeto de uma tradução bastante livre que reflete a lógica anglo americana sobre o papel do museu na transmissão do patrimônio. Assim, como costuma acontecer na maioria das organizações internacionais, o Inglês se converte na língua de trabalho mais difundida nas reuniões do ICOM. Inclusive se parece que é com base na tradução inglesa que se desenvolvem os trabalhos que tendem a conceber uma nova definição. A estrutura particular da definição francesa de 1074 põe em questão a investigação, apresentada como o princípio básico da instituição. Tal princípio (modificado pelo verbo “estudar”) foi desprezado em 2007 entre as funções gerais do museu.
2. Para numerosos museólogos, especialmente aos quais reclamam que a museologia ensinada entre os anos de 1960-1990 na escola tcheca (a Escola Internacional de Verão de Museologia de Brno), o museu não é senão um meio entre outros que testemunha a “relação específica do Homem com a realidade”, relação determinada pela “coleção, conservação consciente e sistemática (...) e o uso científico, cultural e educativo de objetos inanimados, materiais, móveis (sobretudo tridimensionais) que documentam o desenvolvimento da natureza e sociedade” (Gregóvora, 1980). Antes que o museu fosse definido como tal no séc. XVIII, segundo um conceito tomado da antiguidade grega – que volta a existir no renascimento – existem, em toda a civilização, lugares, instituições e estabelecimentos que se aproximam, mais ou menos diretamente, do que atualmente englobamos dentro do vocábulo museu. Neste sentido, a definição do ICOM se considera marcada por sua época e seu contexto ocidental, mas também muito normativa, já que sua finalidade é essencialmente corporativista. Uma definição “científica” de museu deve, neste sentido, se desprender de alguns elementos contribuídos pelo ICOM, tais como o caráter não lucrativo do museu. Um museu lucrativo (como o Museu Grevin de Paris) continua sendo um museu, mesmo que não seja reconhecido pelo ICOM. Deste modo, se pode definir o museu de maneira mais ampla e objetiva, como “uma instituição museal permanente que preserva coleções de ‘documentos corpóreos’ e produz conhecimento através deles” (van Mensch, 1992). Schärer, por sua vez, o define como “um lugar onde as coisas e valores relacionados a elas são protegidos e estudados, como também comunicados em vários signos, a fim de interpretar feitos ausentes” (Schärer, 2007) ou de maneira tautológica, o lugar onde se produz a musealização. Ampliando o conceito, o museu pode ser tomado como um “lugar de memória” (Nora, 1984; Pina, 2003), um “fenômeno” (Scheiner, 2007) que engloba instituições, lugares diversos, territórios e experiências – leia-se espaços imateriais.
3. Desde esta mesma perspectiva e mais além do caráter limitado do museu tradicional, este se define como uma ferramenta ou função concebida pelo Homem dentro dum marco de classificação, compreensão e transmissão. Seguindo a linha de pensamento de Judith Spielbauer (1987), se pode concebê-lo também como um instrumento destinado a favorecer “a percepção da interdependência do homem com o mundo natural, social e estético, oferecendo informação, experiência e facilitando a compreensão de si mesmo, graças a um contexto mais amplo”. O museu pode, também, se apresentar como “uma função específica que pode tomar ou não a figura de uma instituição, cujo objetivo é assegurar, por meio da experiência sensível, a classificação e a transmissão da cultura, entendida como o conjunto de aquisições que fazem de um ser geneticamente humano um homem” (Deloche, 2007). Estas últimas definições englobam tanto os museus chamados impropriamente de virtuais (principalmente aqueles que se apresentam em suporte de papel, CD-ROM ou internet) como aos institucionais, mais clássico, que incluem até os antigos museus, mais próximos das escolas filosóficas que as coleções no sentido habitual da terminologia.
4. Esta última acepção remete aos princípios manifestados na concepção inicial do ecomuseu, instituição museu que associa o desenvolvimento de uma comunidade à conservação, preservação e interpretação de um patrimônio cultural possuído pela mesma, representante de um meio de vida e de trabalho em um território dado e da investigação vinculada ao mesmo. “O ecomuseu (...) expressa as relações entre o homem e a natureza através do tempo e espaço de um território; se compõem de bens de interesse científico e cultural reconhecidos, representativos do patrimônio da comunidade a que serve: bens imóveis não edificados, espaços naturais selvagens, espaços naturais com a intervenção do homem; bens imóveis edificados, bens móveis, bens trocáveis. Compreende uma cabeça de distrito, sede de suas principais estruturas: recepção, investigação, conservação , apresentação, ação cultural, administração e, em especial, um ou mais laboratórios de campo, órgãos de conservação, salas de reunião, uma oficina sócio-cultural, um albergue (...); percursos e estações para a observação do território; diferentes elementos arquitetônicos, arqueológicos, geológicos (...) sinalizados e explicados” (Rivière, 1978).
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