A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências
Por: camilalirarc • 15/4/2016 • Resenha • 931 Palavras (4 Páginas) • 425 Visualizações
No primeiro capítulo do livro A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências (Editora da Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 1995) o autor, Fourez, define a filosofia como uma disciplina de pensamento. O objetivo da obra é apresentar outras formas de pensamento, que não sejam baseados apenas na ciência, a fim de incentivar cientistas e professores de ciências a abordar a realidade não apenas no âmbito científico, mas também de forma mais humana. Além disso, o autor exemplifica: “assim como é insensato aprender matemática sem estudar cálculo diferencial e integral, é igualmente impossível fazer filosofia sem as técnicas e vocabulário apropriado.” A partir disso conclui-se que para refletir sobre os problemas da sociedade e questões humanas, é preciso ter ferramentas para tal, transmitidas de geração para geração.
O texto nos apresenta instrumentos de linguagem utilizados para falar do mundo: os códigos “restrito” e “elaborado”. O primeiro descreve as coisas e os objetos sem preocupar-se em interpreta-los, e sim em fazer com que uma pessoa que conheça a língua seja capaz de reconhece-los. Ou seja, é a linguagem do cotidiano, em que não é necessário aprofundar o pensamento, como é o caso do discurso científico. Já no segundo é preciso ultrapassar os limites da linguagem do dia-a-dia e aprofundar na reflexão, a fim de interpretar o mundo, os diversos acontecimentos, a vida, a sociedade. Por fim, segundo Fourez “o primeiro fala do "como" das coisas, do mundo e
das pessoas, ao passo que o segundo procura dizer algo do “porque” e do “sentido”.
O autor inicia uma abordagem filosófica a fim de inserir os leitores em um ambiente onde possam fazer críticas aprofundadas em contrapartida ao que ele chama de “visão espontânea”, imagem não crítica sobre as coisas que é geralmente adquirida através de professores, mesmo quando esses estão determinados a ensinar apenas ciências e nada de filosofia.
É apresentado o porquê do ensino de filosofia na área das ciências, e é considerado que um universitário não deve saber examinar rigorosamente apenas aquilo que concerne a sua área, principalmente pelo fato de que são indivíduos que tomarão decisões sociais e assumirão responsabilidades sobre elas. Além disso, outra importância que a obra cita em relação ao ensino de ciências é o alcance de equilíbrio à tendência de desinteresse político existente entre estudantes de ciências, muito maior quando comparado a estudantes de outras áreas.
“É realmente possível alguém jamais colocar-se uma questão de ordem filosófica? Pode-se dizer: "Quanto a mim, a filosofia não me interessa?".” Para abordar essa questão, Fourez nos instiga a distinguir ainda dois tipos de interesses. O primeiro liga-se à globalidade da história humana: diz respeito ao sentido dessa história. O segundo, o setorializado, concerne a uma variedade de coisas pelas quais podemos ser atraídos.
Com essas colocações, é possível refletir sobre o fato de que um único enfoque
sobre algo não significa um enfoque neutro e objetivo, e faz uma representação da vida como uma multiplicidade de centros de interesse dentre os quais é necessário escolher entre questões mais setoralizadas, como o cultivo de champignon, ou ao próprio mundo em que vivemos, interessando-nos pela justiça na sociedade (utilizando os mesmos exemplos do autor). Ainda sobre este tema, é apresentada a questão que considerar apenas interesses setoralizados é decidir permanecer para sempre no domínio da linguagem restrita, enquanto aceitar a questão global da existência é abrir-se a uma pesquisa e a um debate em uma linguagem elaborada, iniciando uma busca de sentido.
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