O Marxismo pode ser considerado um método para construção do conhecimento nas ciências sociais?
Por: flowerfield • 11/3/2019 • Ensaio • 1.079 Palavras (5 Páginas) • 215 Visualizações
Tema 5: O Marxismo pode ser considerado um método para construção do conhecimento nas ciências sociais? Por quê?
I. O método marxista
Para Karl Marx, a dialética não é uma fórmula para gerar resultados predeterminados, mas sim um método que possibilita o estudo empírico de processos sociais no que se refere à inter-relações, desenvolvimento e transformação. No âmbito da epistemologia, “o Marxismo apresenta forma própria, a de que o conhecimento é construído em sua dependência histórica das relações desiguais na sociedade. É produzido tomando por base o que está na realidade, socialmente determinada pelo curso dos eventos históricos e das ideologias de uma dada era” (SOARES, CAMPOS, YONEKURA, 2013).
Na visão marxista, a história humana é como um rio. Visto de qualquer lugar, o rio parece ser o mesmo dia após dia, mas está em constante movimento e mudança. [...] A água vista em um dia nunca é a mesma do dia seguinte. Parte dela é constantemente evaporada e levada para então retornar como chuva. De ano para ano essas mudanças mal podem ser percebidas. Mas um dia, [...] quando as chuvas estão longas e pesadas, o rio transborda [...] e pode tomar novos cursos. Isso representa a parte dialética da famosa teoria de Marx de materialismo dialético (ou histórico). (KAY, 1948, tradução nossa)
Ao inverter a ordem da dialética hegeliana, o método marxiano propiciou um olhar para além da aparência, que visa a captura da estrutura e dinâmica para então haver uma subsequente reprodução dessa essência no plano do pensamento;2 focando num conhecimento do objeto “tal como ele é em si mesmo, na sua existência real e efetiva, independentemente dos desejos, das aspirações e das representações do pesquisador.” (NETTO, 2009, p. 5) Segundo Marx, para Hegel “o processo do pensamento é o criador do real e o real é apenas sua manifestação externa” (MARX, 1968, p. 16), enquanto para ele “o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado” (MARX, 1968, p. 16). Marx articula a totalidade como uma categoria teórico-metodológica, a base de sua teoria repousando em sua visão da sociedade burguesa como uma totalidade concreta. Essa totalidade, segundo Marx, influencia suas partes, e não é uma simples soma delas. Como todos os outros pensadores dialéticos Marx atribui uma grande importância à distinção entre aparência e essência: a essência sendo o que constitui a natureza de um ser, e a aparência sendo sua forma de manifestação.
[...] A teoria é a reprodução, no plano do pensamento, do movimento real do objeto. Esta reprodução, porém, não é uma espécie de reflexo mecânico, com o pensamento espelhando a realidade tal como um espelho reflete a imagem que tem diante de si. Se assim fosse, o papel do sujeito que pesquisa, no processo do conhecimento, seria meramente passivo. Para Marx, ao contrário, o papel do sujeito é essencialmente ativo: precisamente para apreender não a aparência ou a forma dada do objeto, mas a sua essência, a sua estrutura e a sua dinâmica (mais exatamente: para apreendê-lo como um processo), o sujeito deve ser capaz de mobilizar um máximo de conhecimentos, criticá-los, revisá-los e deve ser dotado de criatividade e imaginação. (NETTO, 2009, p. 6)
Desse modo, o pesquisador tem que possuir um domínio completo da matéria – que é obtido por instrumentos empíricos, como a análise documental, a recolha de dados e a quantificação, e até mesmo por instrumentos que surgiram séculos após os utilizados nas obras de Marx - e seus pormenores para assim poder analisar de forma bem-sucedida suas diferentes formas de progressão e o que as liga, além de obter esse conhecimento a partir da análise vigorosa de processos históricos.
II. A pesquisa marxista e o marxismo como método para construção de conhecimento nas Ciências Sociais
A pesquisa de Marx sobre o trajeto e as condições de crise da sociedade burguesa fundada no modo de produção capitalista teve a duração de cerca de quarenta anos, e formulações precisas sobre os pontos principais de seu método só foram de fato obtidas pelo autor após quinze anos.1 Esse avanço na análise da sociedade burguesa
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