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PENSAR A CIDADE (COMO ARQUITECTURA)

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Por:   •  1/2/2015  •  601 Palavras (3 Páginas)  •  196 Visualizações

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PENSAR A CIDADE (COMO ARQUITECTURA)

Resultado de algumas adaptações introduzidas no extracto de um texto escrito a propósito da minha participação no concurso de ideias para a requalificação da Baixa Portuense (1999), aqui ficam algumas notas que, na sua essência, condensam o modo de pensar a cidade (como arquitectura) subjacente às duas intervenções no projecto HABITARES SERRALVES:

Face ao figurativismo acéfalo de consumo efémero onde em parte radica a actual confusão a nível de referenciação dos modelos arquitectónicos, estarão na ordem do dia as acções tendentes a descodificar todas as intervenções redutoramente limitadas a simples operações de cosmética para “embelezar” a cidade. Tais intervenções, conotadas com uma visão indisfarçavelmente “fachadista”, serão aquelas que, privilegiando o tratamento epidérmico dos edifícios, não entendem a sua imagem como indissociável das unidades arquitectónicas integrantes e das ideias da sua transformação.

Tal visão, sintoma de confrangedor provincianismo pouco dignificante para uma cidade que, como o Porto, ainda recentemente se quis “europeia”, estará certamente presente na reabilitação de alguns segmentos significativos do Centro Histórico onde o recurso ao “pastiche” tem triunfado para gáudio dos amadores de cenários. Casos em que a dissociação entre características tipológicas, morfológicas e construtivas das unidade arquitectónicas tem informado amiúde uma concepção tendencialmente figurativa que, no fundo, condensa em si própria a negação da essência da organicidade da arquitectura que pretende retomar. Porque, e citando Louis Khan, “(...) um cavalo pintado com riscas não é uma zebra (...)”.

Como, e aí de modo caricatural, estará também presente na desastrosa política camarária que, apressadamente procurando esboçar desculpas para a voraz dinâmica neo-liberal de transformação da cidade, obriga à manutenção de fachadas antigas de alvenaria de granito em ruas nas quais, sob o pretexto de regulamentos, permite a elevação de cércea das novas edificações. Uma prática que tem vindo a esboçar os contornos de uma paisagem grotesca onde a cidade viva espreita por detrás e por cima de fachadas mumificadas reduzidas à literal espessura das suas paredes. Daí resultando, para além da total dissociação entre imagem e conteúdo, uma radical alteração da arquitectura do lugar, com o desenhar de uma nova escala de rua na qual as superfícies, desenraizadas do seu contexto de origem, se deixam naturalmente de rever. É que a identidade da arquitectura da cidade não é apenas configurada pelo registo saudosista da sua memória mas, e sobretudo, pela relação entre a “espessura” arquitectónica do edificado e a forma dos espaços exteriores confinados, a partir da qual ganham sentido a escala e a atmosfera do lugar.

Pelo nosso lado, pensamos que ao culto metafórico da imagem há que opor uma cultura arquitectónica integrada capaz de, condensando a complexidade, tecer sem esmorecimentos a apertada trama onde o projecto de arquitectura, como acto esclarecido, se deve movimentar. Nesse sentido, a ânsia de visibilidade será inimiga da profundidade das intervenções e, como tal, da efectiva requalificação do tecido urbano cujo desgaste é, por inerência dessa

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