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RESENHA A MAIS-VALIA VAI ACABAR, SEU EDGAR

Por:   •  4/9/2022  •  Resenha  •  1.473 Palavras (6 Páginas)  •  125 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE[pic 1]

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES - TEATRO

DISCIPLINA: DRAMATURGIA II

PROFESSORA: ELISA MARTINS BELÉM VIEIRA

ALUNO: TARCÍSIO ALVES DOS SANTOS

RESENHA

A MAIS-VALIA VAI ACABAR, SEU EDGAR

JUNHO 2022

A peça, “A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar”, foi escrita pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, em 1960. Vianna era participante do Teatro de Arena, que tinha forte influência do teatro político de Bertolt Brecht. Com base nesse lado político, social e didático Vianna junta-se a outros intelectuais ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE) e criam o Centro Popular de Cultura (CPC). O CPC queria trazer a conscientização das classes populares, uma “arte revolucionária”, uma "cultura nacional”, popular, democrática, e romper com a forma atual do teatro tradicional. Há uma forte reverberação entre o teatro épico e a peça escrita por Vianna, aliás, foi justamente a partir dessa peça que um teatro político e popular começou a ser articulado pelo CPC.  “A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar”, incorpora Brecht ao teatro Brasileiro, e essa peça tem pura conotação não só ao seu aparato político e social no qual Brecht enfatizava em suas obras, mas também pela produção de uma crítica de pessoas vivendo em meio a uma sociedade de exploração capitalista e da desinformação sobre ela.

Na peça os operários questionam (notoriamente o Desgraçado 4 faz esse papel, mas elevando a reflexão aos outros personagens desgraçados) sobre sua miserabilidade, da sua condição de vida em detrimento da dos capitalistas, no qual tinham um vida cheia de regalias, enquanto eles tinham uma vida bem diferente, sem prazeres, com desprezo moral, emocional e alienados em relação a sua própria condição humana.  

A peça é composta por bastantes personagens, porém trata-se apenas de representação genérica dos personagens, então, aqui, como também nas peças do Brecht, se tem um distanciamento do ator em relação realidade. Os personagens são apenas arquétipos comuns da sociedade, desconhecidos na sua individualidade, mas ao mesmo tempo conhecidos por todos na sua condição social. As reflexões sobre os dramas dos personagens acaba sendo uma reflexão que fazemos de forma política/social, seja conosco, ou em relação a sociedade como um todo. E assim, mais uma vez Vianna acaba tendo uma relação de proximidade com o teatro brechtiano em relação a questão dialética didática no qual o texto foi escrito.

A peça tem seu enredo sobre a questão da mais-valia, conceito empregado pelo filosofo alemão Karl Marx (1818-1883) sobre o salário pago ao trabalhador e o valor de horas trabalhadas, ou de outra forma, o valor que cada mercadoria vale seria o valor da quantidade de trabalho na sua produção. Desse modo, Marx entendia que o capitalista explora o trabalhador para obter lucro, uma vez que ele tem que trabalhar bem mais do que é pago pelo que produz, e é exatamente isso, o aumento da mais-valia faz com que o trabalhador trabalhe mais tempo, para que o capitalista tenha seu lucro. O trabalhador acaba trabalhando mais tempo do que o necessário sem que lhe seja atribuída nenhuma recompensa por isso. Toda recompensa seria o lucro que o capitalista ganha sobre a exploração do trabalhador.

No começo da peça os trabalhadores, que aparecem pelo nome de “desgraçados”, (desgraçado 1, desgraçado 2 (feliz), desgraçao 3, desgraçado 4) aparecem completamente alienados de sua classe social, estranhos a si mesmo, dominados por um fetichismo excêntrico a sua natureza, entregues a ideologia capitalista sem nem mesmo saber o que é sentar.  Vejamos:

D1 - Ajuda-me aqui, 2. Eu quero me dá uma sentadinha. (D2 ri de tudo)

D3 - Senta. (D1 vai pôr a cabeça no chão) De assim, não. Acho que não é com a cabeça, não.

D1 - Eu esqueci.

D3 - A bunda, põe ela no chão. A perna é que eu não sei.

D2 - A perna tira. (D3 e D2 desistem de descobrir. Se atiram no chão)

D1 - A perna é dobra! (Senta. Satisfeito)

D2 - Quero ver levantar. (Todos olham para D4, fazem sinais para que se sente)

D4 - Não! Chega pra mim! Eu só trabalho, trabalho, trabalho... (Perde o fôlego)

D3 - Eu te ajudo: trabalho, trabalho, trabalho...

D4 - E tenho dois minutos de descanso? Nunca vi o sol, não tomei leite condensado, não canto na rua, esqueci de sentar, quando chega a hora de descansar, fico pensando na hora de trabalhar! Chega!

                                             (VIANNA FILHO, 2007. p.5)  

 Com insatisfação sobre a vida que leva e querendo respostas do porquê a vida dele e de seus companheiros eram tão diferentes das quais os capitalistas levavam, o “Desgraçado 4” questiona os valores sociais e sai em busca de encontrar uma resposta para a vida tão desgraçada que leva. Não bastaria apenas uma resposta superficial sobre os dilemas da vida, mas encontrar uma resposta que lhe trouxesse a consciência toda a situação de classe que eles e seus amigos viviam. Na busca por respostas o “Desgraçado 4” começa a duvidar de respostas vazias e a questionar seus próprios companheiros, os capitalistas, e a quem encontra pela frente do porquê levarem uma vida tão desgraçada.

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