DESAFIOS DA GESTÃO DE INTERNATOS CONFESSIONAIS
Por: PATRICKTICKE • 26/7/2021 • Artigo • 1.715 Palavras (7 Páginas) • 106 Visualizações
DESAFIOS DA GESTÃO DE INTERNATOS CONFESSIONAIS
Matheus Augusto Raimundo Nogueira da Silva[1]
Resumo
O sistema educacional se desdobra em diversas frentes com suas peculiaridades e desafios. Uma das frentes que emerge do percurso histórico é o ramo de internatos. É um segmento com características únicas, tanto na proposta pedagógica, quanto em seu perfil organizacional (profissional, docente, discente e curricular). As instituições religiosas se destacam no oferecimento de colégios internos, em especial a Rede Adventista. O presente trabalho visa analisar como a realidade pós-moderna impõe desafios à gestão de internatos confessionais, considerando os embates da tradição educacional num contexto em que a escola acumula intrinsecamente elementos do círculo familiar e social.
Palavras-chave: Gestão Educacional; Internatos Confessionais; Rede Adventista; Filosofia da Educação; Educação e Pós-Modernidade.
1. Introdução
Colégios internos possuem importância histórica no desenvolvimento do cenário educacional brasileiro. Foram, e ainda hoje são, locais para onde jovens afluíam a fim de poderem proceder um curso de estudos não disponível em suas localidades. Também foram considerados durante algum tempo como reformatórios.
As instituições religiosas sempre tiveram proeminência no ramo de internatos. Destaca-se a relevância da rede adventista de internatos no cenário atual, sendo ela o objeto mais específico da análise deste trabalho. Esta rede apresenta um perfil de alunos complexo. Esta clientela com suas muitas idiossincrasias impõe grandes desafios para a composição e condução de um corpo de profissionais que execute um Projeto Político Pedagógico que una a tradição educacional de séculos com as tendências educacionais modernas, em um ambiente educacional distinto no qual a escola absorve muito do papel da família e da comunidade.
2. Desenvolvimento
2.1. Contexto Histórico
Colégios internos possuem importância histórica no desenvolvimento do cenário educacional brasileiro. Nas épocas em que o acesso ao ensino básico era restrito a uma pequena casta privilegiada e que eram poucos os centros onde a instrução escolar poderia ser obtida, os internatos foram uma saída importante para muitas famílias que moravam longe dos grandes centros.
Com o avanço da oferta de ensino, os colégios internos foram ganhando um status de reformatórios, para onde eram mandadas crianças e adolescentes considerados problemáticos para suposta correção de conduta. Ao longo do tempo, as instituições religiosas dominaram esse nicho do mercado de educação, em especial a rede católica com suas diversas ordens, o que torna de especial importância a análise de internatos confessionais.
Hoje em dia, a rede mais consolidada de internatos no país e em certa medida em nível mundial, pertence à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Por essa razão, a rede adventista de internatos, juntamente com seus fundamentos filosóficos, serão objeto mais específico do estudo deste trabalho.
2.2. Perfil da Clientela
Dentro dos internatos da rede adventista, e pode-se estender aos das demais ordens religiosas, persistem três grandes arquétipos de perfis de alunos: aqueles que são prosélitos da religião e visam uma formação moral e religiosa nos parâmetros de sua ordem religiosa, aqueles que são advindos de pequenas cidades do interior do país onde não há oferta de Ensino Médio e não desejam morar desassistidos em grandes centros e aqueles que são enviados ainda com os antigos propósitos de reformatório.
Este perfil de alunos mostra uma confluência de momentos históricos na formação da clientela dos internatos confessionais.
2.3. História dos Internatos Adventistas e Escolas-Modelo
A Igreja Adventista do Sétimo Dia foi fundada e organizou-se nos EUA na segunda metade do século XIX. Em paralelo ao desenvolvimento da igreja, suas instituições e filosofia de educação foram sendo criadas ao longo do final dos anos 1800 e início dos anos de 1900. Seu primeiro grande centro educacional foi situado na cidade de Battle Creek (Michigan), cujos trabalhos foram sendo reproduzidos por outros pontos dos EUA.
A pioneira adventista Ellen G. White, em cujos escritos está fundamentada a filosofia e a prática educacional adventista ajudou na fundação e estruturação de duas escolas-modelo, ambas internatos, cujos procedimentos foram formados para serem referência em escolas no mundo inteiro. São essas escolas a Escola de Madison (Tennessee) e a Escola de Avondale (Austrália).
Nessas escolas, foram desenvolvidas metodologias de ensino por meio da chamada educação industrial (ensino prático) assim como métodos de gestão e materiais didáticos que lançaram os fundamentos para o sistema adventista mundial (GISH; CHRISTMAN, 2018; WHITE, 2014).
2.4. Filosofia da Educação Adventista e Princípios da Escola de Madison
A filosofia educacional adventista se baseia em alguns princípios básicos como a formação integral do ser humano (física, mental, moral e espiritual); a centralidade das Escrituras Sagradas no curso de estudos, não usando-as apenas como acessório, mas sim como livro-guia, embora não exclusivo; a junção entre o aprendizado teórico e o desenvolvimento do trabalho útil (educação industrial) (KNIGHT, 2017).
Dentro desses princípios, o internato modelo de Madison desenvolveu, em sua proposta educacional, quatro grandes princípios de sua administração: 1) sustento próprio (a escola não dependia de recursos externos e os alunos pagavam por seus estudos com trabalho); 2) economia estrita e persistente (evitava-se a construção de prédios grandes e caros e gastos com superfluidades); 3) plano de um estudo (no qual os estudantes tinham apenas uma disciplina por vez, alternando entre horas de estudo e preparação, horas em sala de aula e horas de trabalho, cursando as disciplinas em sequência ao longo dos meses em vez de simultaneamente), 4) autonomia (o consenso democrático entre professores e alunos formava o regimento da escola e sua execução, sendo que o Órgão Estudantil também tinha poder executivo) (GISH; CHRISTMAN, 2018).
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