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Diferenças e Proximidades entre Durkheim e Dumont

Por:   •  5/5/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.875 Palavras (12 Páginas)  •  142 Visualizações

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Instituto de Ciências Humanas e Sociais/Instituto Multidisciplinas/Instituto Três Rios

Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais

Bruna Lassé Araújo

Diferenças e proximidades entre Durkheim e Dumont

Rio de Janeiro

2017

Diferenças e proximidades entre Durkheim e Dumont

Durkheim, em “O individualismo e os intelectuais”, se dedica a demonstrar a importância dos intelectuais na busca por complementar, estender e organizar o individualismo, tudo isso objetivando defendê-lo e conservá-lo. Já Dumont se dedica ao estudo das castas e da sociedade moderna, buscando compará-las. Essa empreitada é realizada na obra “Homo Hierarchicus: O sistema das castas e suas implicações”, cuja introdução será usada neste trabalho para fins de apresentação e comparação/análise com a obra citada anteriormente.

Em “O individualismo e os intelectuais”, Durkheim objetiva compreender os diferentes tipos de individualismo existentes e a influência dos intelectuais em sua constituição. Segundo este autor, o individualismo é confundido com egoísmo e com o utilitarismo (conceitos de Spencer e outros economistas), onde somente os interesses individuais importam, onde a sociedade reduz-se a um aparelho de troca e produção. Segundo este autor, existe outro tipo de individualismo, professado por Kant, Rousseau, que vê na ação que objetiva interesses pessoais a fonte do mal, ele busca a vontade geral contida no homem (homem in abstracto):

... o dever consiste em desviar nossos olhares do que nos concerne pessoalmente, de tudo o que está ligado à nossa individualidade empírica, para buscar unicamente o que nossa condição de homem reclama, tal como nos é comum com todos os nossos semelhantes. (Durkheim, 2007: 301)

Essa noção de homem geral está carregada de uma aura impregnada de religiosidade, como que sagrada, investida com uma propriedade que a torna transcendental. Daí provém a moral que torna o homem, enquanto representante da humanidade, objeto de respeito, fiel e Deus ao mesmo tempo, agente e objeto afetado pela ação. É a humanidade que é sagrada, que é respeitável, que é cultuada e ela não está somente no indivíduo, mas em todos seus semelhantes, de modo que deva ser defendida acima de tudo:

Quem quer que atente contra a vida de um homem, à liberdade de um homem, à honra de um homem, nos inspira um sentimento de horror, análogo àquele sentido pelo crente que vê profanarem seu ídolo. (Ibid.: 301)

Esta religião, como aponta Durkheim, é individualista, pois o homem é um indivíduo. Este fato faz com que os direitos do indivíduo, enquanto componente de uma coletividade, sejam veementemente afirmados, estando acima de todos os interesses que refletem vontades particulares, estando até mesmo acima do Estado. Aqui não se admite que as liberdades sejam suspensas por conta de exigências do maior número, como ocorre no utilitarismo.

A partir do exposto, Durkheim defende que as sociedades tornam-se coerentes quando se fixam sobre o mesmo objetivo e mesma fé. No caso das sociedades de tipo individualista, o objeto de fé é o indivíduo geral e seu culto tem por doutrina fundamental a autonomia da razão e livre arbítrio, ou seja, certo intelectualismo. Assim, não basta intimidar para que os indivíduos confluam em uma mesma direção. É preciso que sejam garantidos os direitos de interrogação e julgamento:

... o individualismo não existe sem certo intelectualismo; pois a liberdade do pensamento é a primeira das liberdades. Mas onde se viu que tenha por consequência essa absurda suficiência de si mesma que trancaria cada um em seu sentimento próprio e produziria o vazio entre as inteligências? O que ele exige, é o direito, para cada indivíduo, de conhecer as coisas as quais pode legitimamente conhecer; mas não consagra, de modo algum, um direito qualquer à incompetência. (Ibid.: 304)

Mas sendo as opiniões livres, impera a anarquia intelectual?  Muito pelo contrário, afirma Durkheim, pois o individualismo é o único sistema que pode garantir a unidade nacional, isso porque apresenta traços de caráter religioso e são estes que podem produzir harmonia de opiniões. Entretanto, a coerência e harmonia não são garantidas apenas por esse caráter, mas também por conta da necessária existência de uma comunidade intelectual e moral.

Segundo Durkheim, com o aumento da população e sua difusão pelos territórios, maior torna-se a diversidade de práticas, tradições e torna-se ainda mais necessária a plasticidade destas, o que produz mais variação. Junto com isso a divisão do trabalho contribui para que as consciências individuais difiram umas das outras a partir da inclinição de cada espírito para direções diferentes. É neste momento que a qualidade de pessoa humana geral, qualidade constitutiva do individualismo, torna-se elemento de união. A pessoa humana passa a ser cultuada, honrada, amada acima de tudo:

E como cada um de nós representa algo da humanidade, cada consciência individual tem em si algo de divino, e se encontra assim marca por um caráter que a torna sagrada e inviolável para os outros. Todo o individualismo está aí, e é isso que a tornar a doutrina necessária. (Ibid.: 306)

Durkheim, então, afirma que a origem do individualismo está no cristianismo. Este voltou-se para o interior, o íntimo, exigindo do indivíduo o autoexame, ensinando a este que os atos devem ser medidos pela intenção. Por consequência, o indivíduo transformou-se em seu próprio juiz, único responsável por sua própria conduta e julgamento. No final das contas, a religião do indivíduo tornou-se o único laço que liga uns aos outros e sua violação produz a revolta de todos os espíritos:

Assim, o individualista, que defende os direitos do indivíduo, defende ao mesmo tempo os interesses vitais da sociedade; pois impede que se empobreça de forma criminosa essa última reserva de ideias e de sentimentos coletivos que constituem a própria alma da nação. (Ibid.: 308)

O autor propõe, ao final do artigo, que o individualismo seja ampliado e complementado. A tarefa de libertar o indivíduo já foi cumprida, mas não se pensou nada além da liberdade política e moral. Assim, o autor faz um apelo aos intelectuais, tanto aos que confundem individualismo com utilitarismo como aos que o veem a partir das definições de Kant e Rousseau:

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