Corrigido Revista Corpos Negr@s e outros sen
Por: Letícia Fernanda Rodrigues • 20/12/2021 • Artigo • 890 Palavras (4 Páginas) • 89 Visualizações
A NEGRINHA DO PASTOREIO: GRITOS DE RESISTÊNCIA NA FRONTEIRA OESTE GAÚCHA
Resumo
Escrever contos e poemas são a forma de resistência ao sistema vigente. Por meio de palavras, podemos reivindicar um espaço de poder. A fronteira Oeste Gaúcha é mais que um laboratório, é parte de quem sou. As negrinhas do pastoreio são uma analogia aos descendentes da escravidão que tem de resistir ao sistema de opressão nos pagos Pampeanos. Os contos são reflexos de muitas negrinhas do pastoreio que enfrentam seus dilemas diários o frio e a fome.
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Palavras – chave: Negrinha, Fronteira Oeste, Negrinhas, Resistência;
INSCRIÇÕES INICIAIS
Sou uma negrinha do pastoreio, ativista, gaúcha e fronteiriça. Sou nascida e criada na região da campanha, nos confins do Rio Grande do Sul. Nasci em uma região que cor é antes de tudo lugar de pertencimento e estigma social. Sou filha de Claudia dos Santos e filha adotiva de Hilda Helena, duas grandes heroínas guerreias. Neste pago, aprendi a enfrentar as agulhas da vida.
Em 2012 entrei na Universidade Federal PAMPA, em relações Internacionais. Desde então, pude levar alguns conhecimentos de minha gente até o ambiente acadêmico. Fiz mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, participando de grupos de fronteira como “Fronteiras culturales”. Em março de 2019 entrei no doutorado em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tenho trazido a tona temáticas como desigualdade social, racismo nas fronteiras gaúchas.
Acompanho diversos grupos que estão na resistência e na construção de um novo amanhã para as mulheres negras no meu Estado.
[pic 1]
Ó minha mãe preta que fez meu Estado,
Um dia tu foste muito humilhada,
E chegaste aqui escravizada.
Teu sangue desonrosamente caiu no chão,
E sentiste o peso da escravidão.
No Brasil, vistes tuas filhas
Negras, formosas, saídas do meio de uma rosa
Passarem dias de desafeto e frio.
Ó mãe preta,
Que perdeu á sorte,
Hoje eu hei de honrar a tua morte!
A NEGRINHA DO CEMITÉRIO:
Naquele dia eu corri. Corri para salvar meu couro do chicote.
Até que consegui subir no gigantesco muro do cemitério. Meus braços estavam doloridos. Sentia muita dor no estômago. Realmente estava muito assustada. Olhei ao redor, o medo de cair era enorme. Em cima do muro, eu só via aquele monstro com o chicote na mão, gritando com uma voz estridente e grossa:
-Negrinha, negrinha.... Desce daí ou vou te buscar pelos cabelos!
Todos os vizinhos estavam murmurando algo em frente ao nosso barraco. Aquelas “chismentas”, como sempre de olho em cada movimento. Odeio essa vida miserável, e principalmente, esse cheiro de pinga com mofo.
Olhei para o lado esquerdo, só via a paz de quem partiu dessa para melhor. O lugar era cheio de lápides, velas e flores. Espero que os que partiram me ajudem a sair daqui.
Em um ímpeto, gritei:
-Nunca mais voltarei para esse inferno, seu borracho. Vais pagar com sua vida, nem que para isso eu tenha que te matar com minhas mãos!
Pulei no chão de concreto.
Doeu. Sai mancando, minhas mãos estavam em carne viva.
Enfim, livre daquele monstro!
A NEGRINHA FUJONA
Não crio imagens daqueles tempos. O meu corpo, é a forma concreta da transposição dessas imagens. Há momentos na vida que é melhor esquecer, mas as cicatrizes do tempo estão aqui para me lembrar de quem fui e quem sou, Joana a Bugra poeta.
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