A TEORIA DA GESTALT OU PSICOLOGIA DA GESTALT

A TEORIA DA GESTALT OU PSICOLOGIA DA GESTALT

O todo é mais que a soma das partes

Por Ana Paula Lettieri Fulco

No final do século XIX estudiosos procuravam entender o fenômeno psicológico em seus aspectos naturais. A Psicofísica era a disciplina que os ajudava nesta tarefa.

A psicologia da Gestalt surge na Alemanha em 1912 (com a publicação de Wertheimer), quando o Behaviorismo estava iniciando seu ataque a ordem wundtiana das coisas e contra o funcionalismo e após uma década de surgimento da psicanálise. Para os gestaltistas a percepção, mais que juntar as partes do todo (como era para os behavioristas) acreditam que quando acontecia a soma das partes, um todo novo se formava. Que não estava contido em cada uma das partes. Os gestaltistas acreditam que na percepção há mais coisas que os olhos vêem.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002), Ernst Mach (1838-1916), físico (que falou que as sensações espaço-forma e tempo-forma são independentes de seus elementos, dependem da interpretação (fatores do interior do organismo – ex: fatores de familiaridade e de disposição ou atitude), e Christian von Ehrenfels (1859-1932), filósofo e psicólogo (sugeriu a qualidades de experiências que dependem das interpretações particulares de quem as tem), desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações. Max Wertheimer (1880-1943) (principal fundador da nova escola; estudou a visão do movimento), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941), baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, construíram a base de uma teoria eminentemente psicológica.

Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo seria forma ou configuração. Seus articuladores preocuparam-se em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica forte, que garantisse a consistência teórica.

Os gestaltistas iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento. Eles estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de óticas, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade. Ex: cinema.

A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais dessa teoria. Há um princípio implícito que entre o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo encontra-se o processo de percepção. O que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano.

Na visão dos gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo. Para justificar essa postura, eles se baseavam na teoria do iso-idêntico-morfismo-forma (“a ordem experienciada no espaço é sempre estruturalmente idêntica a uma ordem funcional na distribuição dos processos cerebrais subjacentes”, ou seja, não existe correspondência um-a-um entre o estímulo e a percepção, ao contrário, é a forma da experiência perceptiva que corresponde à forma do estímulo), que supunha uma unidade do universo, em que a parte está sempre relacionada ao todo. Quando se vê uma parte de um objeto, ocorre uma tendência à restauração do equilíbrio da forma, garantindo o entendimento do que se está percebendo. Esse fenômeno da percepção é norteado pela busca de fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõe uma figura.

A Gestalt encontra nos fenômenos de percepção as condições para a compreensão do comportamento humano. A maneira como percebemos um determinado estímulo irá desencadear nosso comportamento.

A Gestalt se diferencia do Behaviorismo e critica essa corrente teórica pois, o comportamentalista despreza a interferência do meio entre o estímulo e resposta.

Quando há o fenômeno de percepção há a interpretação do conteúdo percebido. A tendência da nossa percepção em buscar a boa-forma permitirá a relação figura-fundo. Quanto mais clara estiver a forma (boa-forma), mais clara será a separação entre a figura e o fundo. Quando isso não ocorre, torna-se difícil distinguir o que é figura e o que é fundo, como é o caso da figura ambígua da taça e dos perfis.

O comportamento é determinado pela percepção do estímulo e, portanto, estará submetido à lei da boa-forma. O conjunto de estímulos determinantes do comportamento é denominado meio ou meio ambiente. Há o meio geográfico (o meio físico em termos objetivos) e o meio comportamental (é o meio resultante da interação do indivíduo com o meio físico e implica a interpretação desse meio através das forças que regem a percepção; é o que nos leva a uma interpretação diferente da realidade). Na nossa percepção a tendência a juntar os elementos percebidos denomina-se força do campo psicológico. Esse campo nos leva a procurar a boa-forma em situações que não estão muito estruturadas.

A tendência à boa-forma atende certos princípios de organização da percepção: A forma com percebemos os objetos é unificada e imediata e não aglomerado de sensações individuais. Partes do campo perceptivo combinam-se e esses grupos ou coleções de partes unem-se para formar as estruturas que são distintas do fundo. O processo cerebral primário na percepção visual é um sistema dinâmico em que interatuam elementos: os que estão próximos tendem a se combinar; os que estão distantes ou dessemelhantes não tendem a se combinar.

Proximidade u vizinhança: os elementos mais próximos tendem a ser agrupados.

Semelhança: os elementos semelhantes são agrupados.

Fechamento: ocorre uma tendência de completar os elementos faltantes da figura para garantir sua compreensão.

Prägnanz: Tendência a ver uma figura tão boa (simétrica, simples e estável e que não pode ser mais simples ou mais ordenada) quanto o possível.

A psicologia da Gestalt vê a aprendizagem