Resumo de Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel Mauss
Por: Heloisa Maria de Brito Colturato • 20/12/2021 • Resenha • 1.000 Palavras (4 Páginas) • 631 Visualizações
Em Ensaio sobre a Dádiva, Marcel Mauss discorre a respeito da importância da troca nas
sociedades ditas primitivas. Ao contrário do que pensavam os autores da antropologia
evolucionista, Mauss entende o sistema de dádivas e reciprocidade não como um aspecto
puramente econômico, mas como um fenômeno que dialoga simultaneamente, enquanto fato
social total, com todos os segmentos da vida e estrutura social desses povos, tais como religião,
política e parentesco.
Neste sentido, o autor se opõe a teoria de que as trocas representariam uma espécie de economia
natural, pré-capitalista. Para Mauss, não se pode reduzir a dádiva a uma negociação
principalmente econômica, pois os objetos dados e retribuídos não se tratam apenas de bens
materiais, mas envolvem a troca de pessoas, ritos, relações, códigos morais, etc. Por isso, não se
trata de uma transação entre indivíduos com livre-arbítrio, mas de uma relação entre pessoas que
representam posições sociais que remetem a sua ancestralidade, parentesco e até mesmo a
divindades.
Sendo assim, apesar da roupagem do discurso apresentar o ritual da dádiva como um ato
voluntário e livre, não é exatamente assim que é visto pelas sociedades. O ato de doar e sua
recíproca tratam-se, em todos os grupos, de uma obrigação social, já que existem punições e
sanções sociais que decorrem da abstenção destes. Participar da troca, portanto, é participar da
sociedade e recusá-la é recusar a vida coletiva.
Um dos principais ritos estudados por Mauss e usados para exemplificar o esquema de trocas e
reciprocidade é o hábito do potlatch, comum em povos da América do Norte, já que neste as
particularidades da dádiva aqui expostas são mais facilmente observáveis.
Em sua obra, o autor conclui a centralidade dessas cerimônias em suas determinadas
coletividades: ao estudá-las, encontra-se a própria origem dos contratos sociais, da própria
sociedade e sua moral contratual, que sustenta a vida social como um todo. Entretanto, nas
chamadas civilizações contemporâneas, graças ao direito romano e germânico, a insensibilidade e
objetividade extremas têm tentado mudar a lógica universal deste fenômeno.
Dentro das sociedades nativas norte-americanas, o potlatch servia como um momento de
equilíbrio e estabelecimento das hierarquias internas, tendo papel político importante. Não são
opcionais, nem gratuitas e, em certo sentido, também expressam rivalidade entre as famílias,
porque os grupos sociais envolvidos na troca reafirmam, com suas dádivas, suas posições sociais.
Por se tratar de um ato moralmente obrigatório e essencialmente coletivo, o potlatch cria,
também, um mecanismo de seguridade social e familiar, pois, dentro da rede de trocas sempre
existe um recebimento futuro, um crédito a se ganhar por dádivas dadas anteriormente, que
funciona como uma espécie de distribuição de riquezas entre os grupos participantes.
Segundo Mauss, uma parte considerável da moral das sociedades contemporâneas também se
baseia nesse esquema de dádivas, obrigações e liberdade, pois, mesmo em nações capitalistas,
nem tudo ainda é classificado em termos de compra e venda e ainda há resquícios das velhas
tradições. Bons exemplos são os valores sentimentais que são atribuídos às coisas, a ofensa ou
vergonha que se sente quando se é objeto de uma caridade que não se pode retribuir, a
generosidade com os hóspedes e festas de casamento em que há troca entre as famílias. O autor
destaca, principalmente, o conflito com a moral que os direitos dos industriais e comerciantes
representam quando alienam o trabalhador, que tem a sensação de que sua produção é revendida
sem sua participação. No potlatch, pelo contrário, os objetos frutos do trabalho são considerados
como parte da essência de quem os fez, e possuem seu espírito. O produtor sente que o fruto de
seu trabalho é mais que um bem material: nele está seu tempo, sua vida. Quer, portanto, ser
compensado por essa dádiva.
Essa reação contra a insensibilidade da economia capitalista e do direito romano, que retirou o
espírito das coisas de suas leis, tornando-as objetos inanimados, é extremamente saudável,
segundo o autor. Como exemplo, cita as legislações
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