AS HERANÇAS INDÍGENAS NA FORMAÇÃO DOS CAIPIRAS
Por: deodoro.ribas • 12/12/2017 • Artigo • 4.444 Palavras (18 Páginas) • 265 Visualizações
Artigo para a disciplina Interpretações do Brasil – UFABC
HERANÇAS INDÍGENAS NA FORMAÇÃO DOS CAIPIRAS:
Um novo olhar
Deodoro Ribas Neto 13201712913
Rafael Costa e Silva 11020211
São Bernardo do Campo
2017
RESUMO
O presente trabalho se dedica a apresentar e inferir as características dos povos da Paulistânia os caipiras, a herança cultural e a práxis herdade pelos seus diversos formadores, como os bandeirantes paulistas e os mamelucos nascidos na vila Santo André da Borda do Campo descendentes de João Ramalho, um dos primeiros portugueses a se indigenizar, o qual através da instituição indígena do cunhadismo foi capaz de preservar o esforço colonial português em terras brasileiras, se tornando um dos patriarca dos mamelucos paulistas. Tal proximidade com o modo e a organização social indígena deixará profundas marcas e evidências nas populações caipiras, tais marcas muitas vezes são interpretadas como heranças lusitanas nessas populações, o artigo se esforça em evidenciar as raízes indígenas dessas marcas e a propor uma nova interpretação da formação dos povos da paulistânia.
Palavras-Chave (Bandeirante, Caipira, Indígena, Mameluco, Paulistânia).
- INTRODUÇÃO
Antônio Cândido de Mello e Souza professor aposentado de teoria literária da USP, por meio da série Intérpretes do Brasil, apresenta-nos uma das faces da formação do povo brasileiro, o caipira, que segundo Darcy Ribeiro em seu livro O Povo Brasileiro, a formação e sentido do Brasil, é responsável ao lado do sertanejo, caboclo, crioulo e os sulistas, pela formação daquilo que hoje chamamos de brasileiro e constitui um só povo que dá sentido ao Brasil. O caipira é um tipo de homem rural brasileiro, porém é comum as pessoas chamarem aqueles que vivem em zonas rurais de cidades do interior de caipira de forma pejorativa, entretanto não é desse caipira que Antonio Candido se refere em seus estudos sobre o tema.
O caipira como um tipo de homem rural brasileiro é fruto da evolução histórica de um grupo social radicado na Paulistânia, que podemos definir como sendo a área do atual estado de São Paulo, grande parte dos estados de Goiás, Mato grosso, Minas Gerais e Paraná, sua origem está ligado a trajetória dos bandeirantes, que tinham como missão o desbravamento dos sertões a fim de buscar riquezas, escravizando indígenas adentrando pelo território até então desconhecido. Antonio Candido mostra como se deu a origem do mameluco ou do brasilíndio como denomina Darcy Ribeiro.
A história dos mamelucos ou brasilíndios no futuro território da paulistânia, tem início com a fundação do povoamento de Santo André da Borda do Campo de Piratininga por volta de 1550 com a figura central de João Ramalho um português que dará início a um novo tipo de relacionamento entre os indígenas locais e os portugueses invasores, tal relação já era praticada pelos indígenas entre si e ficará denominada como cunhadismo.
A formação do povo brasileiro se deu com a miscigenação de diferentes grupos étnicos e culturais que hoje formam o Brasil. Ao longo dos anos vários pensadores dedicaram-se a elucidar a origem e formação dessas matrizes, entre elas o caipira. Com o objetivo de consolidar uma identidade nacional, os trabalhos realizados sobre a temática, tratavam como principal matriz étnica da formação do caipira o português. Este trabalho propõem um outro olhar sobre a formação etnocultural do caipira, destacando as características e práxis indígenas carregadas pelo caipira, as quais muitas foram “aportuguesadas’, depreciadas ou ignoradas na produção acadêmica do século XX, como descreve Zuquim(2002) no trecho a seguir,
Uma das linhas mais importantes de interpretação do homem rural, que estavam na origem dos novos estudos dedicados à “realidade brasileira”... foi a idéia de que a mestiçagem era nociva e retardava o progresso do povo brasileiro, uma vez que o mestiço seria sempre racial e fisicamente desequilibrado. Daí a explicação corrente na época de que o meio rural era atrasado e conservava costumes arcaicos, por ser povoado por mestiços inaptos para evoluir em termos socioeconômicos, idéia que não tinha qualquer base de sustentação científica e contra a qual se manifestaram os novos cientistas sociais.
ou como neste outro trecho,
Seguiram-se as interpretações de Monteiro Lobato,55 que começam a aparecer nos anos 10, e que influenciaram as elites do país, a partir, sobretudo, da figura do Jeca Tatu e da imagem distorcida do caipira que divulgava, apesar da riqueza das observações do autor. Nos primeiros relatos, Lobato retratava o caipira como um piolho da terra, espécie de praga incendiária que atiçava fogo à mata e destruía as riquezas florestais, para plantar seus pobres roçados.
Utilizando como base os livros O Povo Brasileiro, a formação e o sentido do Brasil de Darcy Ribeiro, Os Parceiro do Rio Bonito de Antonio Cândido, Caminhos e Fronteiras de Sérgio Buarque de Holanda e Negros da Terra, índios e bandeirantes nas origens de São Paulo de John Manuel Monteiro, discutiremos as influências dessas obras e suas conclusões sobre a interpretação do caipira.
2. DISCUSSÃO
2.1 A Origem do Paulista
2.1.1 João Ramalho e a vila de Santo André da Borda do Campo
A história do paulista, começa lá no passado, mais precisamente com a fundação da vila e instituição da capitania hereditária de São Vicente(1532) por Martim Afonso de Sousa (LANÇA, 2015), posteriormente transpondo a serra de Paranapiacaba que anos mais tarde proporcionou a Jesuítas fundar a vila de São Paulo, sem antes o patriarca dos paulistas, João Ramalho fundar a vila de Santo André da Borda do Campo(PEREZ, 2010).
A sede do atual município de Santo André não encontra-se localizado no mesmo local da Vila de Santo André da Borda do Campo, porém defini-lo como possuindo sua origem na vila quinhentista é de suma importância para centralizar, tanto o município quanto seu fundador como personagens indispensáveis para a formação do paulista, como podemos ver no seguinte trecho de Perez (2010),
A escolha da vila como a origem para a cidade atual foi motivada pela busca da mais antiga referência no período da américa portuguesa na região da atual cidade e ela recaiu sobre a vila de Santo André da Borda do Campo, cujo nome coincide como o do distrito de Santo André, criado em 1910, para onde a sede da vila mudou-se em 1938.
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