A Produção da Indústria da Moda
Por: juliamp • 7/3/2022 • Resenha • 1.488 Palavras (6 Páginas) • 121 Visualizações
A produção da indústria da moda
Por volta da década de 1920, a estilista Coco Chanel entra para história como uma
das primeiras mulheres a utilizar calça, e décadas depois o uso se familiariza entre a
massa feminina quando as mulheres passam a trabalhar fora de casa. É
irresponsável olhar para essas situações e interpretá-las como apenas uma
preferência de estilo da época, quando elas traduzem uma grande revolução no
papel da mulher durante o século XX. Porém, como explicado por Charles Wright
Mills, em seu livro “A Imaginação Sociológica”, temos a tendência de não estarmos
conscientes da complexa ligação entre nossas vidas e o curso da história mundial, e
por essa razão gostaria de expor alguns tópicos que demonstram como a moda tem
uma influência bastante ampla na nossa sociedade.
Um fator que tem mais visibilidade nos dias de hoje é o padrão de medidas corporais
que a indústria da moda impõe, especialmente nas mulheres. Produzindo roupas
com numerações pequenas, utilizando modelos magras em suas propagandas,
fabricando sapatos estreitos e roupas íntimas pequenas e apertadas, as marcas
reproduzem e conservam a estética magra como sendo a ideal, o que causa uma
série de problemas no dia a dia da mulher. Entre eles, o impacto desse estereótipo
na sua vida sexual, notado por Heilborn em seu artigo “Entre as tramas da
sexualidade brasileira”, onde ela destaca que uma aparência física não considerada
bela pode acarretar em consequências importantes na sexualidade do indivíduo, o
que me leva a citar um estudo publicado na revista científica Obstetrics &
Gynecology que afirma que 92% das mulheres acima do peso afirmam ter uma
história de relações sexuais, comparado com 87% das mulheres com índice de
massa corpórea (IMC) normal, porém, cito essa pesquisa de forma crítica. Ao ler o
artigo de Mauro Serapioni, “Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa social
em saúde: algumas estratégias para a integração”, eu depreendi a necessidade de
informações qualitativas e quantitativas em pesquisas, e nessa da Obstretrics &
Gynecology, noto que a generalização de alguns fatores pode levar a interpretações
equivocadas, como o fato de que “relações sexuais” não especificam se as tais
relações foram consensuais ou não. Uma matéria da revista Fórum expõe relatos de
mulheres vítimas de gordofobia e abusos sexuais, mostrando uma relação do
preconceito com a violência sexual, o que revela a superficialidade em que foi
realizada a outra pesquisa a qual critiquei.
A partir da segunda metade do século XXI, é possível notar uma crescente mais
forte de movimentos como o “Body Positive” (em tradução para o português seria
“corpo positivo”), que consiste no incentivo à aceitação do corpo sem a necessidade
de se enquadrar em um padrão. Como consequência disso, muitas marcas têm
passado a adotar um certo ativismo, passando a produzir roupas com mais
variações de tamanho, a fazer campanhas não só com pessoas brancas e magras e
até mesmo a produzir segmentos sem gênero, o que é uma melhora na postura
dessas empresas, mas não pelo motivo certo. Fazer com sua imagem seja
agradável, chamativa e cheia de identificação é algo crucial quando se trata de
vender algo, e esse fato não é algo que as marcas e lojas de segmento de roupa e
acessórios desconhecem, então em uma sociedade com um ativismo crescente, é
quase óbvia uma resposta das instituições na mesma direção.
Conforme Karl Marx afirmava, o impulso para o lucro faz com que os capitalistas
concentrem os trabalhadores em estabelecimentos cada vez maiores, mantenham
os salários o mais baixo possível e invistam o mínimo possível na melhoria das
condições de trabalho, o que é uma característica quase que geral no mundo pós-
industrial e uma das mais mascaradas quando se trata do processo de produção de
peças de vestuário. A partir de 1970, por conta da crise do petróleo, uma nova
maneira de produzir roupas se iniciou, as empresas têxteis criaram uma estratégia
para sair da crise: o fast fashion (que seria “moda rápida” em português). A dinâmica
do fast fashion consiste em observar quais são as tendências mais vendidas de
marcas renomadas e replicá-las (fazendo poucas alterações) com qualidade inferior
e colocando trabalhadores em péssimas condições, fazendo com que o preço das
peças sejam menores a fim de atrair mais compradores, tudo isso em um período de
tempo curto e de forma acelerada. Há diversos problemas nesse método de
produção, o que mais me choca são as condições em que essas empresas mantêm
seus empregados. Jornadas de trabalho próximas ou até superiores
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