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A ordem e as forças profundas na Escola Inglesa de Relações Internacionais – em busca de uma possível francofonia

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Por:   •  2/4/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  5.632 Palavras (23 Páginas)  •  367 Visualizações

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A ordem e as forças profundas na Escola Inglesa de Relações Internacionais – em busca de uma possível francofonia The order and the Deep Forces in the English School of International Relations – In the search of some francophonie

CaRloS HEnRIquE CanESIn*

Introdução

Este trabalho clama por um debate metodológico que revisite a Escola Inglesa de Relações Internacionais, eminentemente uma escola de cunho histórico, com ênfase para a adoção de tal característica como seu locus stand no cenário interpretativo da disciplina de Relações Internacionais. O debate em torno da Escola Inglesa tem sido animado especialmente por um viés bastante crítico em relação à pretensa falta de coerência metodológica desta corrente interpretativa e tem mesmo ecoado certa dose de preconceito pela argumentação fortemente behaviorista de que a constante autovinculação da escola aos autores clássicos do campo e a preferência pelos métodos mais difusos destes a tornariam um empreendimento pouco promissor. Isto seria conseqüência de uma mutação no próprio conceito de ciência gestado durante o decorrer do século XIX nas áreas de ciências exatas e que chega ao campo das ciências humanas e sociais no século XX, desenvolvendo-se com maior rapidez aproximadamente no pós Segunda Guerra Mundial. Tal mudança acabou por gerar um ambiente acadêmico onde as ciências humanas e sociais compartimentam-se em busca de uma formalização crescente de seus corpos teóricos e maior replicabilidade de seus estudos, imitando e adaptando métodos quantitativos utilizados nas ciências exatas – com ampla utilização de métodos estatísticos. A discussão em torno da coerência metodológica da Escola Inglesa tem assim, em grande medida, se dado sobre as mesmas bases das críticas dirigidas às ciências humanas e sociais em geral e às quais estas têm tentado responder com maior ou menor sucesso durante todo o século XX e que se perpetuam mesmo após o movimento pós-modernista e o início do presente século XXI.

Artigo

Rev. Bras. Polít. Int. 51 (1): 123-136 [2008]

* Mestrando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB (canesin@unb.br).

Carlos Henrique Canesin

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No tocante à disciplina de Relações Internacionais, sobretudo em seus desenvolvimentos conectados à Ciência Política, este esforço pode ser observado pela incorporação de métodos quantitativos derivados da economia, como no caso da teoria dos jogos, e por formulações teóricas elegantes como o estruturalismo. É em contraste principalmente com estes desenvolvimentos que Roy Jones (1981) chega a afirmar em seu famoso artigo “The English School of International Relations: A case for closure” que a Escola Inglesa não seria mais do que um pequeno clube de autoproclamados pertencentes à tradição que, no entanto, não partilhariam necessariamente bases ontológicas comuns. Dessa forma, chega Jones a afirmar que a contribuição desta escola à literatura na área seria cada vez mais estéril – chegando a recomendar o abandono de suas linhas de pesquisa na London School of Economics (LSE), apontada pelo autor como o principal centro de convergência dos estudiosos desta linha. Estas críticas têm sido estendidas e periodicamente veiculadas em publicações da área. Chegando recentemente Ian Hall (2001), em um artigo intitulado de “Still the English patient? Closures and Inventions in the English School”, a criticar abertamente a própria historicidade presente nos trabalhos de vários autores vinculados à tradição. O que a grande maioria das críticas, sobremaneira as dirigidas por parte de pesquisadores norte-americanos, à Escola Inglesa têm em comum, no entanto, é um constante erro de foco. A discussão tem sido travada em torno da oposição entre a vinculação buscada pela tradição inglesa a um tipo de produção científica mais clássica e menos compartimentada face à nova concepção ideal e absolutamente normativa de ciência pós-baconiana, que encontrou abrigo em meio à disciplina de Relações Internacionais do outro lado do atlântico. O debate e a crítica são fundamentais ao amadurecimento de idéias e desenvolvimento científico lato senso e, portanto, louváveis quando corretamente empregados. O debate travado a partir de encastelamentos doutrinários, com base em uma normatividade científica, são, no entanto, infrutíferos. Dessa forma, neste artigo se pretende inquerir por um debate em torno da Escola Inglesa com foco objetivo no que a mesma constitui, e finalidades às quais se autodetermina, e não em torno de um dever ser orientado pela opinião de expoentes vinculados a outras correntes interpretativas. A Escola Inglesa de Relações Internacionais é uma escola de base histórica e deve, assim, ser discutida em termos de sua historicidade. Seus métodos, para determinar sua aplicabilidade e efetividade, devem ser comparados e avaliados com vistas a outros métodos que partilham da mesma finalidade – um desenvolvimento em perspectiva histórica da disciplina. Neste sentido, as críticas ontológicas, para uma verdadeira efetividade e mesmo contribuírem para o desenvolvimento da tradição inglesa, devem provir de disciplinas e escolas históricas. É necessário, no entanto, o prévio estabelecimento das bases comparativas para tal empreitada.

a ordem e as forças profundas na esCola inglesa de relações internaCionais [...]

revista Brasileira de polítiCa internaCional

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Esta constatação é o que torna extremamente útil o objetivo deste trabalho. A saber, o estabelecimento de um mecanismo de interpretação de uma das dimensões mais fundamentais das teorizações da Escola Inglesa, o lugar e as tendências da ordem, por meio do arcabouço metodológico desenvolvido por uma consolidada e respeitada escola da Historiografia das Relações Internacionais, a tradição francesa, que tem bases sobretudo nos trabalhos de Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle (1967; 1994; 2002). Por trás da clara distinção observada na historiografia inglesa de relações internacionais entre os conceitos de “sistema internacional” e “sociedade internacional”, alicerçando tais conceitos tão caros a esta interpretação histórica particular, está o conceito de ordem. Seja ela imediata e hierárquica como nos sistemas imperiais ou mesmo anárquica, sem um centro específico de poder, como no sistema europeu emergente pós-westfália, a ordem é uma característica necessária aos sistemas internacionais

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