A inconstância da alma selvagem - Vivieiros de Castro
Por: jessicavinuto • 30/4/2019 • Resenha • 2.311 Palavras (10 Páginas) • 171 Visualizações
INTRODUÇÃO
O texto estudado chama-se “O conceito de sociedade em antropologia” e é o capítulo 5 presente no livro “A inconstância da Alma Selvagem” de Eduardo Batalha Vivieiros de Castro (1951 - ). Nesse capítulo falamos principalmente de quatro pontos, sendo eles: os dois sentidos “biológicos e simbólico-moral”, as duas concepções “societas e universitas”, as duas antinomias “natureza/cultura e a indivíduo/sociedade”, e por fim pelas duas sociedades “nós versus os outros”. Toda a conceituação de Vivieiros de Castro é seguida também por um ponto sobre “crítica e crise”. Autores como, Durkheim, Comte, Lévi-Strauss, Lauch, Durkheim, e inúmeros outros são usados para fazer a argumentação e enriquecem o conteúdo apresentado no texto original.
Aqui discorreremos a princípio evidenciando condensadamente o que o próprio autor fala sobre os quatros temas supracitados, em seguida falaremos sobre os autores usados e suas argumentações, em terceiro lugar será apresentada uma síntese do ponto “crítica e crise”, e por último, uma conclusão assimilando o conteúdo lido com aquilo visto e ouvido em sala de aula.
1. DESENVOLVIMENTO
Os dois sentidos
Vivieiros de Castro inicia o texto nos dizendo que, num sentido amplo, a sociedade é “uma condição universal da vida humana” a qual está aberta a dois tipos de interpretação: a biológica e a simbólico-moral, sendo, nessa mesma ordem, uma relacionada a questão do instinto e a outra relacionada ao quesito institucional. Quando o autor se refere a instinto ele quer dizer que a sociedade pode ser vista como um atributo básico da natureza humana, ou seja, nossa vida social é pressuposta e predisposta geneticamente, nossa origem e desenvolvimento organizacional dependem da nossa relação com outros indivíduos semelhantes e, o progresso ou evolução da espécie humana, se dão paralelamente ao desenvolvimento da nossa capacitação social, isto é, do desenvolvimento da linguagem e do trabalho diretamente. Já quando o autor se refere a questão institucional ele dizer que, por ser definida por um caráter normativo, a sociedade pode ser vista como aspecto constituinte exclusivo da natureza humana, isso significa, que o comportamento se torna agência social ao se basear menos no instinto do que em regras que permaneceram historicamente e são exteriores ao “corpo” em questão.
Uma solução encontrada para que os dois sentidos pudessem se correlacionar, foi a divisão (ou a polarização) da antropologia em dois aspectos, a etnografia e a teoria. A etnografia, ou também aspecto descritivo-interpretativo, tem por finalidade a análise daquilo que é particular, trazendo à tona os pontos que diferem as sociedades. Já a teoria, ou aspecto comparativo-explicativo, se volta para a formulação de significados válidos para a sociedade como um todo.
As duas concepções
Falaremos agora sobre as duas concepções de sociedade, a societas e a universitas, ou como ficaram conhecidas popularmente, concepções “individualista” e “holística” do social. A individualista está associada aos pensamentos jusnaturalistas, desde Hobbes a Hegel. Essa concepção se inicia no conceito de contrato entre indivíduos, que é precedido pelo desacordo, pela falta de estabilidade, pelo estado de natureza. O contrato é alvo de desejo a partir da necessidade de se fundamentar a ordem política, isto é, implementar a ordem de fato através de normas que irão reger a vida social. Já a holística, bebe na fonte do pré-modernismo, o qual é dominado pelo pensamento Aristotélico:
... se funda na ideia de um todo orgânico preexistente empírica ou moralmente a seus membros, que dele emanam e retiram sua substância: a sociedade é uma unidade corporada orientada por um valor transcendente; ela é um universal concreto onde a natureza humana se realiza. De inspiração particularista e substantivista, seu modelo metafórico (e às vezes causa eficiente) é o parentesco como princípio natural de constituição de pessoas morais coletivas, e seu problema típico é o da integração cultural de um povo enquanto Nação. (VIVIEIROS DE CASTRO, 2014, p. 209)
As duas antinomias
Nesse ponto, Vivieiros de Castro vai falar sobre duas antinomias, que significa, de um modo geral, o conflito entre duas ideias, proposições ou até atitudes, que são ambas críveis, lógicas ou coerentes, mas que não findam num consenso. Nesse caso o autor nos trará as duas antinomias principais das ciências humanas: a natureza/cultura e a indivíduo/sociedade. Esse debate é resgatado por conta dos conceitos de “Sociedade” e “cultura”, que trazem consigo a oposição jusnaturalista de “(estado de) natureza” e “sociedade (civil)”.
Ambas conotam o mesmo dilema teórico, o de decidir se as relações entre os termos opostos são de continuidade (solução reducionista) ou de descontinuidade (solução autonomista ou emergente). A cultura é um prolongamento da natureza humana, exaustivamente analisável em termos da biologia da espécie, ou ela é uma ordem suprabiológica que ultrapassa dialeticamente seu substrato orgânico? A sociedade é a soma das interações e representações dos indivíduos que a compõem, ou ela é sua condição supraindividual, e como tal um “nível”específico da realidade? (VIVIEIROS DE CASTRO, 2014, p. 210)
A problemática se dá no constante cruzamento entre os conceitos, que por sua vez são complexos e cheios de possíveis significados e aplicações. O autor fala sobre o “indivíduo”, que, por exemplo, possui pelo menos um significado empírico universal, o qual seria a unidade exemplar de uma espécie, mas também um sentido cultural particular, isto é, o indivíduo como ênfase da origem e finalidade das instituições sociais. Já a “natureza”, pode ser a oposição entre o mundo palpável e a simbologização do mesmo, pode ser também a oposição daquilo que é inato no comportamento humano e daquilo que foi adquirido, ou aquilo que é espontâneo contra aquilo que é artificial etc.
As duas sociedades
O conceito de sociedade se difundiu no desenrolar da busca por sentido, busca essa que teve inúmeros significados atribuídos por estudiosos ao longo dos tempos. O autor nos fala sobre a “tripartição iluminista entre povos: selvagens, bárbaros e civilizados” (Vivieiros e Castro, 2014) que nada mais é do que a lei de Augusto Comte sobre os três estágios de evolução humana. Porém o autor nos revela que o pensamento que se destacou foi o dicotômico entre universitas
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