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A MEMÓRIA COLETIVA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL

Por:   •  7/12/2018  •  Ensaio  •  4.511 Palavras (19 Páginas)  •  262 Visualizações

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A MEMÓRIA COLETIVA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL

Márcia Maria da Graça Costa[1]

RESUMO

A formação da Identidade cultural, enquanto conjunto de valores que definem o indivíduo e o grupo de pertença, tem sido objeto de discussão de diversos autores que argumentam, inclusive, sobre uma crise de Identidade a partir da globalização e dos seus reflexos nas sociedades modernas. Neste ensaio, o que se pretende é discutir o papel da Memória coletiva para construção da Identidade cultural. O argumento que está sendo considerado é que não há Identidade sem Memória. Para isso, se faz necessária uma reflexão acerca dos conceitos de Memória e Identidade. Além de compreendê-los, busca-se ainda conhecer as associações entre eles, particularmente, preocupando-se com o papel que a Memória exerce na construção das identidades. As reflexões e considerações mostraram que a Identidade, enquanto uma construção em narrativa, e que se desenvolve num processo contínuo, porém, não linear; não pode ser comparado a uma linha reta, pois possui avanços e recuos, mudanças de rumos, idas e vindas. As lembranças são elementos essenciais dessa narrativa, constituindo um alicerce sobre o qual indivíduos e grupos edificam essa construção. A Memória, enquanto uma propriedade que permite conservar lembranças e impressões, atua como elemento essencial na construção da Identidade.

Palavras-chave: Memória. Identidade. Passado. Globalização.

INTRODUÇÃO

Este ensaio, produzido a partir de pesquisas realizadas no Mestrado Interdisciplinar de Ciências Humanas da Universidade de Santo Amaro, aborda um conteúdo relevante para apoiar a dissertação em desenvolvimento, um estudo cujo tema, ‘Lugares de Memória de Santo Amaro-SP’, se propõe a analisar e entender os lugares portadores de uma memória particularmente significativa ao projeto ambicioso de compreender Santo Amaro a partir da Estátua de Borba Gato.

Para que esse projeto se concretize, se faz necessária uma reflexão acerca de diversos conceitos que se entrelaçam para adequada compreensão desses ‘lugares de memória’, dentre eles, destacam-se Memória e Identidade, enquanto eixos centrais de um estudo dessa natureza. Por esse motivo, este ensaio é centrado nesses conceitos. Além de compreendê-los, busca-se ainda conhecer as associações entre eles, particularmente, preocupando-se com o papel que a Memória exerce na construção das identidades.

A formação da Identidade cultural, enquanto conjunto de valores que definem os indivíduos e o grupo de pertença, tem sido objeto de discussão de diversos autores, muitos argumentam, inclusive, sobre uma crise de Identidade a partir da globalização e dos seus reflexos nas sociedades modernas. Neste ensaio, o que se pretende é discutir o papel da Memória para construção de uma Identidade cultural. O argumento que está sendo considerado é que não há Identidade sem Memória.

Uma vez que todo indivíduo tem consciência do seu passado, fazer parte de uma comunidade humana significa assumir uma posição em relação ao passado individual e o da comunidade, mesmo que essa posição envolva não o aceitar ou tentar modificá-lo. Ainda que o passado sofra constantes transformações e que a história seja contestada, a Memória, como propriedade de conservar informações, permite ao homem atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele entende como passadas.

A ausência de um passado conhecido, ainda que modificado, distorcido, transformado ou idealizado, pode ser fonte de grandes problemas de mentalidade ou Identidade coletiva, em especial, pelo fato de a maior parte das sociedades considerar o passado um modelo para o presente. Mesmo considerando as mudanças e inovações as quais o passado é submetido no processo de se tornar presente, em alguma proporção, o passado deve estar registrado na Memória da comunidade.

Por essas considerações iniciais sobre as associações entre Memória e Identidade, é possível captar a relevância de um estudo que proporcione, mesmo que de uma forma sintética, uma visão geral de autores que tratam os temas nessa perspectiva articulada.

Embora este ensaio seja dedicado à associação entre Memória coletiva e Identidade cultural, é importante descrever sinteticamente alguns conceitos associados à Identidade e Memória na sua perspectiva mais ampla. Dessa forma, para avançar na análise da construção da Identidade cultural a partir da Memória coletiva: em primeiro lugar, são apresentadas algumas reflexões sobre Memória a partir dos estudos da Memória histórica e social; depois, são feitas algumas considerações sobre Identidade, inclusive, quanto as identidades que se formam na ambivalência entre o passado e o futuro, na tensão entre o global e o local e na negociação entre o universal e o particular.

Por meio dessas reflexões e considerações, pretende-se demonstrar a articulação entre Memória coletiva e Identidade cultural.

  1. REFLEXÕES SOBRE “MEMÓRIA”

A Memória é muitas vezes descrita como a capacidade de lembrar o passado sem, contudo, ser reduzida a uma reconstrução do passado no presente ou às determinações do passado sobre o presente, pois essa capacidade individual de lembrar está associada a aspectos socioculturais. Até mesmo os estudos biológicos sobre Memória, que procuram localizar no cérebro espaços responsáveis pelo lembrar, têm passado a considerar o fato de que os indivíduos não são isolados, percebendo e compreendendo o mundo ao se comunicarem uns com os outros (SANTOS, 2002).

Estudos interdisciplinares que englobam a psicologia, a psicofisiologia, a neurofisiologia, a biologia e a psiquiatria demonstram que a Memória humana não se limita a reproduzir mecanicamente as lembranças. Concepções mais complexas da atividade da Memória no cérebro demonstram que o processo de Memória humana não apenas resgata, armazena e ordena os vestígios, mas também realiza uma releitura desses vestígios. Outros estudos interdisciplinaridade, nas ciências sociais, também contribuíram para modificar as noções primárias da Memória coletiva a partir da interligação da Psicologia Social, Antropologia e Etno-história, buscando uma História que tenha por base a Memória coletiva considerando também a importância da Memória para a definição das identidades (LE GOFF, 2003).

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