Uma Cidade a Transformar, um Mundo a Transformar
Por: tobiaspsf • 20/6/2016 • Artigo • 7.579 Palavras (31 Páginas) • 209 Visualizações
UMA CIDADE A CONSTRUIR
UM MUNDO A TRANSFORMAR
Carlos Rodrigues Brandão
O planeta exige um pensamento policêntrico capaz de apontar o universalismo, não abstrato, mas consciente da unidade/ diversidade da condição humana; um pensamento policêntrico nutrido das culturas do mundo. Educar para este pensamento é finalidade da educação do futuro, que deve trabalhar na era planetária para identidade e a consciência terrena. (Edgar Morin,2000:65).
- Lugares parecidos, destinos diferentes - ousadia
Tudo parece tão estranho! No “atacado”, nas grandes notícias tudo indica que vivemos tempos de conflitos, crises, desarmonias e desesperanças. Na sociedade, na saúde, no meio ambiente, na educação, convivemos com índices que vão da desconfiança ao desespero.
No entanto, todos os dias vemos e lemos notícias mostrando que no “varejo” há por toda a parte sinais de iniciativas que “estão dando certo”. E em todos os planos, e em todos os lugares do mundo e daqui, do Brasil. Uma comunidade rural passa da quase indigência a uma exemplar prosperidade. E sem que grandes recursos públicos tenham sido “injetados” ali. Uma escola de periferia, onde os “ índices de violência eram muito preocupantes” muda o seu “jeito de ser”, abre-se à comunidade, acolhe “excluídos e violentos” e se tornar em menos de um semestre um centro de referência cultural em sua comunidade de acolhida. Uma cidade conhecida por seus altos índices de desemprego, de conflitos e de violência muda radicalmente em menos de dois anos. Uma região sob grave perigo de desmatamento e de degradação ambiental passa por uma transformação importante. Reservas extrativistas são criadas; mentalidades parecem estar sendo mudadas, atitudes pessoais e coletivas para com a natureza são transformadas. O meio ambiente aos poucos se regenera e, o que é também muito bom, uma nova e sustentável prosperidade altera dos índices da qualidade de vida de pessoas e de famílias, ao lado de uma mudança fecunda de suas vidas de qualidade.
Para verem, conhecerem e, se possível, aplicarem o que aconteceu com a “comunidade”, com a “escola” (que não precisa ser a “da Ponte”, em Portugal), com “a cidade” ou com a “região”, pessoas de vários outros lugares chegam de longe. E descobrem que milagre algum dos céus veio “salvar aquela gente”. Nenhum grande e promissor projeto de alguma instituição internacional foi “experimentado ali”. Nenhuma grande empresa decidiu investir parte de seus imensos lucros em ações sociais. Nada de excepcional ocorreu, a não ser o fato de que algo visível e essencial mudou. E mudou para bastante melhor. Uma fórmula feliz, mas incompleta para traduzir o que houve pode ser: “houve vontade política”.
Se entendermos esta expressão como equivalendo a: “o poder público resolveu agir por conta própria e tudo começou a acontecer”, podemos desconfiar de três coisas: a) as verdadeiras razões das iniciativas decididas e levadas a efeito; b) a extensão real dos resultados e benefícios a todas as pessoas; c) a duração e efetividade da proposta. Pois “mudam os governos... mudam os projetos”.
Se conseguirmos vislumbrar que “aconteceu aqui o que aconteceu” porque a sociedade civil (a sua esfera de vida e de participação e da minha) assumiu participar co-responsavelmente a iniciativas de um governo cidadão e democrático, assim como à contribuição de empresas preocupadas mais com o bem-comum do que com os ganhos financeiros, estão podemos acreditar que “aquela experiência de mudanças”, sobretudo em âmbitos que vão de uma cidade a um município e dele até mais além, poderão perdurar e gerar resultados e benefícios socialmente justos, partilhados e duráveis.
Em um plano mais amplo, diante dos conflitos sociais que parecem ainda pesar sobre um “Terceiro Milênio” de uma humanidade que o viu chegar dividida entre o medo e a esperança, diante das sempre possíveis crises econômicas em plano local, continental ou mesmo internacional, e diante das evidências de que podemos ser uma das últimas gerações de seres humanos presentes no planeta Terra, devido ao que nós mesmos estamos fazendo com ela, multiplicam-se os estudos, os congressos e os livros a respeito de duas perguntas: “O que estamos fazendo afinal?” “O que ainda podemos fazer?”
Por exemplo, Koichiro Matsuura, um economista e diplomata japonês, e no momento o diretor geral da UNESCO, publica na sessão “tendências/debates” da página 3 do Caderno Opinião da Folha de São Paulo do domingo, 17de fevereiro um longo artigo. Seu título? “Pode a humanidade ainda ser salva?” O mais preocupante é que sua pergunta nada tem de original. Milhares de outros escritos perguntam nas mais diferentes línguas a mesma coisa. E todos eles revelam uma mesma crescente inquietação. Podemos AINDA nos salvar? Chegamos a um tal ponto que agora esta é será a cada dia mais – pelo menos enquanto houverem seres vivos e inteligentes na Terra – a pergunta fundamental.
A sua resposta também não é original. Vocês provavelmente já terão ouvido e lido algo semelhante várias vezes. Mas vale a pena transcrever uma ou duas breves passagens. Afinal, ele é o homem que dirige a instituição internacional devotada à cultura e à educação.
A humanidade ainda pode ser salva? Sim, se conseguirmos combinar crescimento com desenvolvimento sustentável, em lugar de enxergar os dois como contraditórios. Mas como isto pode ser feito? Precisaremos mais conhecimento, mais contenção, menos matéria, mais concretude e mais – não menos – ética e política.
(...)
Mas a maior transformação de nossas sociedades se dará no campo das atitudes. Como poderemos desmaterializar a produção se continuamos a ser materialistas? Como poderemos reduzir nossos consumo se nosso consumidor interior devora nosso lado cidadão? A resposta está na educação para o desenvolvimento sustentável. (2008: A3).
Como entre outros incontáveis estudiosos do futuro ameaçado da humanidade, este economista de carreira devolve não aos seus iguais, mas a nós, educadores, a tarefa de realizar o mais necessário: transformar mentes e sensibilidades através d formação de pessoas que transformem os seus modos de viver e, assim, transformem os mundos em que vivem. Nada mais. Nada menos.
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