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Os usos das ciencias sociais

Por:   •  12/7/2017  •  Ensaio  •  1.623 Palavras (7 Páginas)  •  300 Visualizações

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I. UM POUCO SOBRE PIERRE BORDIEU (1930 - 2002)

Pierre Bourdieu foi um importante sociólogo e pensador francês, autor de obras que contribuíram para renovar o entendimento da Sociologia e da Etnologia no século XX.

Nasceu na França em 1930. Ingressou na Faculdade de Letras em Paris onde cursou Filosofia se graduando em 1954. Chegou a prestar serviço militar na Argélia (colônia francesa da época). Entre os anos de 1958 e 1960, assumiu a função de professor assistente na Faculdade de Argel.

De volta à França, Pierre Bourdieu foi nomeado assistente do filósofo e sociólogo Raymond Aron, na Faculdade de Letras de Paris. Filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, tornando-se secretário-geral em 1962.

Em suas obras, Bourdieu tenta explicar a diversidade do gosto entre os seguimentos sociais, analisando a variedade das práticas culturais entre os grupos, afirmando que o gosto cultural e os estilos de vida da burguesia, das camadas médias e da classe operária, estavam profundamente marcados pela trajetória social vivida por cada um deles.

Especificamente em sua obra "Os Usos Sociais das Ciencias Sociais"

A repercussão de suas reflexões o levou a lecionar em importantes universidades do mundo, entre eles, a universidade de Harvard e de Chicago e o Instituto Max Planck de Berlim. Em 1981 assumiu a cadeira de Sociologia no Collège de France, onde em sua aula inaugural destacou-se por propor uma crítica sobre a formação do sociólogo, propondo o que ficou identificado como “Sociologia da Sociologia”.

Pierre Bourdieu foi considerado um dos mais importantes intelectuais de sua época.

Pierre Bourdieu faleceu em Paris, França, no dia 23 de janeiro de 2002.

II. ANÁLISE DA OBRA: BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais das ciências: por uma sociologia clínica do campo científico.

- Introdução

Quais são os usos sociais da ciência? É possível fazer uma ciência da ciência?" - São essas as perguntas fundamentais de Pierre Bourdieu em sua obra "Os usos sociais da ciência". A grande questão que se coloca é uma discussão dos papéis da ciência perante a sociedade e quais são os usos que os agentes/sujeitos fazem dela.

A ciência deve estar submetida ao funcionamento das leis da sociedade ou deve ter autonomia em seus trabalhos? Adotando o conceito de campo científico de Bourdieu, procuramos, neste trabalho, discutir o grau de autonomia do cientista social e o grau de inserção de sua disciplina e conhecimento dentro da sociedade, seja na universidade - em atividade docente ou pesquisa - seja fora do âmbito acadêmico. Neste caso específico, estudaremos os antropólogos e sociólogos que estão inseridos no mercado publicitário, junto aos institutos de pesquisa. Como é utilizada a fortuna crítica por parte dos cientistas sociais para detectar comportamentos de consumo e de que maneira esses profissionais articulam sua formação teórica e a ação na vida profissional?

A partir daí, há a possibilidade de se fazer uma abordagem reflexiva por parte do cientista e um exame crítico do papel da ciência, ademais, neste caso particular, das ciências sociais e seus usos.

- A Ciência como um campo

Não podendo ser de outra maneira, a pretensa neutralidade científica se defronta com um sofisticado cenário delineado pelas relações de poder. Os desdobramentos da ciência se processam no sentido de atender às demandas sócio-históricas e econômicas do tempo e lugar dos quais faz parte.

Por outro lado, a ciência também se constitui ao firmar regras e padrões de produtividade que pactuam com os anseios da comunidade científica hegemônica. Tendo isso em vista, compreendê-la como um campo bourdieusiano pode ser uma alternativa teórico-metodológica satisfatória, na medida em que a noção de campo evidencia que apesar de sua normatividade, a ciência é permeada por contradições e conflitos. Ao considerar a ciência como um campo, defende a ideia de que a dinâmica da construção científica se dá pelo ininterrupto diálogo entre os fatores históricos, econômicos e sociais externos, e suas leis internas. Para Bourdieu, o campo científico é “o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem, ou difundem (...) a ciência” (BOURDIEU, Pierre. 2004, p. 20.).

E, neste universo construído por agentes e instituições, devem ser percebidas suas próprias leis, mas, por se intercruzar com outros campos sociais (pressões externas), pode-se perceber que a autonomia do campo científico se dá de forma relativa.

Portanto, é relevante compreender que o campo científico, como qualquer outro campo social, possui a capacidade de refração, ou seja, toda e qualquer influência externa é mediada, retraduzida pela lógica do campo. Assim, convém entender que: quanto mais autônomo for um campo, menor será a influência de ordem exógena; quanto mais consolidadas forem suas leis, suas normas e padrões, menor será sua heteronomia.

O campo científico, relativamente autônomo e heterônomo, está sujeito a reconfigurações. Nestes termos a tentativa de compreender a ciência contemplará uma dimensão imprescindível para a sua estruturação: o poder, sobremaneira em sua dimensão simbólica, ou melhor, “esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 2007, p. 7-8).

A forma de existência do campo científico é marcada pela complexidade daquelas relações estabelecidas entre sua estrutura interna e as pressões externas. Estas últimas consistem na maneira como o campo da ciência se relaciona com os demais campos e, mais amplamente, com as conjunturas nas quais estão situados os seus respectivos sistemas simbólicos.

“É enquanto instrumentos estruturados eestruturantes de comunicação e de Assim, percebendo a Ciência desta forma, para uma mensuração mais aproximada do seu grau de autonomia faz-se mister que voltemos especial atenção para a sua dinâmica interna na qual o campo científico e seus subcampos são conformados por seus agentes e suas ações: são os agentes sociais de um campo que “criam o espaço (...), e o espaço só existe (de alguma maneira) pelos agentes e pelas relações objetivas entre os agentes que aí se encontram” (BOURDIEU, 2004, p.23).

Paradoxalmente este campo é estruturado a partir da posição que tais agentes ocupam em sua dinâmica, e esta posição não é escolhida por eles mesmos. A grosso modo, a estrutura do campo científico vai ser determinada pela distribuição de capital científico entre os seus agentes que podem ser instituições ou indivíduos. Mas então, o que seria capital científico, tão essencial na estruturação de um campo? Bourdieu diz que:

"[...] o capital científico é uma espécie particular do capital simbólico (o qual, sabe-se, é sempre fundado sobre atos de conhecimento e reconhecimento) que consiste no reconhecimento (ou no crédito) atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no interior do campo científico." (BOURDIEU, 2004, p.26).

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