A Entrevista em Profundidade
Por: Philipe Santos • 12/7/2015 • Relatório de pesquisa • 2.161 Palavras (9 Páginas) • 554 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
APLICABILIDADE DA ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE
MÉTODOS QUALITATIVOS I
RECIFE, 2015
1. Qual o entendimento político e jurídico que os eleitores pernambucanos têm da operação Lava-Jato e da ideia acerca do impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
Com início em um posto de gasolina –de onde surgiu seu nome–, a Operação Lava Jato, deflagrada em março de 2014, investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. Uma das primeiras prisões foi a do doleiro Alberto Youssef. Três dias depois, houve a prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Costa era investigado pelo Ministério Público Federal por supostas irregularidades na compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006. Ele passou a ser investigado pela PF após ganhar, em março de 2013, um carro de luxo de Youssef. Após as prisões, uma série de vínculos entre o doleiro, o ex-diretor da Petrobras, empreiteiras e políticos é revelada, iniciando a repercussão do caso que viria a ser o de maior esquema de corrupção já divulgado no Brasil.
A mídia vem repercutindo o caso desde então de maneira sistemática, como já é esperado em todo evento dessa dimensão. Entretanto, parte dela, a chamada Grande Mídia, constituída em sua maior parte pelas Organizações Globo e pelo Grupo Abril, move-se para uma direção quase que inquisidora, afastando-se de uma das principais características midiáticas, a imparcialidade. Essa conduta, muitas vezes, propicia uma condenação dos réus políticos por parte da sociedade, sem mesmo terem sido julgados e/ou condenados. Como exemplo, cito as críticas a presidenta Dilma Rousseff que, apesar de não estar sendo investigada, é alvo de pedidos ardentes de impeachment, tamanha é a intolerância partidária
Exposto essa conjuntura, presumo que aqueles que votaram contrariamente a presidenta Dilma Rousseff, além das suas condições socioeconômicas, desejam a deliberação do seu impeachment e, por outro lado, aqueles que votaram favoravelmente presumo que anseiam a continuação do mandato da mesma. Esse é o resultado que eu espero, levando-se em consideração essas variáveis. Porém, qual é o peso que a Grande Mídia tem sobre o posicionamento do eleitor pernambucano em relação a essa questão? Essa é a pergunta definidora, principal, da minha pesquisa. Será que o eleitor possui conhecimentos extras que vão de encontro com o que a Grande Mídia divulga? E sobre o esquema da Lava-Jata, o que ele acha desse caso? Há chances de “respingar” no Executivo? E se ocorrer, o que deve ser feito? Essas últimas são algumas das problemáticas que procurarei esclarecer através de uma pergunta mais explanatória, abrangente, para fins da pesquisa: qual o entendimento político e jurídico que os eleitores pernambucanos têm da operação Lava-Jato e da ideia acerca do impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
São através desses questionamentos que tentaremos saber, com clareza, a diferença de pensamento dos eleitores pernambucanos de esquerda e direita, liberal e conservador, sobre esse caso e fornecer as respostas que podem ser encontradas numa relação “íntima” do pesquisador com o seu objeto de estudo, cujo resultado esperado pode ser alcançado através de uma entrevista em profundidade individual, método comumente utilizado nas pesquisas qualitativas.
2. Entrevista em Profundidade: definição e explanação
"Entrevista é uma das mais comuns e poderosas maneiras que utilizamos para tentar compreender nossa condição humana", dizem Fontana & Frey (1994, p.361). Ela tornou-se técnica clássica de obtenção de informações nas ciências sociais, com larga adoção em áreas como ciência política, sociologia, comunicação, antropologia, administração, educação e psicologia. A partir da Segunda Guerra Mundial, as entrevistas passam a possuir orientações metodológicas próprias. Entre as principais qualidades dessa abordagem está a flexibilidade de permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar livremente as perguntas. Este tipo de entrevista procura intensidade nas respostas, não-quantificação ou representação estatística.
A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer. Os dados não são apenas colhidos, mas também resultado de interpretação e reconstrução pelo pesquisador, em diálogo inteligente e crítico com a realidade. Nesse percurso de descobertas, as perguntas permitem explorar um assunto ou aprofundá-lo, descrever processos e fluxos, compreender o passado, analisar, discutir e fazer prospectivas. Possibilitam ainda identificar problemas, microinterações, padrões e detalhes, obter juízos de valor e interpretações, caracterizar a riqueza de um tema e explicar fenômenos de abrangência limitada.
Outra técnica também foi cogitada para essa pesquisa: Grupo Focal. Constitui um método em que se reúnem os entrevistados para um diálogo, uma conversa, sobre o tema proposto. Entretanto, para fins da minha pesquisa, decidi não utilizá-lo por apresentar dois problemas, ao meu ver: primeiro, que as pessoas entrevistadas poderiam distorcer as suas respostas, com receio de reações dos outros participantes, já que o assunto abordado costuma gerar bastante confusão e rejeição para com opiniões contrárias, e segundo que fica muito difícil convencer uma pessoa residente de determinado bairro nobre a ceder parte do seu tempo para o trabalho. Sendo assim, escolhi a entrevista em profundidade, pois me forneceu mais confiança para essa atividade. Como técnica de pesquisa, ela exige elaboração e explicitação de procedimentos metodológicos específicos: o marco conceitual no qual se origina, os critérios de seleção das fontes, os aspectos de realização e o uso adequado das informações são essenciais para dar validade e estabelecer as limitações que os resultados possuirão.
2.1. Tipologia das Entrevistas
As entrevistas em profundidade são geralmente individuais, embora seja possível, por exemplo, entrevistar duas fontes em conjunto. As entrevistas são classificadas com grande variedade de tipologias, geralmente caracterizadas como abertas, semiabertas e fechadas, originárias, respectivamente, de questões não estruturadas, semiestruturadas e estruturadas. Neste trabalho, o tipo escolhido é a semiaberta, por ser flexível e por explorar ao máximo o tema abordado (como a aberta) e, o que lhe é próprio, por utilizar um roteiro-base, importante para a condução da entrevista, dada a possibilidade de esquecimento de pontos importantes ou falhas durante a ação, cujo problema poderia ter sido evitado ao se utilizar um tópico-guia.
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