Resenha do livro: Jamais fomos modernos
Por: Daniel Penz • 27/5/2018 • Ensaio • 1.328 Palavras (6 Páginas) • 797 Visualizações
Jamais fomos modernos
Daniel Penz
Jamais fomos modernos é uma provocação, ele nos faz rever nossos conceitos, até então construídos e item por item, capítulo por capítulo ele desconstrói, mas não nos deixa sem perspectivas, pois ao final o autor redistribui os conceitos, suas utilidades e não utilidades.
O primeiro capítulo é a crise, aqui o autor traz aspectos do mundo moderno, ele inicia seu livro explicando uma leitura de um jornal, lá são expostos fenômenos e o autor fala da proliferação dos híbridos, que é um fato influenciando outro aspecto, como as reações químicas e políticas, ou como a invenção da energia modificou a vida das pessoas.
Neste capítulo o autor introduz os fatos nunca como isolados, mas sim um influenciando o outro, e é isto que ele faz no decorrer do livro, ele apresenta as perspectivas e as discute para que possamos tomar ciências das similaridades e disparidades dos posicionamentos científicos.
A crise da crítica diz respeito às inúmeras divisões nas áreas de conhecimentos a fim de super especializar o fato, mas perdendo-se a noção do todo.
O autor apresenta que o recorte acontece a partir de três categorias, a natureza, a política e o discurso, para ele separa essas categorias significa uma vida intelectual mal constituída.
A palavra moderno se refere a dois conjuntos de práticas, a primeira é a “tradução” que é a mistura entre gêneros de seres e a “purificação” que é a definição de duas zonas ontológicas opostas, de um lado a dos humanos e de outro a dos não humanos.
O autor chama o primeiro conjunto de práticas de redes e o segundo de crítica. Latour no decorrer do livro critica fortemente essa dicotomia de humanidades e não humanidades. Essa discussão é o centro de seu livro, e se nunca fomos modernos? A partir dos pressupostos da modernidade e tomando conhecimento da antiga matriz antropológica o autor explana seu ponto vista.
A constituição se refere a separação moderna entre o mundo social e o mundo natural. Para isso utiliza como exemplo Boyle e Hobbes.
Boyle estudou o vácuo, para isso fez um experimento com um cilindro transparente, para que pudesse ver o que estava acontecendo e/ou mexer nas amostras. Boyle nos apresentou o formato que se é utilizado nos estudos empíricos até os dias atuais. Ele trouxe do campo jurídico as testemunhas, a partir delas, pôde confirmar ou refutar os resultados de seus experimentos. Essas testemunhas não precisam compreender as matrizes responsáveis pelas influências ou não dos experimentos, precisam apenas serem honestas e descrever o que viram.
Hobbes rejeita o experimento de Boyle por questões ontológicas. Mas ambos os cientistas apresentam o que seria fantástico se analisado conjuntamente: a assimetria. Do lado da natureza, Boyle com a coisa-em-si e do outro lado, das humanidades, Hobbes com homens-entre-eles. Mas e Deus? Ele havido sido suprimido.
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Latour também descreve os posicionamentos dos cientistas. Para ele os modernos seguem os pressupostos anteriormente citados de tradução e purificação, os anti-modernos são completamente contrários aos modernos e mais a diante ele também classifica os pós-modernos, que se fixam nos pressupostos dos modernos, mas não acreditam que eles sejam suficientes para uma explicação mais abrangente.
No capítulo da revolução, o autor fala que os modernos foram vítimas do seu sucesso. A partir da divisão natureza e humanidades os modernos precisariam cada vez mais classificar e catalogar os fatos, mas como classificar o buraco na camada de ozônio, por exemplo, ele é da natureza mas foi o homem que o provocou. Cada vez mais ficaria difícil a divisão. A constituição se refere à separação da natureza do humano, a forma como eles se relacionam ou não.
Para isso, o autor utiliza os exemplos de Boyle e Hobbes. Latour atribui a Boyle a representação científica e para Hobbes é atribuída uma política científica. Percebe-se que cada um ocupa um lugar bem definido.
As vertentes semióticas surgiram para atenuar essa divisão, ainda que seja difícil reduzir um fato à linguagem, elas criam sentido e produzem referências. Também são tradados aspectos da temporalidade. Os modernos a utilizam como se fosse uma flecha que determina o sentido e a distância entre os acontecimentos. Uma separação brutal daquilo que não tem história mas que ainda assim emerge na história. Desta maneira tornando a assimetria entre natureza e cultura torna-se uma assimetria entre passado e futuro.
Como exemplo de um fato que pode utilizar o passado e o presente, ele apresenta a possível necessidade de utilizar uma furadeira e um martelo. A furadeira faz parte do ferramental recente, já o martelo existe na sociedade há muitos séculos. Aqui, para resolver um problema, o autor sugere de forma análoga que recorramos ao novo e ao antigo, sem que um seja melhor que o outro, mas sim complementares.
O autor inicia o capítulo sobre o relativismo falando da forma como acabar com a assimetria. Na antropologia, com os modelos tradicionais ela é assimétrica. O primeiro princípio da simetria é que o erro e o acerto sejam tratados da mesma forma. Na sequência o autor discorre sobre a simetria generalizada, ela é o posicionamento do antropólogo no ponto médio da distância entre humanos e não humanos e dessa maneira poder acompanhar as duas.
A primeira grande divisão interna aconteceu quando foi separado a natureza da sociedade. A segunda grande divisão aconteceu entre “nós” ocidentais que somos responsáveis por essa primeira grande divisão e “eles” os orientais que em sua compreensão, não distanciam a sociedade e a natureza.
O relativismo pode ser absoluto, que trata de culturas que não mantém relação com outras e a natureza foi colocada à parte. No relativismo cultural a natureza está presente mas fora das culturas, todas as diferentes culturas possuem um ponto de vista aproximado da natureza. O universalismo particular diz respeito a uma cultura específica possuir um acesso privilegiado à natureza e dessa maneira ela se sobressai às outras. A antropologia simétrica preza que todos os coletivos constituem naturezas e culturas e apenas a mobilização pode variar.
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