TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: A VISÃO FILOSÓFICA DA TECNOLOGIA DE ANDREW FEENBERG
Por: Antonio Júnior • 25/3/2022 • Resenha • 1.641 Palavras (7 Páginas) • 225 Visualizações
TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: A VISÃO FILOSÓFICA DA TECNOLOGIA DE ANDREW FEENBERG
As tecnologias são parte da constituição e concepção dos processos que esculpem a existência humana. Atualmente, em muitos lugares, são vistas como algo normal, parte da vida, assim como eram considerados os costumes e crenças na antiguidade. Feenberg (2010) afirma que a tecnologia se modifica de acordo com o contexto social, modifica a sociedade de diferentes formas, possuindo diferentes alternativas, ou seja, cria problemas, porém abre possibilidades. Politicamente, há então um controle dessas “alternativas”, desse sistema, a partir de escolhas feitas. Nesse sentido a tecnologia é, então, controlada pelo homem. Elas modificam a cultura ao longo do tempo para ser o que se considera “racional”, e se enraízam na vida cotidiana e os modos técnicos de pensamento predominam (FEENBERG, 2010).
Assim como a ciência, a tecnologia parte do mesmo tipo de pensamento racional, a partir da observação empírica, porém se preocupando com a utilidade, enquanto a ciência busca o saber e a verdade. Com a tecnologia, a visão de ciência, educação, filosofia, e até mesmo antropologia, se modificam, o que gera impactos sociais, questionamentos e inúmeras problemáticas (FEENBERG, 2010).
Diante desse desenvolvimento tecnológico, e os impactos causados, se torna importante entender a tecnologia e suas problemáticas. A velocidade da evolução tecnológica pode não dar espaço para uma reflexão crítica sobre suas consequências, o que se torna importante o estudo filosófico da tecnologia. O pensamento filosófico pode contribuir, por exemplo, com o uso das tecnologias na educação, de forma que leve a gerar novas formas de saber, agir e pensar (HABOWSKI; CONTE, 2018).
Andrew Feenberg (2010b) apresente um estudo sobre a filosofia da tecnologia, a partir do instrumentalismo, substantivismo, determinismo e teoria crítica. Perante o instrumentalismo, a tecnologia é restrita aos interesses do ser humano, vista de forma neutra, simplesmente pelo seu caráter técnico-instrumental e objetivo, ou seja, funcional. Nessa visão, a funcionalidade da tecnologia se torna o meio para se chegar a determinado objetivo, que são previamente definidos pelo ser humano (HABOWSKI; CONTE, 2018).
Nesse contexto, a racionalidade objetiva das tecnologias se constituem como indiferentes perante as ideologias políticas, os contextos e a sensibilidade do agir humano. Feenberg (2001, apud. HABOWSKI; CONTE, 2018) mostra porém, exemplificando com questões como reprodução in vitro, questões ambientais e experimentações com seres humanos, que é importante superar a perspectiva puramente instrumental da tecnologia. Elas possuem resultados diretos na vida e problemáticas em todas as instâncias sociais.
Em foco o substantivismo, Feenberg apresenta que nessa perspectiva as tecnologias exercem autoridade no ser humano, encontram-se intensamente conectadas aos valores humanos sociais, gerenciam o ser mediante sua atuação programada e desdobramentos no mundo globalizado. São argumentos distópicos vindo de Heidegger e Marcuse, que fazem parecer que a tecnologia tem sua própria lógica de desenvolvimento, mas o ser humano pode agir e mudar a tecnologia, ele é participante do processo a partir do momento que modifica e é modificado pelas tecnologias para revelar suas essências, portanto essas teorias não podem ser verdadeiras (HABOWSKI; CONTE, 2018).
Na relação com as tecnologias, o ser humano é coagido a pensar, a desocultar suas essências e a sua relação com o mundo da vida. Por meio das tecnologias, somos introduzidos na atividade de desocultamento das essências enquanto participantes dos processos (de composição), e não como espectadores privilegiados que compõe o mundo à sua volta ao questionar-se pelo seu próprio ser (HABOWSKI; CONTE, 2018, p. 5).
Já perante o determinismo, a tecnologia é apresentada como determinante da sociedade, ou seja, se precisa utilizar uma tecnologia x, precisa de um propósito e um local, então a mesma muda todas as dimensões da vida social. Nesse sentido, essa teoria filosófica é pensada a partir das intenções utilitárias conferidas às tecnologias, incumbindo ao ser humano somente o papel de avaliar e verificar, no processo de evolução tecnológica, a validade das aplicações da tecnologia (FEENBERG, 2010b).
Percebe-se que, no determinismo, a tecnologia é autônoma e neutra, porém sua eficiência dispões de uma relatividade cultural, que pode gerar algumas problemáticas da neutralidade, advindas de uma conversão a tendências políticas e econômicas dominantes. Dessa forma, as tecnologias também não são totalmente autônomas no seu próprio desenvolvimento, visto que sua evolução está condicionada aos interesses sociais que as guiam (FEENBERG, 2010).
Por fim, Feenberg sustenta a teoria crítica da tecnologia, que reconhece as consequências catastróficas do desenvolvimento tecnológico, porém vê uma promessa de liberdade na tecnologia. O problema consiste no ser humano domar a tecnologia submetendo-a a um movimento mais democrático de projeto e desenvolvimento. Nessa visão, a tecnologia é controlável e está carregada de valores, que são socialmente específicos. Ela não molda só um modo de vida, mas muitos possíveis estilos de vida, refletidos por objetivos específicos e a partir de diferentes mediações tecnológicas. Além disso, na teoria crítica, as tecnologias não são vistas simplesmente como ferramentas, mas como estruturas para estilos de vida (FEENBERG, 2010).
Como parte do desenvolvimento social, as tecnologias devem ser pensadas em sua correlação com a política. Toda a configuração e projeção dos sistemas que fazem parte do cotidiano, desde transportes à agricultura, permeados por facetas tecnológicas, envolvem questões políticas. No âmbito da saúde e da educação, as tecnologias são pensadas e escolhidas com certas diligências, pois afetam todo a estrutura da construção humana. Nessa acepção, a transformação da tecnologia pode mudar e corrigir atuais e possíveis falhas (SASS, 2015).
Infelizmente, emprega-se atualmente tecnologias com limitações, como apresentado na visão de Feenberg. Não só pelo conhecimento e capacidade humana, mas também pelas estruturas de poder, as tecnologias contemporâneas favorecem setores específicos e obstrui outros. Sass (2015, p. 241) discute que “o mais importante para a democratização da tecnologia, nesse contexto, é encontrar maneiras novas de se promover valores excluídos e de realizá-los em arranjos técnicos que privilegiem a inclusão social.” A filosofia da tecnologia de Andrew Feenberg mostra que é importante um estudo sobre essas questões, que considere a influência dos diferentes agentes sociais no desenvolvimento de novas tecnologias.
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