A Imagética Da Devoção (resenha)
Monografias: A Imagética Da Devoção (resenha). Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: cadumachado • 4/3/2015 • 2.703 Palavras (11 Páginas) • 127 Visualizações
Debates do NER, Porto Alegre, ano 13, n. 21 p. 245-253, jan./jun. 2012
LOPES, JOSÉ ROGÉRIO. A IMAGÉTICA DA DEVOÇÃO:
A ICONOGRAFIA POPULAR COMO MEDIAÇÃO ENTRE
A CONSCIÊNCIA DA REALIDADE E O ETHOS RELIGIOSO.
PORTO ALEGRE: EDITORA DA UFRGS, 2010, 152p.
Carlos Eduardo Machado1
Em a Imagética da Devoção, o antropólogo José Rogério Lopes parte
da cultura material católica para compreender como as imagens religiosas
são utilizadas no cotidiano. Resultado de um longo trabalho que nasce em
1995, quando o autor passa a se interessar pela temática abordada, o livro
versa sobre um amplo conteúdo teórico, histórico e etnográfi co, desenvolvendo
uma profícua discussão sobre a produção, reprodução e o consumo
de imagens na sociedade contemporânea2.
A argumentação central de Lopes (2010, p. 10) é que os sujeitos
pesquisados produzem uma economia das trocas sócio-religiosas a partir dos
diferentes tipos de usos das imagens, em que desenvolvem teias de relações
sociais e passam a ressignifi car a experiência religiosa. O autor vale-se de
ampla carga teórica de áreas como história, sociologia, psicologia e fi losofi a,
somada a uma relevante literatura antropológica que trata da temática da
imagem. Tomando uma abordagem diferenciada de estudos tradicionais que
davam importância secundária aos usos das imagens no entendimento do
fenômeno religioso, o autor privilegia uma perspectiva que reconhece um
caráter duplo à imagem, em que ela encerra em si e no seu uso o registro
de uma presença e de uma ausência simultânea, capaz de promover no
expectador uma apreensão e experiência múltipla da realidade. Deste modo,
1 Graduando em Ciências Sociais – Universidade Estadual Paulista/UNESP. Email:
cadumachado@ymail.com
2 Destacam-se também outras publicações do autor que abordam a temática (LOPES, 2001;
2003; 2007; 2009; 2010), indicando um percurso de intenso trabalho que culmina no
amadurecimento de suas argumentações e resulta em seu livro.
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[...] essa duplicidade característica da imagem circunscreve uma dada
formação sensível do pensamento, uma capacidade de imaginar coisas distintas
dos objetos existentes, como também uma necessidade de visualização,
determinada pela presença dos objetos, pela apreensão de suas propriedades
ou pela ausência de sua manifestação (Lopes, 2010, p. 22).
Esta experiência evoca variados sentidos para os sujeitos. Por isso, Lopes
(2010, p. 24) considera que não se trata somente de ícones, mensagens ou
representações, mas são representações codifi cadas em códigos inteligíveis
e partilhadas socialmente, construindo redes de sentidos que interligam os
sujeitos e movimentam as trocas sócio-religiosas que realizam. Assim, esses
códigos confl uem para estabelecer um campo de interesses socialmente
partilhados pelo grupo e esse campo o autor defi ne como campo da imagética
(Lopes, 2010, p. 28).
O livro divide-se em três partes, com diversos tópicos em cada uma
delas. O autor introduz o leitor discutindo com a literatura escolhida sobre
a temática da imagem, para em seguida conceituar o campo imagético ao
qual pretende se debruçar. Na primeira parte, Lopes aborda o processo de
produção e codifi cação da imagem, em que a partir do imaginário e das
fi gurações que são historicamente construídas, é possível acionar dispositivos
e conotar variados signifi cados, sensações e sentimentos ao receberem
a imagem (Lopes, 2010, p. 30). Embasado principalmente no trabalho
do sociólogo Pierre Francastel (1993), o autor busca articular as propriedades
existentes no momento da criação de um objeto, isto é, a dialética
real-imaginário presentes na ação do artífi ce e no resultado fi nal desse
processo, em que a atividade intelectual e manual constitui três estágios:
o percebido, o real e o imaginário (Lopes, 2010, p. 33). Com isso, Lopes
delimita e conceitua o campo imagético como um
[...] campo extensivo de objetos fi gurativos de uma cultura, ou de uma esfera
mais ou menos autônoma da experiência cultural, que se pode traduzir em
códigos que cristalizam uma problemática do imaginário. Assim como a
imagem adquire especifi cidade segundo seu lugar nas redes de interações
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complexas que constituem a realidade das culturas, a imagética é um campo,
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